O mistério da geladeira

Em férias na praia!

Num apartamento novinho em folha emprestado graciosamente pela minha irmã.
Estava com meu idoso pai. Só curtindo, relaxando e jogando buraco.

O apartamento era tão novo e tudo estava tão limpíssimo, quando cheguei, que cheirava a flores.
Explico: deveria ter um odorizador, com timer que periodicamente lança perfume nos ambientes. Procurei pelo teto, mas não achei o aparelho e nenhum buraco de onde o cheiro vinha.

Aquelas camas grandes, altas e modernas... Ainda bem que achei um colchão dentro de um armário e dormia no chão de uma das suítes, assim não precisaria nem arrumar a cama.

Apartamento todo modernoso. Cheio das traquitanas eletrônicas, que eu não curto muito não.

Afinal meu negocio são coisas simples, de um baixista pedreiro, que se amarra num Precision pois tem só 2 botões pra fazer “regulagem”.
Um ampli GK que tem também poucos botões.
E daqueles que é só rodar: pra direita aumenta e pra esquerda diminui.
Simples.

Nada dessas coisas eletrônicas tipo “touch screen” cheios de led e barulhos.

Também descobri fácil como ligar a TV. Já achar os canais naquele monte de opções de TV de assinatura era um pouco mais complicado, mas... Eu assistia pouco a TV, afinal, contemplar o belo mar e as pessoas passeando no calçadão da sacada já era uma benção!

Comprei um belo pote de sorvete no caminho e assim que cheguei fui para a cozinha toda equipada. Abri a porta da parte do frizzer da geladeira e coloquei o sorvete.

Como era bom pegar um pouco de sorvete, ir para a varanda, descer para a praia... dar um mergulho, voltar, tomar um banho e pegar mais um pouco de sorvete.

Enfim: um Paraíso na Terra!

Até que numa noite quente (detesto ventilador e ar condicionado, principalmente desses cheios de botões e led para programar...) levanto do colchão lá pelas 4 da manhã e vou beber o primeiro gole de água gelada.

Como a lua estava generosa, valorizando a penumbra de nosso lindo litoral, não acendi a luz para não quebrar o encanto noturno...

Na cozinha abro a parte de refrigeração da geladeira pela primeira vez e cadê a jarra de água? Cadê aquela tão conhecida jarra de vidro em forma de abacaxi, com a tampa verde imitando a coroa?
Tinha que apertar algum botão, em algum lugar, para cair água gelada direto no copo. Mas olhando as figuras, foi fácil.

Tomo o último gole e fecho a porta. Somente ai, depois de uns 3 dias, naquela penumbra, percebo que tem um monte de led e botões coloridos na porta da geladeira.

Tranqüilo e despreocupado, passo de forma inocente o dedo sobre as luzinhas, como um menino fascinado por um calendoscópio colorido.

A resposta da geladeira é surpreendente e intimidadora: começam a piscar os milhões de Leds e começa tudo quanto é som de alarme tocar ao mesmo tempo.

A adrenalina sobe numa fração de segundo e saio correndo de volta pro quarto, deito, cubro a cabeça com o lençol, e fico quietinho, sem mover um músculo sequer, esperando a geladeira parar com aquele escândalo.

No dia seguinte, pé ante pé, vou para a cozinha morrendo de medo: como estaria a geladeira?

Ela estava quieta! Tudo apagado e sem aquela zoeira de alarmes tocando.

Problema resolvido, pensei.

Mais tarde quando fui pegar o sorvete, ao enfiar a colher percebo que o sorvete estava mais duro que o granito da pia.

Estava tudo super congelado! Até na parte de refrigeração, tudo tinha virado gelo.
Nem água gelada, que eu já sabia como pegar, saia daquele monstro de aço branco.

Nunca mais entrei naquela cozinha, afinal, tinha um padaria lá embaixo e era só pedir água gelada para o garçom. Pena que o sorvete sorvido aos poucos ao longo dia deixou de ser um prazer refrescante. Era impossível tirar um simples pedaço de dentro do pote!

15 dias depois, já na minha velha e aconchegante casa, com minha geladeira que trouxe lá dos tempos de minha “república” de estudante (esse ano faz 30 anos que já estou formado) sou surpreendido pela minha esposa:
___Joguei aquele museu fora, que você chama de geladeira e comprei uma nova!

Sai correndo para a cozinha, p... da vida, me sentindo traído e já tendo saudades de minha velha geladeira companheira refrescante de toda uma vida.

Imaginem meu desespero: é o mesmo modelo da geladeira de minha irmã!!!

Quá, quá, quá... LMAO.



Muito bom, Maurício... Já pensou em escrever mais crônicas e reuní-las num livro? Eu compraria...

Sei exatamente como é isso Maurício!

Ainda uso os velhos monitores CRT no meu computador, e enquanto eles existirem e eu conseguir comprar usados, continuarei usando!

Odeio esse consumismo tecnológico exagerado! Odeio mesmo!

Alguns amigos meus sacrificariam a vida pela Google ou Apple!

Tenho um PSP (Playstation Portable), que uso unicamente para jogar clássicos emulados de Mega Drive e Neo Geo no ônibus indo trabalhar!

Penso que temos que dominar a tecnologia e não deixar que ela nos domine!



Tópico bacana! Parabéns! Rs!

Meu amado PAI há us anos atras recebeu meu irmão no seu escritório de advocacia para um conversa informal.
No meio do papo, meu irmão caçula, do alto dos seu trocentos diplomas, e pós, e etc...
Realmente ele é um farmacêutico muito bem conceituado na área onde milita (gerentão de multinacional)
Me solta essa pérola:
Poxa pai o sr ainda usa máquina de escrever srsrsr
(na época ainda dava/uns 10 anos atrás)
Hoje sofridamente o coroa aprendeu usar o word, para petições e afins.
Notem; estamos falando de um sr de quase 80 anos.
Meu pai que também é muito bom na sua área, respondeu rapidamente:
- ESSA MÁQUINA CRIOU VOCÊS TODOS ...
Nunca ri tanto na minha vida ...
Sem saudosismo nem resistências a modernidade, devemos sempre respeitar e apreeeeeeeender o legado das gerações anteriores.
Isso inclui a forma como as mesma interagiam, e usavam as tecnologias disponíveis dentro de determinado contexto.
Sempre respeitei muito os mais velhos.

Cara, na boa.

Só ler o manual.

Ri muito aqui.
Maurício sempre com excelentes textos.

Grande Maurício e suas crônicas fantásticas!!

Muito bom.

Desculpa colega (nem sei sua idade) mas quando o controle da tv parece ter muitos botões indecifráveis, o fogão passa a ser esquisito (diferente de só se acender um foguinho), a geladeira passa a fazer parte dos pesadelos noturnos, já não se sabem mais quais as redes sociais existentes, como liga o farol/lanterna/limpador de pára-brisa o num carro contemporâneo acho que já está Com todo repeito, hiem ( )

Mas como já foi dito, nada que um manualzinho de vez em quando não resolva. Mas cá entre nós e se serve de consolo, eu mesmo já não consigo entender mais nada numa roda quando ouço pessoas de uns 25 anos pra baixo conversando. E tenho que assistir um filme atual umas 3x para entendê-los também.


A, todo celular deveria vir assim:

kkkkkkkkkk!!!!!

adorei a crônica, parabéns!

Muito bom o texto Maurício !
Mas relaxa, nada que uma boa lida no manual de instruções não resolva...

Geladeira? Você ainda não está usando o processo criogênico dos vórtices das supercordas? Está na moda!

Belo texto, Mauricião!!

Grande Maurícião , já está na hora de lançar um livro de crônicas.

^Ótimo texto, Maurício!
Pelo menos, você vai poder fazer novas experiências com sorvete na geladeira nova, hahaha!