Sobre a "Paleo Diet"
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Cayo Castro
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Sobre a "Paleo Diet"
Estava procurando algo sobre nutrição na internet e encontrei esse estilo de nutrição. E achei bem interessante. Remonta nossos primórdios como simples hominídeos caçadores, e parando pra pensar tem lá sua fonte de razão.
O que é?
Como funciona?
Obtendo energia sem carboidratos?
Laticínios?
Baseando-se em nosso passado, historicamente e biologicamente, o que vocês acham?
O que é?
Paleo Diet é um tipo de dieta que advoga que deveríamos nos alimentar como nossos antepassados de longa data, aqueles que viveram antes da descoberta da agricultura. Isso quer dizer mais ou menos entre os anos 9.000 e 7.000 antes de Cristo.
Na prática, neste tipo de dieta você só pode comer aquilo que pode caçar ou encontrar na natureza: carnes, ovos, frutas, folhas, tubérculos, sementes, nozes, castanhas. Ficam de fora obviamente os produtos industrializados e carregados de açúcar, gordura trans e aditivos químicos, mas ficam ausentes também alimentos que tradicionalmente são classificados como saudáveis, como cereais (arroz, trigo, milho) e leguminosas (feijão, lentilha, amendoim, grão de bico).
A Paleo Diet tornou-se popular na década de 1970 com o médico Walter L. Voegtlin. Mais recentemente, ganhou impulso com as pesquisas do dr. Loren Cordain, autor do livro The Paleo Diet, mestre em Fisiologia do Exercício pela Universidade de Nevada-Rento e doutor em Fisiologia do Exercício pela Universidade de Utah.
Esta dieta tem feito bastante sucesso por dois motivos: primeiro, você não precisa contar calorias ou quantidades de alimentos. Segundo, o resultado para perda de gordura e ganho de massa muscular é impressionante.
Como funciona?
Loren Cordain explica que nossos antepassados, antes da Revolução Agrícola, eram altos, fortes, ágeis e atléticos. Eram capazes de caçar grandes animais, percorrer grandes distâncias a pé e sobreviver em condições adversas.
Depois que dominamos a agricultura – provavelmente o fato mais importante da história da humanidade – começamos a enfrentar dificuldades de saúde, de energia e vimos surgir uma grande quantidade de novas doenças. A situação piorou bastante nas últimas décadas, com os alimentos industrializados.
O problema, segundo o pesquisador, é que nosso corpo nunca se ajustou apropriadamente para consumir tantos grãos e carboidratos refinados. Para um melhor entendimento: se a história da humanidade tivesse apenas 100 anos, nos 95 primeiros anos seríamos caçadores e somente nos últimos 5 anos passamos a agricultores. A conclusão é que estaríamos nos alimentando e vivendo como agricultores, mas nossos corpos ainda são adaptados para o estilo de vida anterior.
Observe como a alimentação moderna é baseada em grãos: trigo, arroz, milho e tudo o que é derivado de cereais (bolo, biscoito, pão, macarrão, salgadinho, empada, panqueca, crepe etc.).
Os defensores afirmam que a Paleo Diet é um esforço em voltarmos a nos alimentar da maneira como somos geneticamente preparados para comer.
Obtendo energia sem carboidratos?
Quem conhece um pouco de nutrição deve ter reparado que nos alimentos permitidos na Paleo Diet (carnes, ovos, frutas, folhas, tubérculos, sementes, nozes e castanhas), praticamente só temos as frutas e tubérculos como fontes de carboidratos. Isso explica boa parte do sucesso da dieta com perda de gordura, repetindo os resultados já atingidos por outras dietas com restrição de carboidratos, como a Atkins ou South Beach.
A diferença aqui é que os pesquisadores da Paleo Diet – sobretudo Loren Cordain e Robb Wolf – afirmam que não há exatamente diferença entre o que os nutricionistas tradicionais chamam de “bons carboidratos” (frutas, pães integrais, arroz integral etc.) e os “maus carboidratos” (açúcar e cereais refinados, como arroz branco e todos os derivados de farinha de trigo).
Para eles, qualquer tipo de carboidrato vai ser digerido pelo organismo, que só pode absorvê-los em forma de glicose. E o consumo excessivo de glicose significa uma energia extra que não vamos utilizar (sobretudo com um estilo de vida bem mais sedentário do que antigamente). Energia extra não utiliza é armazenada no organismo sob a forma de gordura, como explicado no vídeo a seguir:
Não estamos gordos por conta do consumo excessivo de gordura e sim por conta do consumo excessivo de carboidratos. Se você lê em inglês, leia esta matéria da Discover que explica porque populações com uma dieta baseada em gordura e proteína não é gorda como boa parte da civilização ocidental.
Boa parte dos livros sobre Paleo Diet preocupa-se em explicar o ponto mais polêmico da dieta, que é a exclusão dos grãos. Segundo os citados autores, há dois grandes problemas:
A intolerância de boa parte dos humanos ao glúten (proteína encontrada em grãos como trigo, cevada e centeio – e por consequência em todos os alimentos que derivam desses cereais), o que gera a chamada Doença Celíaca; e
As lectinas presentes nos grãos, que danificam nosso sistema digestivo, prejudicando a absorção de nutrientes.
Sem grãos, sem açúcar e sem nenhum tipo de alimento processado, a Paleo Diet dá um grande passo para uma vida mais saudável.
Os carboidratos são conhecidos por serem a principal fonte de energia vinda da alimentação moderna. Robb Wolf explica, em The Paleo Solution, que nossos corpos são preparados para atuar com bem menos carboidratos do que passamos a consumir depois da Revolução Agrícola.
Uma fato citado pelo autor é o fato de – diferente das proteínas e gorduras – não existirem carboidratos essenciais. Se não houver carboidratos disponíveis, nosso organismo é capaz de obter energia utilizando a gordura como combustível. Isso significa queimar essas reservas que nós acumulamos sobretudo na cintura, por meio de um processo conhecido como cetose.
É importante destacar que a Paleo Diet não é uma dieta de restrição de carboidratos, como a Atkins. Só que, com base nos alimentos permitidos, você naturalmente vai passar a ingerir bem menos carboidratos do que a média da sociedade moderna. E, quando consumir, esses carboidratos virão de fontes naturais como frutas e batata doce, que também contêm fibras, vitaminas e minerais.
Os pesquisadores e quem já experimentou a dieta afirmam que você se sentirá muito mais disposto, com muito mais energia, quando abandonar alimentos com antinutrientes, como açúcar e farinha refinada.
Laticínios?
Em relação ao leite e seus derivados, como queijo e ricota, a Paleo Diet também não estimula o consumo. Nenhum animal no planeta bebe o leite de outro animal, com exceção de nós, humanos. Isso deveria ser uma pista da natureza sobre o que deveríamos estar fazendo.
Por outro lado, o leite contém boa dose de proteínas, gordura e micronutrientes e não tanto de carboidratos. Então um pequeno consumo, do ponto de vista nutricional, não será contraprodutivo para um objetivo de perda de gordura e ganho de saúde.
Baseando-se em nosso passado, historicamente e biologicamente, o que vocês acham?
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" O homem que dá a sentença, deve brandir a espada."
Cayo Castro- Membro
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Re: Sobre a "Paleo Diet"
Eu li uma matéria sobre isso na Superinteressante. A idéia é até válida, faz sentido... mas pra quem depende de fazer refeições diárias na rua, é uma dieta meio complicada de manter.
Além do que, tirar a pizza e crepe de chocolate com crocante do cardápio não é nada legal!
Além do que, tirar a pizza e crepe de chocolate com crocante do cardápio não é nada legal!
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Claudio- Membro
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Re: Sobre a "Paleo Diet"
É uma dieta bastante conhecida e seus praticantes geralmente ficam muito satisfeitos com o resultado.
Feita corretamente, é uma dieta saudável, que previne a diabetes e até crises epilépticas, além dos problemas relacionados ao glúten.
A parte que fala que o ser humano era rápido, ágil e grande caçador é que é meio fictícia. O ser humano era um dos piores caçadores da antiguidade e geralmente seguia animais mais fortes como leões e tigres para se alimentar de restos deixados por esses predadores. Se nós não tivéssemos desenvolvido a tecnologia e a caça em grupo, já teríamos desaparecido do planeta faz muito tempo.
Feita corretamente, é uma dieta saudável, que previne a diabetes e até crises epilépticas, além dos problemas relacionados ao glúten.
A parte que fala que o ser humano era rápido, ágil e grande caçador é que é meio fictícia. O ser humano era um dos piores caçadores da antiguidade e geralmente seguia animais mais fortes como leões e tigres para se alimentar de restos deixados por esses predadores. Se nós não tivéssemos desenvolvido a tecnologia e a caça em grupo, já teríamos desaparecido do planeta faz muito tempo.
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allexcosta- Administrador
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Re: Sobre a "Paleo Diet"
Isso é verdade. Aquela idéia de homem primitivo robusto que nem o Arnold pulando em mamutes com uma lança é mítica. Inclusive, já li que o ser humano nunca esteve no topo da cadeira alimentar, muito pelo contrário, sempre foi a caça. Principalmente, quando "descemos das árvores" ou "saímos das florestas" e começamos a explorar e fixar-se em campo aberto. Mas há de convir que, o ser humano pré-histórico é bem mais forte ( preparado pra intempéries da natureza ) do que o homem atual. A evolução nos fez fracos.
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Cayo Castro- Membro
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Re: Sobre a "Paleo Diet"
Se puder leia o livro O dilema do onívoro.
Tem um capitulo no final sobre essa concepção e passeia por varias modas como orgânicos e etc... é bem interessante para se repensar nossos hábitos alimentares.
http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/1978225/o-dilema-do-onivoro
O DILEMA DO ONIVORO:UMA HISTORIA NATURAL DE QUATRO REFEIÇOES
Michael Pollan. Rio de Janeiro: Intrínseca. 2007
O que devemos comer no almoço? Este livro é uma resposta longa e complexa para esta pergunta aparentemente simples. Ao longo do caminho o autor explica as implicações desta questão, e discute como uma questão tão simples pôde tornar-se tão complicada. As prateleiras de um supermercado, estágio final da cadeia alimentar contemporânea, são o ponto de partida escolhido pelo autor para começar a responder esta questão. O leitor é convidado a seguir o caminho inverso, reconstituindo o trajeto dos alimentos, desde o prato à nossa mesa até a origem de tudo: o solo. Quanto mais longo e intrincado é o percurso que liga as duas pontas dessa cadeia altamente industrializada, mais ignorantes nós nos tornamos a respeito do que estamos comendo.
Por que é cada vez mais complicado decidir o que almoçar? Os alimentos atualmente são vendidos apenas com base em seus benefícios para a saúde: um é capaz de reduzir seu colesterol, outro tem muitas fibras. Os nutrientes tornaram-se mais importantes que a comida em si, e o alimento tornou-se apenas um intermediário na entrega destas substâncias. Assim, escolher o que comer tornou-se uma decisão para profissionais, e não para amadores. Tem-se a impressão de que é necessário ter um diploma de nutrição ou bioquímica para tal escolha!
Afinal, que mistérios estão por trás de uma bolacha industrializada, de um hambúrguer, ou de um simples item de um cardápio de fast-food, como, por exemplo, um McNugget? Para responder a essa e outras perguntas, o autor leva o leitor a explorar, não apenas intelectualmente, mas sensorialmente, todas as implicações - éticas e ecológicas, econômicas e políticas - relacionadas ao ato de se produzir e consumir um alimento. O resultado da investigação é um misto de reportagem, ensaio e depoimento pessoal, numa obra que surpreende ao revelar que a aparente variedade dos modernos supermercados esconde uma alarmante uniformidade imposta pela superprodução industrial. Para chegar a um diagnóstico sobre o que considera a atual desordem alimentar, Michael Pollan investiga três mundos diferentes: o do cultivo e produção de alimentos em escala industrial, o do florescente negócio da agricultura orgânica (analisando o que tem de promissor e de enganoso), e o mundo ligado à caça e ao extrativismo. Neste último, ensaia uma volta à atividade primeira do Homo sapiens, o onívoro por natureza que todos nós somos.
Observamos que há cada vez mais produtos disponíveis nas prateleiras dos supermercados, criando a impressão de que temos mais tipos de comida disponíveis. Pollan explica que é fato que atualmente podemos encontrar diferentes frutas e vegetais do mundo todo num bom supermercado, muito mais do que encontraríamos cinqüenta anos atrás. Mas, ao analisar as fontes de calorias, nota-se que a nossa dieta está menos diversificada. Mais de dois terços das calorias consumidas diariamente vêm de apenas quatro vegetais cultivados em escala mundial e com grandes interesses econômicos: milho, soja, trigo e arroz. Há um século atrás, havia maior diversidade. Esta aparente diversidade no supermercado obscurece a realidade de que a diversidade de nossa dieta vem encolhendo.
Alimentos altamente industrializados são hoje a base da "dieta ocidental", que domina os Estados Unidos da América e se espalha pelo mundo. Nos últimos anos, a indústria vem lançando alimentos que supostamente seriam menos nocivos. Pollan denuncia essa manobra de marketing, que explora o medo dos consumidores para vender produtos de valor duvidoso. E lança um manifesto que propõe a volta à alimentação tradicional, orgânica e saudável dos nossos avós. Ele dá dicas de como qualquer um pode se alimentar com “comida de verdade”, em vez dos produtos artificiais da indústria alimentícia.
Pela primeira vez na história da humanidade, há mais pessoas obesas do que famintas no mundo. Os acima do peso respondem hoje por 1 bilhão da população mundial, diante de 800 milhões que passam alguma forma de privação na alimentação. As causas principais são más dietas e sedentarismo. Não ficamos fora desta estatística. O Brasil nunca foi tão gordo. Os brasileiros com massa corpórea superior à considerada normal já somam 43 milhões – o equivalente a 43% da população adulta, quase três vezes mais do em meados da década de 1990. Por conseqüência, a quantidade de pessoas em dieta para emagrecer também é enorme: 25% dos homens e 50% das mulheres. É um público propenso a acreditar em regimes que se vendem como capazes de operar metamorfoses na silhueta do dia para a noite, sem prejudicar a saúde.
Verifica-se atualmente uma obsessão em obter os nutrientes corretos, em alimentar-se de maneira saudável, e uma percepção errônea de que basta comer a comida correta que tudo estará bem com você e o mundo todo. Precisamos voltar a nos preocupar em conhecer toda a cadeia produtiva dos alimentos e não ficarmos obcecados com alguns nutrientes. A manutenção da saúde deve ser apenas uma conseqüência, e não o objetivo de comer bem. De forma geral devem ser aplicados cinco princípios éticos para uma escolha consciente na hora das refeições: transparência, equilíbrio, humanidade, responsabilidade social e necessidade.
Há ainda as implicações econômicas e políticas. Este livro é um importante alerta para um Brasil que se pretende transformar numa Arábia Saudita dos biocombustíveis. A afirmação de que não haverá necessidade de desmatamento para a produção e a exportação de grandes quantidades de biodiesel se baseia na avaliação de que grandes áreas de pastagens podem ser convertidas para monoculturas de oleaginosas com um pouco de modernização de nossa agricultura. Nos EUA, são necessárias duas calorias de fertilizantes sintetizados a partir do petróleo para produzir uma caloria de milho. E como o gado bovino é alimentado com milho, quase um barril de petróleo é consumido para cada animal abatido. Os excedentes da produção de milho estão na origem tanto da abundância quanto da obesidade. Os subsídios governamentais são enormes, o alimento industrializado tem preços baixos, mas dão origem aos altos índices de obesidade que custam algo em torno de 90 bilhões de dólares por ano em despesas médicas. Ou esses excedentes atravessam a fronteira do México, onde acabam com os pequenos produtores, aumentando a oferta e reduzido os preços.
Toda uma complexa cadeia de interesses gira em torno da produção de milho, impedindo que cessem os subsídios. A insensatez do agronegócio é objeto de uma análise que revela a importância de saber como se estrutura a indústria dos alimentos que chegam diariamente às nossas mesas. Há ainda a história dos outros três vegetais cultivados em escala mundial.
A industrialização dos alimentos mudou nossa relação com a comida. Como consumidores estamos desorientados, e não sabemos mais de onde vem nossa comida. A cadeia é tão grande que muita criança pensa que a comida vem do supermercado, que o leite vem da caixinha Tetra Pack. Muitas crianças hoje não entendem que a cenoura ou a batata são raízes. A indústria alimentar nos desconectou do fato de que para sobreviver dependemos de outras espécies, com as quais compartilhamos o planeta. Assim, nós entregamos a preparação dos alimentos para empresas de grande escala. Isto pode ser conveniente, porque nos faz ganhar tempo, mas estas empresas não cozinham bem: usam muito sal, gordura e açúcar, e logo a comida se torna altamente calórica e não tão nutritiva.
Em conseqüência nos tornamos mais vulneráveis. Somos vítimas mais fáceis das manipulações dos alimentos fast-food e das propagandas de dietas milagrosas. É uma das razões pela qual temos tantos problemas de saúde relacionados à alimentação. Não confiamos mais em nossas tradições, não sabemos mais como cozinhar. Precisamos tomar de volta a decisão sobre nossas escolhas alimentares e sobre a preparação das refeições. O livro segue por caminhos fascinantes e sua leitura nos faz perguntar se é isso mesmo que queremos para nossa vida.
Credenciais do autor
Escritor e jornalista estadunidense Michael Pollan é colaborador do New York Times Magazine. É professor de jornalismo na University of California, Berkeley, onde dirige o Programa de Jornalismo Científico e Ambiental. É autor de artigos polêmicos sobre a indústria alimentar. Recentemente lançou seu novo livro, In Defense of Food (Em Defesa da Comida), ainda sem tradução no Brasil.
Fonte:
http://consumosolidario.blogspot.com.br/2009/01/o-dilema-do-onivorouma-historia-natural.html
Tem um capitulo no final sobre essa concepção e passeia por varias modas como orgânicos e etc... é bem interessante para se repensar nossos hábitos alimentares.
http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/1978225/o-dilema-do-onivoro
O DILEMA DO ONIVORO:UMA HISTORIA NATURAL DE QUATRO REFEIÇOES
Michael Pollan. Rio de Janeiro: Intrínseca. 2007
O que devemos comer no almoço? Este livro é uma resposta longa e complexa para esta pergunta aparentemente simples. Ao longo do caminho o autor explica as implicações desta questão, e discute como uma questão tão simples pôde tornar-se tão complicada. As prateleiras de um supermercado, estágio final da cadeia alimentar contemporânea, são o ponto de partida escolhido pelo autor para começar a responder esta questão. O leitor é convidado a seguir o caminho inverso, reconstituindo o trajeto dos alimentos, desde o prato à nossa mesa até a origem de tudo: o solo. Quanto mais longo e intrincado é o percurso que liga as duas pontas dessa cadeia altamente industrializada, mais ignorantes nós nos tornamos a respeito do que estamos comendo.
Por que é cada vez mais complicado decidir o que almoçar? Os alimentos atualmente são vendidos apenas com base em seus benefícios para a saúde: um é capaz de reduzir seu colesterol, outro tem muitas fibras. Os nutrientes tornaram-se mais importantes que a comida em si, e o alimento tornou-se apenas um intermediário na entrega destas substâncias. Assim, escolher o que comer tornou-se uma decisão para profissionais, e não para amadores. Tem-se a impressão de que é necessário ter um diploma de nutrição ou bioquímica para tal escolha!
Afinal, que mistérios estão por trás de uma bolacha industrializada, de um hambúrguer, ou de um simples item de um cardápio de fast-food, como, por exemplo, um McNugget? Para responder a essa e outras perguntas, o autor leva o leitor a explorar, não apenas intelectualmente, mas sensorialmente, todas as implicações - éticas e ecológicas, econômicas e políticas - relacionadas ao ato de se produzir e consumir um alimento. O resultado da investigação é um misto de reportagem, ensaio e depoimento pessoal, numa obra que surpreende ao revelar que a aparente variedade dos modernos supermercados esconde uma alarmante uniformidade imposta pela superprodução industrial. Para chegar a um diagnóstico sobre o que considera a atual desordem alimentar, Michael Pollan investiga três mundos diferentes: o do cultivo e produção de alimentos em escala industrial, o do florescente negócio da agricultura orgânica (analisando o que tem de promissor e de enganoso), e o mundo ligado à caça e ao extrativismo. Neste último, ensaia uma volta à atividade primeira do Homo sapiens, o onívoro por natureza que todos nós somos.
Observamos que há cada vez mais produtos disponíveis nas prateleiras dos supermercados, criando a impressão de que temos mais tipos de comida disponíveis. Pollan explica que é fato que atualmente podemos encontrar diferentes frutas e vegetais do mundo todo num bom supermercado, muito mais do que encontraríamos cinqüenta anos atrás. Mas, ao analisar as fontes de calorias, nota-se que a nossa dieta está menos diversificada. Mais de dois terços das calorias consumidas diariamente vêm de apenas quatro vegetais cultivados em escala mundial e com grandes interesses econômicos: milho, soja, trigo e arroz. Há um século atrás, havia maior diversidade. Esta aparente diversidade no supermercado obscurece a realidade de que a diversidade de nossa dieta vem encolhendo.
Alimentos altamente industrializados são hoje a base da "dieta ocidental", que domina os Estados Unidos da América e se espalha pelo mundo. Nos últimos anos, a indústria vem lançando alimentos que supostamente seriam menos nocivos. Pollan denuncia essa manobra de marketing, que explora o medo dos consumidores para vender produtos de valor duvidoso. E lança um manifesto que propõe a volta à alimentação tradicional, orgânica e saudável dos nossos avós. Ele dá dicas de como qualquer um pode se alimentar com “comida de verdade”, em vez dos produtos artificiais da indústria alimentícia.
Pela primeira vez na história da humanidade, há mais pessoas obesas do que famintas no mundo. Os acima do peso respondem hoje por 1 bilhão da população mundial, diante de 800 milhões que passam alguma forma de privação na alimentação. As causas principais são más dietas e sedentarismo. Não ficamos fora desta estatística. O Brasil nunca foi tão gordo. Os brasileiros com massa corpórea superior à considerada normal já somam 43 milhões – o equivalente a 43% da população adulta, quase três vezes mais do em meados da década de 1990. Por conseqüência, a quantidade de pessoas em dieta para emagrecer também é enorme: 25% dos homens e 50% das mulheres. É um público propenso a acreditar em regimes que se vendem como capazes de operar metamorfoses na silhueta do dia para a noite, sem prejudicar a saúde.
Verifica-se atualmente uma obsessão em obter os nutrientes corretos, em alimentar-se de maneira saudável, e uma percepção errônea de que basta comer a comida correta que tudo estará bem com você e o mundo todo. Precisamos voltar a nos preocupar em conhecer toda a cadeia produtiva dos alimentos e não ficarmos obcecados com alguns nutrientes. A manutenção da saúde deve ser apenas uma conseqüência, e não o objetivo de comer bem. De forma geral devem ser aplicados cinco princípios éticos para uma escolha consciente na hora das refeições: transparência, equilíbrio, humanidade, responsabilidade social e necessidade.
Há ainda as implicações econômicas e políticas. Este livro é um importante alerta para um Brasil que se pretende transformar numa Arábia Saudita dos biocombustíveis. A afirmação de que não haverá necessidade de desmatamento para a produção e a exportação de grandes quantidades de biodiesel se baseia na avaliação de que grandes áreas de pastagens podem ser convertidas para monoculturas de oleaginosas com um pouco de modernização de nossa agricultura. Nos EUA, são necessárias duas calorias de fertilizantes sintetizados a partir do petróleo para produzir uma caloria de milho. E como o gado bovino é alimentado com milho, quase um barril de petróleo é consumido para cada animal abatido. Os excedentes da produção de milho estão na origem tanto da abundância quanto da obesidade. Os subsídios governamentais são enormes, o alimento industrializado tem preços baixos, mas dão origem aos altos índices de obesidade que custam algo em torno de 90 bilhões de dólares por ano em despesas médicas. Ou esses excedentes atravessam a fronteira do México, onde acabam com os pequenos produtores, aumentando a oferta e reduzido os preços.
Toda uma complexa cadeia de interesses gira em torno da produção de milho, impedindo que cessem os subsídios. A insensatez do agronegócio é objeto de uma análise que revela a importância de saber como se estrutura a indústria dos alimentos que chegam diariamente às nossas mesas. Há ainda a história dos outros três vegetais cultivados em escala mundial.
A industrialização dos alimentos mudou nossa relação com a comida. Como consumidores estamos desorientados, e não sabemos mais de onde vem nossa comida. A cadeia é tão grande que muita criança pensa que a comida vem do supermercado, que o leite vem da caixinha Tetra Pack. Muitas crianças hoje não entendem que a cenoura ou a batata são raízes. A indústria alimentar nos desconectou do fato de que para sobreviver dependemos de outras espécies, com as quais compartilhamos o planeta. Assim, nós entregamos a preparação dos alimentos para empresas de grande escala. Isto pode ser conveniente, porque nos faz ganhar tempo, mas estas empresas não cozinham bem: usam muito sal, gordura e açúcar, e logo a comida se torna altamente calórica e não tão nutritiva.
Em conseqüência nos tornamos mais vulneráveis. Somos vítimas mais fáceis das manipulações dos alimentos fast-food e das propagandas de dietas milagrosas. É uma das razões pela qual temos tantos problemas de saúde relacionados à alimentação. Não confiamos mais em nossas tradições, não sabemos mais como cozinhar. Precisamos tomar de volta a decisão sobre nossas escolhas alimentares e sobre a preparação das refeições. O livro segue por caminhos fascinantes e sua leitura nos faz perguntar se é isso mesmo que queremos para nossa vida.
Credenciais do autor
Escritor e jornalista estadunidense Michael Pollan é colaborador do New York Times Magazine. É professor de jornalismo na University of California, Berkeley, onde dirige o Programa de Jornalismo Científico e Ambiental. É autor de artigos polêmicos sobre a indústria alimentar. Recentemente lançou seu novo livro, In Defense of Food (Em Defesa da Comida), ainda sem tradução no Brasil.
Fonte:
http://consumosolidario.blogspot.com.br/2009/01/o-dilema-do-onivorouma-historia-natural.html
Última edição por Fernando Zadá em Seg 21 Jan 2013, 7:22 pm, editado 1 vez(es)
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Fernando Zadá- Moderador
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