A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
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A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Até que ponto a forma pejorativa como as pessoas vêem os músicos é reflexo da propagação desta fábula na formação da infância mítica?
A cigarra e a formiga – La Fontaine
La Fontaine (1621-1695)
Tradução de Bocage (1765-1805)
A Cigarra e a Formiga
Tendo a cigarra, em cantigas,
Folgado todo o verão,
Achou-se em penúria extrema,
Na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.
– Amiga – diz a cigarra
– Prometo, à fé de animal,
Pagar-vos, antes de Agosto,
Os juros e o principal.
A formiga nunca empresta,
Nunca dá; por isso, junta.
– No verão, em que lidavas?
– À pedinte, ela pergunta.
Responde a outra: – Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora.
– Oh! Bravo! – torna a formiga
– Cantavas? Pois dança agora!
A cigarra e a formiga – La Fontaine
La Fontaine (1621-1695)
Tradução de Bocage (1765-1805)
A Cigarra e a Formiga
Tendo a cigarra, em cantigas,
Folgado todo o verão,
Achou-se em penúria extrema,
Na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.
– Amiga – diz a cigarra
– Prometo, à fé de animal,
Pagar-vos, antes de Agosto,
Os juros e o principal.
A formiga nunca empresta,
Nunca dá; por isso, junta.
– No verão, em que lidavas?
– À pedinte, ela pergunta.
Responde a outra: – Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora.
– Oh! Bravo! – torna a formiga
– Cantavas? Pois dança agora!
Edão- Membro
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Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
É falta de conhecimento aliado aquilo da natureza humana de "enxergar" só os lados que convém de algo que lhe é externo. As pessoas passam longe de saber como é de fato a vida de um músico e nisso falam muita besteira. Aqui no Brasil ainda rola muito desse pensamento arcaico da fábula, já que é um país muito conservador em vários aspectos...
Mas isso aí o ocorre com várias outras profissões, ou todas mesmo, já que muitas concepções são extremamente equivocadas ou mesmo irreais. Muitos veem engenheiro com certo "status", mas o mercado pra quem não tem o "QI" forte é bem difícil. Vai começar ganhando salário mínimo, vai ter que aceitar vaga de "analista" pra não te pagarem o piso da categoria (e nem metade disso), vai ter que assumir responsabilidades enormes que envolvem risco à vida humana, vai trabalhar nos finais de semana e por aí vai, além da instabilidade do próprio mercado, que é grande, aí vem medo de desemprego etc. A mesma coisa acontece com médicos, por exemplo. Alguns começam trabalhando quase 24/07, tem aquilo de dar notícias ruins para os pacientes, o nível de estresse elevado pelas decisões difíceis e por aí vai. Mas quem é de fora só quer ver o que lhe convém sempre...
Mas isso aí o ocorre com várias outras profissões, ou todas mesmo, já que muitas concepções são extremamente equivocadas ou mesmo irreais. Muitos veem engenheiro com certo "status", mas o mercado pra quem não tem o "QI" forte é bem difícil. Vai começar ganhando salário mínimo, vai ter que aceitar vaga de "analista" pra não te pagarem o piso da categoria (e nem metade disso), vai ter que assumir responsabilidades enormes que envolvem risco à vida humana, vai trabalhar nos finais de semana e por aí vai, além da instabilidade do próprio mercado, que é grande, aí vem medo de desemprego etc. A mesma coisa acontece com médicos, por exemplo. Alguns começam trabalhando quase 24/07, tem aquilo de dar notícias ruins para os pacientes, o nível de estresse elevado pelas decisões difíceis e por aí vai. Mas quem é de fora só quer ver o que lhe convém sempre...
Vinicius F- Membro
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Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
E quando você toca na noite e te perguntam qual sua profissão? Se você responder músico, perguntarão, não, a outra onde você se mantém financeiramente?
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Edão escreveu:Até que ponto a forma pejorativa como as pessoas vêem os músicos é reflexo da propagação desta fábula na formação da infância mítica?...
Creio q muito pouco.
fheliojr- Membro
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Localização : Fortaleza-CE
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Não vê a musica como trabalho quem nunca quebrou a cabeça tentando tirar o repertório pra tocar bem e não fazer feio na apresentação, não sentiu o peso do instrumento depois de 3-4 horas tocando a fio e ainda teve que arrastar seu set antes e depois do show, não entendeu a disciplina que o vocalista precisa manter para não perder a voz e o instrumentista para não sofrer com problemas decorrentes dos esforços repetitivos... por aí vai.
arturbmallmann- Membro
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Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Edão
Músicos, poetas, Aedos, Rapsodos, saltimbancos, artistas em geral, etc; qualquer designação que você queira dar ao longo da História das Civilizações, SEMPRE foram subalternos, sempre foram considerados marginais ou meros agregados às Casas Senhoriais, aos Palácios, serviçais ou mesmo escravos.
Nesses "mundos" extintos, vía de regra, membros dessas "classes" superiores, podiam até fazer música (ou qualquer outra arte), mas não eram considerados como tal (alguns usavam pseudônimos), ou essa atividade era vista como uma "prova" da sua "superioridade intrínseca" como seres (a noção de que os seres humanos são iguais entre sí é muito recente - data da Revolução Francesa)
Em nossa sociedade capitalista, eles, vc, nós, etc, não fugimos à essa regra, exceto para aqueles que tornaram-se ricos empresários (Mick Jagger, Prince, Bono Vox, etc), ou seja, tornaram-se capitalistas (no sentido de classe social); esses transcendem as ideologias que visam a manter a ordem social, tornando-se A "regra" (e, ao mesmo tempo um "objetivo ideológico" dos que seguem a profissão), passam à ser outra coisa. Passam à ser donos de Capital, e não de apenas sí mesmos, de trabalho, como 99% da população mundial.
A fábula a que você se refere tem origem na sociedade medieval européia, portanto, ela apenas é reflexo, e reforça o ambiente ideológico daquela época; não cria nada, apenas expressa. Aplica-se hoje também, embora de forma um tanto diversa do passado.
Portanto, as pessoas, de uma forma geral, SEMPRE verão músicos, artistas e etc de forma pejorativa. A menos que você se torne um Paul MacCartney....
Músicos, poetas, Aedos, Rapsodos, saltimbancos, artistas em geral, etc; qualquer designação que você queira dar ao longo da História das Civilizações, SEMPRE foram subalternos, sempre foram considerados marginais ou meros agregados às Casas Senhoriais, aos Palácios, serviçais ou mesmo escravos.
Nesses "mundos" extintos, vía de regra, membros dessas "classes" superiores, podiam até fazer música (ou qualquer outra arte), mas não eram considerados como tal (alguns usavam pseudônimos), ou essa atividade era vista como uma "prova" da sua "superioridade intrínseca" como seres (a noção de que os seres humanos são iguais entre sí é muito recente - data da Revolução Francesa)
Em nossa sociedade capitalista, eles, vc, nós, etc, não fugimos à essa regra, exceto para aqueles que tornaram-se ricos empresários (Mick Jagger, Prince, Bono Vox, etc), ou seja, tornaram-se capitalistas (no sentido de classe social); esses transcendem as ideologias que visam a manter a ordem social, tornando-se A "regra" (e, ao mesmo tempo um "objetivo ideológico" dos que seguem a profissão), passam à ser outra coisa. Passam à ser donos de Capital, e não de apenas sí mesmos, de trabalho, como 99% da população mundial.
A fábula a que você se refere tem origem na sociedade medieval européia, portanto, ela apenas é reflexo, e reforça o ambiente ideológico daquela época; não cria nada, apenas expressa. Aplica-se hoje também, embora de forma um tanto diversa do passado.
Portanto, as pessoas, de uma forma geral, SEMPRE verão músicos, artistas e etc de forma pejorativa. A menos que você se torne um Paul MacCartney....
Mauricio Luiz Bertola- FCBR-CT
- Mensagens : 16619
Localização : Niterói, RJ
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Ou seja: 90% da população mundial....arturbmallmann escreveu:Não vê a musica como trabalho quem nunca quebrou a cabeça tentando tirar o repertório pra tocar bem e não fazer feio na apresentação, não sentiu o peso do instrumento depois de 3-4 horas tocando a fio e ainda teve que arrastar seu set antes e depois do show, não entendeu a disciplina que o vocalista precisa manter para não perder a voz e o instrumentista para não sofrer com problemas decorrentes dos esforços repetitivos... por aí vai.
Mauricio Luiz Bertola- FCBR-CT
- Mensagens : 16619
Localização : Niterói, RJ
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
hahahahah sim sim. Oque quis dizer é que é "fácil" falar de uma realidade que não se conhece.
arturbmallmann- Membro
- Mensagens : 2007
Localização : Mondaí-SC
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Verdade arturbmallmann.
Mas, no caso de artistas, de diversas matizes, historicamente são vistos de forma pejorativa desde sempre, e as pessoas, de uma forma geral, não considera arte como trabalho... E é difícil convencê-las disso...
Mas, no caso de artistas, de diversas matizes, historicamente são vistos de forma pejorativa desde sempre, e as pessoas, de uma forma geral, não considera arte como trabalho... E é difícil convencê-las disso...
Mauricio Luiz Bertola- FCBR-CT
- Mensagens : 16619
Localização : Niterói, RJ
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Essa fábula é um retrato de como a sociedade vê o artista, a sociedade não enxerga assim por causa da fábula.
O Bertola falou tudo sobre o assunto.
O Bertola falou tudo sobre o assunto.
allexcosta- Administrador
- Mensagens : 54816
Localização : Terra
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Discordo de todos os comentários.
Galera, não vistam a carrapuça tão cedo. Trata-se apenas de uma fábula, ou seja, o mundo das metáforas. A mensagem de La Fontaine é: seja previdente e ponto. Ela serve para todos os tipos de vagabundos, músicos vagabundos inclusive.
Galera, não vistam a carrapuça tão cedo. Trata-se apenas de uma fábula, ou seja, o mundo das metáforas. A mensagem de La Fontaine é: seja previdente e ponto. Ela serve para todos os tipos de vagabundos, músicos vagabundos inclusive.
JAZZigo- FCBR-CT
- Mensagens : 16646
Localização : Asa Norte, Brasília-DF
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Tá vendo a coisa só por um ângulo Jazz.
O Bertola fez a leitura histórica perfeita.
Por muito tempo, nesta geraçao, à exceção do tempo e ainda há este tempo entre tribos indigenas, que a música é utilizada na espiritualidade, o músico é considerado quase o "bobo da corte". Aquele que "so" serve pra alegrar.
Mas ai já entra no papel da música em si, sua utilização é etc e aí já é linha pra outro caderno...
O Bertola fez a leitura histórica perfeita.
Por muito tempo, nesta geraçao, à exceção do tempo e ainda há este tempo entre tribos indigenas, que a música é utilizada na espiritualidade, o músico é considerado quase o "bobo da corte". Aquele que "so" serve pra alegrar.
Mas ai já entra no papel da música em si, sua utilização é etc e aí já é linha pra outro caderno...
Edão- Membro
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Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Mas se formos analisar é uma das coisas mais idiotas inferiorizar quem trás entretenimento, não é!? a vida sem se alegrar seria apenas comer, trabalhar e dormir!
Muito dos esforços dos trabalhadores convergem em diversão, arte, desenvolvimento do intelecto e outras coisas que não são essenciais para nosso corpo animal. Os mineradores extraem a matéria prima, o arquiteto da forma a uma obra, o engenheiro projeta a estrutura, pessoal da construção faz a parte braçal, o eletricista trás a energia ... e está lá pronto o anfiteatro, o cinema, o parque de diversões, a boate, a biblioteca etc... ou a fabrica de: celulares, televisores, videogames, quinquilharias, lojinha de coisas fúteis da esquina...
Descendo mais o nível de prioridades humanas, e seguindo esta lógica humana boba, somente seria considerado trabalho útil coisas relacionadas a alimentação e saúde(talvez, se vc já reproduziu pode morrer hahahha). Eu sei me afastei bastante do ponto inicial do assunto(hahauhaua juro, não uso drogas), mas a ideia do artista ainda hoje ser considerado um ser que não trabalha me deixa um tanto indignado.. Vejo como um argumento bom mostrar que aquele mesmo "trabalho de verdade" pode por fim ajudar a servir para o mesmo propósito.
Muito dos esforços dos trabalhadores convergem em diversão, arte, desenvolvimento do intelecto e outras coisas que não são essenciais para nosso corpo animal. Os mineradores extraem a matéria prima, o arquiteto da forma a uma obra, o engenheiro projeta a estrutura, pessoal da construção faz a parte braçal, o eletricista trás a energia ... e está lá pronto o anfiteatro, o cinema, o parque de diversões, a boate, a biblioteca etc... ou a fabrica de: celulares, televisores, videogames, quinquilharias, lojinha de coisas fúteis da esquina...
Descendo mais o nível de prioridades humanas, e seguindo esta lógica humana boba, somente seria considerado trabalho útil coisas relacionadas a alimentação e saúde(talvez, se vc já reproduziu pode morrer hahahha). Eu sei me afastei bastante do ponto inicial do assunto(hahauhaua juro, não uso drogas), mas a ideia do artista ainda hoje ser considerado um ser que não trabalha me deixa um tanto indignado.. Vejo como um argumento bom mostrar que aquele mesmo "trabalho de verdade" pode por fim ajudar a servir para o mesmo propósito.
arturbmallmann- Membro
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Localização : Mondaí-SC
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
^arte é uma "necessidade espiritual".
fheliojr- Membro
- Mensagens : 11950
Localização : Fortaleza-CE
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Edão escreveu:o músico é considerado quase o "bobo da corte".
Tá muito longe da realidade?
allexcosta- Administrador
- Mensagens : 54816
Localização : Terra
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Desculpe, Edão, mas não foi bem assim não, não mesmo. Sem querer desmerecer o post do amigo Prof. Bertola, sugiro: RAYNOR, Henry - "História Social da Música - da Idade Média a Beethoven", 1972 - Zahar Editores.Edão escreveu:Tá vendo a coisa só por um ângulo Jazz.
O Bertola fez a leitura histórica perfeita.
Por muito tempo, nesta geraçao, à exceção do tempo e ainda há este tempo entre tribos indigenas, que a música é utilizada na espiritualidade, o músico é considerado quase o "bobo da corte". Aquele que "so" serve pra alegrar.
Mas ai já entra no papel da música em si, sua utilização é etc e aí já é linha pra outro caderno...
P.S.: Jean de La Fontaine viveu de 1621 a 1695, ou seja, muita água já havia rolado desde a Idade Média.
JAZZigo- FCBR-CT
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Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
É, aí já não da pra discutir contigo pois eu precisaria ler o livro que você indicou.
O post que fiz foi pela ótica da formação mítica da infância onde arquétipos são formados a partir das histórias infantis.
Na fábula que citei existe realmente este ponto de vista que você relatou da previdência, mas também pejora a vida de músico como aquele que é desligado e descuidado da realidade prática da vida e das necessidades cotidianas, "canto hoje e o amanhã a Deus pertence".
O músico de arrelia (aquele que diverte) é minorado. O musico mágico (xamã ou algo que o valha) já tem outro papel social. Vi a fábula refletindo e propagando, também, este contexto, do indivíduo-social descuidado e isso influencia o pensamento da criança, formando um arquétipo.
O post que fiz foi pela ótica da formação mítica da infância onde arquétipos são formados a partir das histórias infantis.
Na fábula que citei existe realmente este ponto de vista que você relatou da previdência, mas também pejora a vida de músico como aquele que é desligado e descuidado da realidade prática da vida e das necessidades cotidianas, "canto hoje e o amanhã a Deus pertence".
O músico de arrelia (aquele que diverte) é minorado. O musico mágico (xamã ou algo que o valha) já tem outro papel social. Vi a fábula refletindo e propagando, também, este contexto, do indivíduo-social descuidado e isso influencia o pensamento da criança, formando um arquétipo.
Edão- Membro
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Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Edão escreveu:O musico mágico (xamã ou algo que o valha)
allexcosta- Administrador
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elson.arcos- Membro
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Localização : Manaus
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
JAZZigo
As fábulas de La Fontaine foram fixadas por escrito por ele, mas, na verdade são muito mais antigas fruto da cultura popular em que ele se inspirou, e isso é muito comum; o referido autor não as compôs "do nada", apenas seguiu também um modelo elaborado por Esopo, autor grego do século VI a.C, estabelecendo o "padrão" das mesmas.
O período em que LaFontaine viveu é conhecido na moderna historiografia como "de transição", combinando características culturais, sociais, econômicas, ideológicas e políticas do medievo, com aspectos da modernidade. Essa divisão historiográfica entre Pré-História, Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea, caiu em desuso, e só é utilizada hoje em dia para fins de subdivisão didática.
Outra coisa: fábulas, desde Esopo, são fruto da cultura popular, do senso-comum existente em uma sociedade dada historicamente, e refletem o "pensar social", ideológico dessa(s) sociedade(s); por conseguinte, elas refletem sim a "opinião geral", normativa sobre determinado tema. A fábula em questão trata da imprevidência, porém, ler algo a partir de uma ótica linear é um erro. existem nos textos, mormente nos oriundos de outros períodos históricos todo um conjunto de "camadas" de "opinião geral", de preconceitos, de pensamento apriorístico que se expressa neles. Cabe ao Historiador perceber tais nuances. A rigor, a cigarra/músico pode ser substituída por qualquer categoria profissional. A pergunta é: Porque a escolha recai sobre a bi-polaridade cigarra/músico? Só porque a cigarra é um animal canoro?
As fábulas de La Fontaine foram fixadas por escrito por ele, mas, na verdade são muito mais antigas fruto da cultura popular em que ele se inspirou, e isso é muito comum; o referido autor não as compôs "do nada", apenas seguiu também um modelo elaborado por Esopo, autor grego do século VI a.C, estabelecendo o "padrão" das mesmas.
O período em que LaFontaine viveu é conhecido na moderna historiografia como "de transição", combinando características culturais, sociais, econômicas, ideológicas e políticas do medievo, com aspectos da modernidade. Essa divisão historiográfica entre Pré-História, Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea, caiu em desuso, e só é utilizada hoje em dia para fins de subdivisão didática.
Outra coisa: fábulas, desde Esopo, são fruto da cultura popular, do senso-comum existente em uma sociedade dada historicamente, e refletem o "pensar social", ideológico dessa(s) sociedade(s); por conseguinte, elas refletem sim a "opinião geral", normativa sobre determinado tema. A fábula em questão trata da imprevidência, porém, ler algo a partir de uma ótica linear é um erro. existem nos textos, mormente nos oriundos de outros períodos históricos todo um conjunto de "camadas" de "opinião geral", de preconceitos, de pensamento apriorístico que se expressa neles. Cabe ao Historiador perceber tais nuances. A rigor, a cigarra/músico pode ser substituída por qualquer categoria profissional. A pergunta é: Porque a escolha recai sobre a bi-polaridade cigarra/músico? Só porque a cigarra é um animal canoro?
Mauricio Luiz Bertola- FCBR-CT
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Localização : Niterói, RJ
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
allexcosta escreveu:Edão escreveu:O musico mágico (xamã ou algo que o valha)
Entendi... A expressão... É expressão corrente na minha terra desde muito.
Edão- Membro
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Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Na minha opinião: sim, apesar de, particularmente, não sentir nada de canoro no canto de uma cigarra. Talvez meu discernimento seja um tanto quanto limitado, mas, sinceramente e com data venia, me parece meio simplório enxergar bipolaridade entre cigarra e músico nessa fábula. Dê-me então um exemplo de qual bicho seria melhor do que a cigarra para antagonizar com a formiga. O gato Garfield não vale!Mauricio Luiz Bertola escreveu: Porque a escolha recai sobre a bi-polaridade cigarra/músico? Só porque a cigarra é um animal canoro?
Também conheço e admiro o trabalho de La Fontaine. Possuo inclusive o livro-de-bolso “Fables de La Fontaine”, editora Maison Alfred Mame et Fils, uma velha edição comentada de 1926, que ganhei há cerca de 24 anos (já parcialmente puído pelas traças), do meu querido e finado avô materno, por ocasião da conclusão do meu curso de tradução - vide fotos abaixo.
No detalhe, nota nº 3 do editor:
"3 - La réponse de la fourmi est dure, et ne doit pas être prise pour modèle; mais la cigale mérite ce qui lui arrive; et c'est là toute la moralité de cette fable. La Fontaine veut nous prémunir contre la paresse et l'imprévoyance en nous montrant quelles en sont les suites funestes."
“3 - A resposta da formiga é grosseira e não deve ser tida como exemplo; mas a cigarra merece o que lhe acontece; e eis aí toda a moral desta fábula. La Fontaine quer precaver-nos contra a preguiça e a imprevidência, mostrando-nos as consequências terríveis.” (Tradução: Morg JAZZigo)
Última edição por JAZZigo em Seg Jan 02, 2017 10:11 am, editado 3 vez(es) (Motivo da edição : Correção do erro de digitação, no texto transcrito em francês.)
JAZZigo- FCBR-CT
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Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Belo exemplar Jazz!! Parabéns !!
elson.arcos- Membro
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Localização : Manaus
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Belo livro!
Parabéns!
Parabéns!
Mauricio Luiz Bertola- FCBR-CT
- Mensagens : 16619
Localização : Niterói, RJ
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Edão escreveu:...O post que fiz foi pela ótica da formação mítica da infância onde arquétipos são formados a partir das histórias infantis...
Sendo bem pragmático: não acho q isso vá causar tanto impacto nesta formação infantil.
Edão escreveu:...O musico mágico (xamã ou algo que o valha) já tem outro papel social...
Eita, o Pai Alex de Iemanjá.
fheliojr- Membro
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Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Fheliojr, fábulas e histórias infantis são importantes na formação da psique e dos arquétipos.
Chapeuzinho vermelho versa sobre uma situação de abuso.
Cinderela e Branca de Neve tem a madrasta má, um mal exemplo.
Os três porquinhos versam sobre segurança e precaução e por aí vai.
São situações implícitas ou sei lá como dizer, subliminares a estas histórias.
São importantes de serem contadas as crianças.
Chapeuzinho vermelho versa sobre uma situação de abuso.
Cinderela e Branca de Neve tem a madrasta má, um mal exemplo.
Os três porquinhos versam sobre segurança e precaução e por aí vai.
São situações implícitas ou sei lá como dizer, subliminares a estas histórias.
São importantes de serem contadas as crianças.
Edão- Membro
- Mensagens : 1997
Localização : Rio Branco/AC
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Edão, mas no caso da formiga e da Cigarra, a cigarra ser canora é apenas ocasião. O lance é que a formiga esta fazendo o plano pro futuro(o inverno) e a cigarra não ta nem ai .
Tem que torcer bem a história pra caber no "músico vagabundo", Raul fez algo assim: "A formiga só trabalha porque não sabe cantar".
Tem que torcer bem a história pra caber no "músico vagabundo", Raul fez algo assim: "A formiga só trabalha porque não sabe cantar".
Stormbringer- Membro
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Localização : Goiânia
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Boa!Stormbringer escreveu:Tem que torcer bem a história pra caber no "músico vagabundo", Raul fez algo assim: "A formiga só trabalha porque não sabe cantar".
JAZZigo- FCBR-CT
- Mensagens : 16646
Localização : Asa Norte, Brasília-DF
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
As coisas não são ao acaso. Mas tranquilo.
Tudo tem dois lados e diversos pontos de vista. Alguns enxergam a coisa de forma pragmática e outros, de forma mais holística. Não estamos errados, apenas enxergamos de ângulos diferentes.
Tudo tem dois lados e diversos pontos de vista. Alguns enxergam a coisa de forma pragmática e outros, de forma mais holística. Não estamos errados, apenas enxergamos de ângulos diferentes.
Edão- Membro
- Mensagens : 1997
Localização : Rio Branco/AC
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
A Cigarra e a Formiga
(Releitura da fábula de La Fontaine, por José Silveira Passos)
"Era uma vez uma formiguinha e uma cigarra, muito amigas.
Durante todo o outono a formiguinha trabalhou sem parar, armazenando comida para o período de inverno. Não aproveitou nada do sol, da brisa suave do fim da tarde e nem do bate papo com os amigos ao final do expediente de trabalho, tomando uma cerveja, seu nome era trabalho e seu sobrenome: sempre.
Enquanto isso a cigarra só queria saber de cantar nas rodas de amigos nos bares da cidade, não desperdiçou um minuto sequer, cantou durante todo o outono, dançou, aproveitou o sol, curtiu para valer sem se preocupar com o inverno que estava por vir.
Então, passados alguns dias, começou a esfriar, era o inverno que estava começando. A formiguinha exausta entrou em sua singela e aconchegante toca repleta de comida.
Mas alguém chamava por seu nome do lado de fora da toca e quando abriu a porta para ver quem era, ficou surpresa com o que viu, sua amiga cigarra dentro de uma Ferrari com um maravilhoso casaco de vison.
E a cigarra falou para a formiguinha: Olá amiga, vou passar o inverno em Paris, será que você poderia cuidar de minha toca ? E a formiguinha respondeu: Claro, sem problema, mas o que lhe aconteceu que você vai para Paris e está com esta Ferrari?
No que a cigarra responde: Imagine você que eu estava cantando em um bar na semana passada e um produtor gostou da minha voz e fechei um contrato de seis meses para fazer shows em Paris... A propósito, a amiga deseja algo de lá?
Respondeu a formiguinha: Desejo sim, se você encontrar por lá um tal de La Fontaine, mande ele para a p q p !!!"
Moral da história: Aproveite sua vida, saiba dosar trabalho e lazer, pois trabalho em demasia só traz benefício em fábulas do La Fontaine.
Fonte: http://www.josesilveira.com/
José Silveira Passos, Psicólogo (CRP-05/18.842), Engenheiro (CREA-RJ 39.313-D), Professor, Psicoterapeuta, Arte-Terapeuta, Hipnólogo, Consultor Organizacional, Analista Transacional (MD da União Nacional de Analistas Transacionais, UNAT-BRASIL e da ALAT), Ex-Presidente da UNAT-BRASIL, Master em Ecologia Humana (FEHI - Fundación Ecología Humana Internacional, Buenos Aires - Argentina).
(Releitura da fábula de La Fontaine, por José Silveira Passos)
"Era uma vez uma formiguinha e uma cigarra, muito amigas.
Durante todo o outono a formiguinha trabalhou sem parar, armazenando comida para o período de inverno. Não aproveitou nada do sol, da brisa suave do fim da tarde e nem do bate papo com os amigos ao final do expediente de trabalho, tomando uma cerveja, seu nome era trabalho e seu sobrenome: sempre.
Enquanto isso a cigarra só queria saber de cantar nas rodas de amigos nos bares da cidade, não desperdiçou um minuto sequer, cantou durante todo o outono, dançou, aproveitou o sol, curtiu para valer sem se preocupar com o inverno que estava por vir.
Então, passados alguns dias, começou a esfriar, era o inverno que estava começando. A formiguinha exausta entrou em sua singela e aconchegante toca repleta de comida.
Mas alguém chamava por seu nome do lado de fora da toca e quando abriu a porta para ver quem era, ficou surpresa com o que viu, sua amiga cigarra dentro de uma Ferrari com um maravilhoso casaco de vison.
E a cigarra falou para a formiguinha: Olá amiga, vou passar o inverno em Paris, será que você poderia cuidar de minha toca ? E a formiguinha respondeu: Claro, sem problema, mas o que lhe aconteceu que você vai para Paris e está com esta Ferrari?
No que a cigarra responde: Imagine você que eu estava cantando em um bar na semana passada e um produtor gostou da minha voz e fechei um contrato de seis meses para fazer shows em Paris... A propósito, a amiga deseja algo de lá?
Respondeu a formiguinha: Desejo sim, se você encontrar por lá um tal de La Fontaine, mande ele para a p q p !!!"
Moral da história: Aproveite sua vida, saiba dosar trabalho e lazer, pois trabalho em demasia só traz benefício em fábulas do La Fontaine.
Fonte: http://www.josesilveira.com/
José Silveira Passos, Psicólogo (CRP-05/18.842), Engenheiro (CREA-RJ 39.313-D), Professor, Psicoterapeuta, Arte-Terapeuta, Hipnólogo, Consultor Organizacional, Analista Transacional (MD da União Nacional de Analistas Transacionais, UNAT-BRASIL e da ALAT), Ex-Presidente da UNAT-BRASIL, Master em Ecologia Humana (FEHI - Fundación Ecología Humana Internacional, Buenos Aires - Argentina).
JAZZigo- FCBR-CT
- Mensagens : 16646
Localização : Asa Norte, Brasília-DF
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Muito bom!!! Kkkkkkkk.
Edão- Membro
- Mensagens : 1997
Localização : Rio Branco/AC
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
JAZZigo escreveu:Discordo de todos os comentários.
Galera, não vistam a carrapuça tão cedo. Trata-se apenas de uma fábula, ou seja, o mundo das metáforas. A mensagem de La Fontaine é: seja previdente e ponto. Ela serve para todos os tipos de vagabundos, músicos vagabundos inclusive.
Sempre fiz essa interpretação da fábula.
pedrohenrique.astronauta- Membro
- Mensagens : 9191
Localização : Volta Redonda-RJ
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
A conclusão que tirei foi: que belo exemplar este do JAZZigo! Seu avô devia ser demais.
arturbmallmann- Membro
- Mensagens : 2007
Localização : Mondaí-SC
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
2arturbmallmann escreveu:A conclusão que tirei foi: que belo exemplar este do JAZZigo! Seu avô devia ser demais.
Mauricio Luiz Bertola- FCBR-CT
- Mensagens : 16619
Localização : Niterói, RJ
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Obrigado, Artur e Bertola. Sou suspeito para falar, mas sim, meu avô era uma figura rígida, humilde, mas carinhosa e admirável. Teve uma influência muito forte na minha vida, foi meu maior herói, mas, por razões de privacidade, não quero detalhar aqui os porquês. Posso adiantar apenas que aquele velho e fervoroso pastor me tinha como seu neto predileto e, apesar do meu agnosticismo, debatíamos respeitosa e intensamente a Bíblia, as ciências, a literatura e música. Certa vez, ao tocar para ele o 2º Movimento do Concerto para Alaúde em Ré Maior - RV.93, de Vivaldi (vídeo abaixo), comentou, com os olhos marejados: "Este Largo dá vontade de morrer...", no bom sentido, claro.Mauricio Luiz Bertola escreveu:2arturbmallmann escreveu:A conclusão que tirei foi: que belo exemplar este do JAZZigo! Seu avô devia ser demais.
JAZZigo- FCBR-CT
- Mensagens : 16646
Localização : Asa Norte, Brasília-DF
fheliojr- Membro
- Mensagens : 11950
Localização : Fortaleza-CE
Re: A cigarra e a formiga de La Fontaine - A infancia mítica e a imagem do músico vagabundo
Lindo concerto!!
elson.arcos- Membro
- Mensagens : 254
Localização : Manaus
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