Texto interessante sobre falsificações (caso real/alerta)

Caros amigos,
Geralmente eu não gosto de "postar" textos de outras pessoas aqui, muito menos de outros fóruns que participo (alguns nem de música são).
Mas, dessa vez peço a vênia aos administradores do FCBR para fazê-lo, pois acho que o texto em questão é um alerta principalmente aos mais jovens e menos entendidos em assuntos de luthiería.
Como cidadão e luthier eu não posso deixar de repassar essa informação abaixo:

Boa Tarde galera,

O tema é meio tenso.
Não quero dar nome aos bois, mas tambem nao quero que nenhum de nós da família saia prejudicado.
Se possível gostaria de me manter no anonimato.

Então quero opiniões da galera do que pode ser feito para acabarmos com essa raça maldita.

Vamos a historinha (se nao quiser ler, pule):
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NEW HISTORY
BEGIN:

Há uma lojinha na cidade, até grandinha, que vende instrumentos, na sua maioria usados, e muitos cabos, pedais usados, fontes, bateria, correia, corda...essas coisas. Toda cidade tem.

O cara de lá é um extremo mala, ruim de conversar. Ja tentei fazer uns negocios com ele, mas descaradamente ele tenta ganhar muito nas suas costas. Ele praticamente te chama de otário na sua cara. Complicado.
Fazer negocio nao rola.

Mesmo assim passo por la algumas vezes, e esse fim de semana, passei la pra ver o que tinha de novo.
Queria comprar uma fonte de pedaleira, umas cordas, um piezo (pra um projetinho ai), umas pecinhas de strato, uma mesa de som, tal.
Passei la pra conferir.

Chego la dou de cara com uma teleca linda, butterscotch, escudo branco. Pedi pra testar. Bom som. Pegada legal. Mas notei um detalhe:
Headstock raspado. Muito mal raspado.
Nao deu pra saber que guita era, por que nao tinha marca em inscricao em lugar nenhum dela. Perguntei pro dono da loja, ele disse: "FENDER".

Fender?? Eu disse.
É...Fender! Ele disse.

Nao falei mais nada. Continuei tocando e comecei a reparar nos detalhes da guitarra.
Captadores nao tinham sequer nenhuma inscricao. Saddles tambem nao.
Nem a ponte. O corpo era translucido. 4 peças. O neck plate sem nada.
Tarrachas comuns, die cast. E só. Nao conseguir sacar mais nada.

Havia um luthier trabalhando nos fundos da loja, como terceirizado.
Comecei a puxar papo com ele. Ele se mostrou muito simpatico. Amante mesmo da profissao.
Dai comecei a prosear com ele, falando um papo mais luthieristico.
O cara viu que eu nao era um leigo qualquer, e começou a me dar dicas interessantissimas.

Dentre dicas boas, uma mais interessante ainda:
Como fendeirizar uma condor!

Pahhh, matei a charada!
Dai, fingi de bobo e continuei a prosa.

Ele foi explicando que corta o head com um molde de tele 52.
Os captadores ele troca por algum mais vivo (nao precisa ser caro).
Ele tem um set de strato vendendo por 99 reais...e se passa bem por uma fender.
Terceiro, water slide com 2-3 camadas de verniz sem cor. Custom shop atras. Serial tirado da internet com numero de um tele da mesma cor e mesma aparencia de ano.
Lixa, só fininha mesmo.
Quarto, bota saddles e ponte chinesas, tarrachas vintade tudo com logo fender.
E por ultimo, manual e certificado de autenticidade, so faltando o selo, claro.

Bem, dai eu disse:
Cara, essa tele nao me engana. Ta cheio de detalhes nao fender nela.
O cara pra fechar com chave de ouro ele diz (o luthier)

Eu sei que nao te engana, mas nao tem muitos de voce por ai.
Diz que voce nunca comprou carro com kilometragem voltada?!

Dai, continuei sorrindo, tocando a tele. Fiz cara de paisagem.
Botei a tele no lugar, com uma vontade imensa de escrever com chave de fenda no corpo (NAO É FENDER).
Tinha outras stratos que passavam facil por squier la.
Se pega uma giannini tosp das que ja vi aqui no forum entao....era fender elite.

Olhei uns pedais aqui e ali, comprei a fonte por 20 reais.
Fui embora. E aqui estou pra relatar.

END;
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Poxa nao quero sacanear ninguem, tambem nao quero comprar uma briga com um lojista quando existem milhoes no mundo que fazem isso.
Nao quero me envolver minha pessoa.

E então, que posso fazer?
Avisar geral no face?!
Postar endereço, nome da loja?
Fazer denuncia anonima?
Fazer ameaça anonima?
Deixar como tá?

Infelizmente isso não é nenhuma novidade no nosso ramo. Talvez nunca se tenha visto de modo tão exposto como nesse caso, mas a "indústria" da falsificação é pesada. Se eu fosse o rapaz eu faria uma denúncia, mas em vez disso ele ainda comprou uma fonte do lojista. Eu próprio não ajudo esse tipo de pessoa nem se minha necessidade for imediata. É por essas que os músicos mais vacinados são taxados por chatos ou bossais. Eu mesmo quando levo meu instrumento para regulagem não deixo com o Luthier (desculpa ai Bertola e outros profissionais do fórum), pois não sou amigo pessoal de nenhum deles, e fico acompanhando o serviço ao lado dele. Infelizmente aconteceu com alguns amigos de terem peças trocadas por Luthiers. A malícia que a gente adquire, apesar de as vezes parecer insensata para os outros, é só uma consequência da nossa experiência com casos como esses.

Renato Aversari escreveu:Infelizmente isso não é nenhuma novidade no nosso ramo. Talvez nunca se tenha visto de modo tão exposto como nesse caso, mas a "indústria" da falsificação é pesada. Se eu fosse o rapaz eu faria uma denúncia, mas em vez disso ele ainda comprou uma fonte do lojista. Eu próprio não ajudo esse tipo de pessoa nem se minha necessidade for imediata. É por essas que os músicos mais vacinados são taxados por chatos ou bossais. Eu mesmo quando levo meu instrumento para regulagem não deixo com o Luthier (desculpa ai Bertola e outros profissionais do fórum), pois não sou amigo pessoal de nenhum deles, e fico acompanhando o serviço ao lado dele. Infelizmente aconteceu com alguns amigos de terem peças trocadas por Luthiers. A malícia que a gente adquire, apesar de as vezes parecer insensata para os outros, é só uma consequência da nossa experiência com casos como esses.

Renato, eu já soube de casos aqui no Rio e em São Paulo de elementos que se dizem luthiers e que trocaram peças de instrumentos de clientes. Isso é absolutamente inaceitável!

Bem...

Seria delegacia de estelionato? Alguém aqui já tentou fazer denúncia em uma? Eu já...

Pra encurtar a história, não tento de novo.

Me chateia muito dizer isso, mas num país circo como o Brasil, é melhor o cara fingir que não viu e seguir o caminho dele. Mas pô, comprar uma fonte na mão do falsário já é demais também, né?

Enfim, é um país de Aristides, onde o bonito, o certo, é ser ladrão, safado, salafrário, pilantra, corrupto...

Não tô dizendo que não se deve confiar no trabalho de ninguém. Acredito piamente que existem bons profissionais em todas as áreas, como você deve ser Bertola, a quem eu seguramente, mesmo sem conhecer pessoalmente, confiaria os meus instrumentos. Só quis dizer que as pessoas acabam adquirindo essa desconfiança em relação as pessoas por haver fundamentos.

allexcosta escreveu:

Seria delegacia de estelionato? Alguém aqui já tentou fazer denúncia em uma? Eu já...

Vai depender do que disser a Lei de organização da Polícia Judiciária do Estado, mas pode ocorrer sim de ser da competência da Delegacia de Estelionatos.

Na dúvida, uma delegacia sem atribuições específicas pode receber a notícia criminis, ou se for o caso, encaminhar a vítima ou o noticiante para a delegacia competente para a apuração do fato e início das investigações.

Delegacia do estelionato é muito legal.

- Queria denunciar um crime.
- Ih, rapaz, complicado. Sei nem se vale a pena.
- Mas eu quero denunciar.
- Vixe, tem que ver com "us minino" aí se eles vão correr atrás, porque coisa pequena eles não vão não.
- Ainda quero denunciar.
- Pode falar
- Blah blah blah
- Ih, meu irmão, isso aí nem rola mexer. Advogado porta de cadeia livra ele em 2 horas e ele ainda te processa por difamação.

Diálogo real vivido por mim.

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Dá vontade de sair da Delegacia de Estelionato e ir Direito no Ministério Público denunciar o crime em si, e o agente da polícia por prevaricação.

^ E o agente até que me tratou bem, pra você ver.

Tava ele e uma menina novinha tomando sorvete e olhando facebook. Toda hora interrompia o colega pra mostrar uma foto da prima, do cunhado, ou sei lá...

Uma coisa que não consigo entender direito nessa indústria de falsificação brasileira é esse negócio do adesivo Custom Shop atrás. Pra quem entende o mínimo é um atestado de que o instrumento é falso. Instrumento Custom Shop é caro, é diferenciado (acabamento superior), é raro no Brasil (custo proibitivo). Só para enganar besta mesmo.

Na verdade seria uma dica bem simples sobre falsificação: tem adesivo Custom Shop? Custa muito menos de R$10.000,00 (mesmo usado)? Pode por o carimbo de falso!

O legal é que não é só instrumento e carro com velocímetro adulterado que temos por aqui... Tem relógios, bolsas, roupas, tênis, microfones, mulheres... enfim, muitas coisas!!!

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Mulheres foi tenso. kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Pior é que é verdade.

Tem mina falsificada ai que se passa por verdadeira e muitas vezes o cidadão descobre tarde demais!!!

Maurício_Expressão escreveu:    Tem mina falsificada ai que se passa por verdadeira e muitas vezes o cidadão descobre tarde demais!!!

As vezes tem cidadão que sabe que é falsificada e mesmo assim vai pra cima!!

Maurício_Expressão escreveu:    Tem mina falsificada ai que se passa por verdadeira e muitas vezes o cidadão descobre tarde demais!!!

Pois é. Encomendei uma dessas na deep web pra colocar na porta da garagem do vizinho chato e era falsificada. Pode?

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Tem de meter o ferro!!!

O pior é que estas coisas fazem o vendedor honesto ter problemas.
Eu mesmo vendi uma Fender Telecaster USA no ML e foi difícil. Como eu tinha trazido a guitarra dos eua e tinha outras duas telecaster sunburst, decidi vender uma delas, coloquei anúncio no ML pelo preço de custo e levei uns 3 meses para vender. Vários perguntavam mas ninguém pagava. O comprador depois me ligou agradecendo por eu ter vendido uma guitarra não falsificada.... vai entender.... isto não é obrigação?
Ele falou que demorou muito para comprar pois estava achando muito barato...