Depoimento de músico sobre a ditadura
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Depoimento de músico sobre a ditadura
Achei curioso e pra refletir
Texto do Aldo Landi guitarrista e professor de Sp.
Texto do Aldo Landi guitarrista e professor de Sp.
Olhem só que legal: De Felipe Garcia : Aldo, conte-nos como era na época da ditadura, e como era trabalhar com música nessa época por favor: ----Trabalho desde os 12 anos. Em Em abril de 1973 entrei no grupo ama como assistente do Marcos Rampazzo, e seis meses depois passei a professor. O salário era uma merreca, mas dava para comprar altas gibson e fender dos anos 60. Era baratinho. E tinham muitas. As bandas de baile imperavam e trocavam muito de instrumento. Eu comprei uma Fender 71 e uma les paul 68. logo depois uma Guild 64 e uma Gibson ES125 1966. Enfim, guitarras apareciam e sumiam. A quantidade de alunos era astronômica pq a escola era da família que fazia a revistinha de cifra. Som total: MPB matadora, Rock animal e Jazz de primeiro mundo. Muito Soul e Blues. Muito som na noite, muitos bares e nunca fiquei sem trabalho como agora, e com esse som lixo na rua. Eu vivi os melhores anos da minha vida na ditadura. Também Gil, Caetano, Chico, Mutantes, e etc.. pq foi lá que eles fizeram fama.Eles fizeram fama naqueles anos. Ninguém me enchia o saco e eu andava com a carteira de trabalho assinada. Nem tinha carteira de músico. Então, militar era um troço que usava farda e só. De vez em quando aparecia um comunista morto, mas a treta é que esse também ja tinha dizimado uma dúzia de soldados. Esses animais se fazem de santo e de coitadinho. Mataram o Gil?, o Caetano?, o Chico?, o Pepeu?, a Rita? mas esses malditos militares mataram quem? nenhum desses citados foi torturado não. Não: - estão aí querendo mamar até depois da cova. Por fim, a coisa começou a melar em 1987/88 justamente quando o deus da esquerda, FHC ,promulgou a Constituição Socialista que aí está, e começou seu plano de azarar com a educação e arte. Deu nisso. Quer saber se estou falando a verdade? pegue uma relação de 5 gravadoras de 1966 a 1986 e veja a quantidade gigantesca que era lançada aqui. Só som de prima! E esses coitados? Ah, estão todos milionários. Mas por causa da Lei Rouanet, claro. Quem morreu, foi de overdose mesmo. Nós tínhamos trabalho pra KCT. E, se vc não enchesse o saco dos milicos eles nem saberiam que vc existia. Sacou? A maldita guerrilha estava lá no Araguaia. Aqui não pegava nada . De vez em quando um desses 60$T@$ faziam um ou outro atentado .. Mas a população vivia de boa.Pergunte aos seus avós. o Alemão, o Heraldo, o Ari gravavam sem parar. Shows todos os dias, exceto segundas. SP tinha boates cujo som era animal. Que época!. Depois que a esquerda chegou, acabou a qualidade. Explico: quando a esquerda era oposição, todos falavam pela arte. Depois que colocaram as garras nos incentivos das leis de apoio, não sabem mais o que falar. Então vão falar de sexo e drogas enquanto estiverem no poder. Antes havia um objetivo social. Hoje, só interessa o status financeiro. É isso. escreveu:
Fernando Zadá- Moderador
- Mensagens : 14306
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
Que os jogos comecem...
pedrohenrique.astronauta- Membro
- Mensagens : 9202
Localização : Volta Redonda-RJ
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
Curioso que alguns comentaram que a visão da Rita Lee na biografia dela é parecida.... eu não li mas fiquei até curioso.
Lógico que sou contra qualquer tipo de ditadura mas é curioso que não foi a primeira coisa que li sobre como nem tudo era tão ruim como muitos pintam.
Lógico que sou contra qualquer tipo de ditadura mas é curioso que não foi a primeira coisa que li sobre como nem tudo era tão ruim como muitos pintam.
Fernando Zadá- Moderador
- Mensagens : 14306
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
Bem... É um pouco complicado.
Essa é a visão dele. Mas, a meu ver, há muito de nostalgia no que ele escreveu. Muito do "na minha época".
Várias coisas que ele descreve sofreram declínio natural por mudança de tecnologia e fatores de mercado. Gravadoras praticamente não existem mais em qualquer lugar do mundo. O P2P matou o mercado fonográfico. Além disso, a qualidade musical caiu em todo o mundo.
E, é preciso lembrar, governar numa ditadura é muito mais fácil. Você não tem que discutir os assuntos. Lembro quando aqui no fórum muita gente ficou chateada porque algumas decisões foram tomadas sem ouvir todos os membros. Isso seria simplesmente impossível.
E é bom também lembrarmos que a ditadura do Brasil foi uma das mais brandas da América Latina. E numa situação política onde quem discorda morre, muito menos gente discorda, é óbvio.
Assim, a democracia brasileira é uma *&$#? É... Uma ditadura seria melhor? Duvido.
Eu lembro de parte do governo Figueiredo e o Brasil era um caos completo, da mesma forma que é hoje. As pessoas da minha família que lembram bem da ditadura dizem que economicamente era a mesma b&^% de sempre, mas você não podia dizer o que pensava. Minha vó queimou vários livros da minha mãe para não correrem o risco de problemas com o governo.
Enfim, tem que analisar de maneira um pouco mais profunda.
E essa esquerda Brasileira de sindicalista que coça o saco o dia todo não é também a esquerda de verdade. É gente que se veste do emblema pra se aproveitar da situação. Em contrapartida, parece que a esquerda de verdade tem o péssimo hábito de se corromper quando adquire algum poder.
O ser humano é ruim, seja ele de direita ou esquerda. Existiram ditaduras sanguinárias dos dois lados. E dá pra dizer que a ditadura militar Brasileira era de direita? Com o estado centralizado? Enfim, joga uma bomba que resolve. Fora isso, tudo farinha do mesmo saco. O Brasil está elegendo um presidente de direita. Daqui um tempo eu vou voltar nesses tópicos e dizer "tá vendo?". Tenho certeza disso.
Essa é a visão dele. Mas, a meu ver, há muito de nostalgia no que ele escreveu. Muito do "na minha época".
Várias coisas que ele descreve sofreram declínio natural por mudança de tecnologia e fatores de mercado. Gravadoras praticamente não existem mais em qualquer lugar do mundo. O P2P matou o mercado fonográfico. Além disso, a qualidade musical caiu em todo o mundo.
E, é preciso lembrar, governar numa ditadura é muito mais fácil. Você não tem que discutir os assuntos. Lembro quando aqui no fórum muita gente ficou chateada porque algumas decisões foram tomadas sem ouvir todos os membros. Isso seria simplesmente impossível.
E é bom também lembrarmos que a ditadura do Brasil foi uma das mais brandas da América Latina. E numa situação política onde quem discorda morre, muito menos gente discorda, é óbvio.
Assim, a democracia brasileira é uma *&$#? É... Uma ditadura seria melhor? Duvido.
Eu lembro de parte do governo Figueiredo e o Brasil era um caos completo, da mesma forma que é hoje. As pessoas da minha família que lembram bem da ditadura dizem que economicamente era a mesma b&^% de sempre, mas você não podia dizer o que pensava. Minha vó queimou vários livros da minha mãe para não correrem o risco de problemas com o governo.
Enfim, tem que analisar de maneira um pouco mais profunda.
E essa esquerda Brasileira de sindicalista que coça o saco o dia todo não é também a esquerda de verdade. É gente que se veste do emblema pra se aproveitar da situação. Em contrapartida, parece que a esquerda de verdade tem o péssimo hábito de se corromper quando adquire algum poder.
O ser humano é ruim, seja ele de direita ou esquerda. Existiram ditaduras sanguinárias dos dois lados. E dá pra dizer que a ditadura militar Brasileira era de direita? Com o estado centralizado? Enfim, joga uma bomba que resolve. Fora isso, tudo farinha do mesmo saco. O Brasil está elegendo um presidente de direita. Daqui um tempo eu vou voltar nesses tópicos e dizer "tá vendo?". Tenho certeza disso.
allexcosta- Administrador
- Mensagens : 54835
Localização : Terra
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
"De vez em quanto aparecia um comunista morto, mas...."
O "mas" relativizando morte e violência. O "xis" do que estamos vivendo é isso. Pensar no outro é fraqueza, coisa de comunista. Isso é triste, cara.
O "mas" relativizando morte e violência. O "xis" do que estamos vivendo é isso. Pensar no outro é fraqueza, coisa de comunista. Isso é triste, cara.
edumerino- Membro
- Mensagens : 3369
Localização : São Paulo/SP
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
Sobre a empatia e o senso de coletividade:
Converso com minha mae que se aposentou e depois voltou a trabalhar com reclamações publicas
Ela diz que comparando com 10 anos atras as pessoas no serviço dela nao criam nenhum senso de coletividade, pouco conversam e quando conversam é alfinetando o outro. Nao é um dialogo aberto.
Durante o serviço tratam tudo de forma mecanizada, colocam fones de ouvido e pau na máquina. Ela diz achar muito estranho quando compara com, pelo menos, 10 anos atras.
Converso com minha mae que se aposentou e depois voltou a trabalhar com reclamações publicas
Ela diz que comparando com 10 anos atras as pessoas no serviço dela nao criam nenhum senso de coletividade, pouco conversam e quando conversam é alfinetando o outro. Nao é um dialogo aberto.
Durante o serviço tratam tudo de forma mecanizada, colocam fones de ouvido e pau na máquina. Ela diz achar muito estranho quando compara com, pelo menos, 10 anos atras.
AndréBurger- Membro
- Mensagens : 925
Localização : São Paulo
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
edumerino escreveu:"De vez em quanto aparecia um comunista morto, mas...."
O "mas" relativizando morte e violência. O "xis" do que estamos vivendo é isso. Pensar no outro é fraqueza, coisa de comunista. Isso é triste, cara.
Pode crer, bem notado.
Essa nova onda direitista e populista do mundo é parte do antigo conceito de criar um monstro e te dar a proteção. Destruindo suas liberdades individuais no processo.
Polícia entra na favela e mata 20, 5 eram pessoas de bem. Fazer o quê, né? Efeito colateral. Igual os EUA fez no Iraque quando invadiu supostamente para salvar o povo de um ditador malvadão e destruiu o país completamente.
allexcosta- Administrador
- Mensagens : 54835
Localização : Terra
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
Também não levo ao pé da letra e nem concordo com tudo mas acho interessantes algumas visões.
Óbvio que temos N fatores que fizeram as coisas mudarem e caminharem para outro lado mas esse texto dele na minha opinião reflete muito do pensamento de uma geração que hoje esta buscando esse movimento mais a direita.
Concordo muito com isso aqui
Óbvio que temos N fatores que fizeram as coisas mudarem e caminharem para outro lado mas esse texto dele na minha opinião reflete muito do pensamento de uma geração que hoje esta buscando esse movimento mais a direita.
Concordo muito com isso aqui
Fernando Zadá- Moderador
- Mensagens : 14306
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
Como contraponto ao depoimento do tópico, eu recomendo fortemente a leitura do livro "Eu não sou cachorro não" do jornalista Paulo César de Araujo
Ele fala basicamente sobre como cantores populares tipo Odair José, Waldik Soriano, Nelson Ned e etc. que não faziam "música de protesto" e nem tinham nada a ver com a oposição à ditadura também foram grandemente afetados pela censura e pela repressão
Também é interessante observar que o regime aqui no Brasil tinha um caráter moralista muito forte, e o choque com os citados Gil, Caetano, Pepeu, Rita, etc. se dava muito mais por eles serem subversivos na questão dos costumes (uso de drogas, sexualidade não-normativa, etc.) do que por serem bastiões do comunismo e do engajamento político
Ele fala basicamente sobre como cantores populares tipo Odair José, Waldik Soriano, Nelson Ned e etc. que não faziam "música de protesto" e nem tinham nada a ver com a oposição à ditadura também foram grandemente afetados pela censura e pela repressão
Também é interessante observar que o regime aqui no Brasil tinha um caráter moralista muito forte, e o choque com os citados Gil, Caetano, Pepeu, Rita, etc. se dava muito mais por eles serem subversivos na questão dos costumes (uso de drogas, sexualidade não-normativa, etc.) do que por serem bastiões do comunismo e do engajamento político
GRRS- Membro
- Mensagens : 203
Localização : São Paulo
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
Parei de ler em "Esses animais se fazem de Santos e coitadinhos" , sinceramente...estou perdendo o gosto por leitura ultimamente por conta de depoimentos desse tipo , não sei , me causa asco.
Cantão- Moderador
- Mensagens : 21976
Localização : Bauru
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
2Cantão escreveu:Parei de ler em "Esses animais se fazem de Santos e coitadinhos" , sinceramente...estou perdendo o gosto por leitura ultimamente por conta de depoimentos desse tipo , não sei , me causa asco.
Mauricio Luiz Bertola- FCBR-CT
- Mensagens : 16619
Localização : Niterói, RJ
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
Fernando Zadá, meu avô (ainda vivo) foi pego dentro de casa pelos milicas, levado aos porões escuros de sei lá onde e torturado pela ditadura. Voltou pra casa vários dias depois todo esculhambado, escorado pelos filhos.
Ele foi motorista de algumas pessoas importantes e também trabalhava num sindicato X (não citarei aqui).
Ninguém comenta na frente dele, mas essas histórias são repassadas de parente para parente, geralmente tendo ele como vítima (lógico é da família a tendência é defender).
Que eu saiba, pelo menos aqui em casa e, com muito respeito, fui o primeiro a fazer as seguintes perguntas e ninguém sabe responder:
- Alguém sabe o que ele fazia no trabalho (ver pessoalmente, acompanhar em todas as atividades, não apenas pelo seu relato)?
- Alguém sabe quantos contatos e quais amigos que ele tinha?
- Alguém viu para onde ele ia e o que fazia nas várias viagens que ficava fora de casa por vários dias?
A resposta para todas elas é NÃO. Nem minha avó (já falecida) sabia. Nem sabia o quanto ele ganhava no trabalho, se era muito ou se era pouco (mulher nesta época era só dona de casa mesmo, não tinha que se meter nos assuntos do marido).
Ele mesmo nunca disse nada nem sobre sua prisão nem sobre nada dessa época. São apenas histórias que um passa para o outro, no caso os filhos que foram testemunhas oculares da prisão e minha falecida avó que abriu as portas de casa e praticamente o entregou pois os milicas se apresentaram como sendo "amigos do sindicato que precisavam falar com ele, enquanto esperavam ele voltar do trabalho". Partiu até de meus tios querer alguma indenização atual para ele sobre aquele período. Pediram minha ajuda na parte de informática e eu fucei o que pude mas não há mais qualquer ligação dele com aquele período.
Seria interessante ver os documentos dos motivos reais do lado "obscuro da força" se não tivessem sido exterminados. Não há registro de nada sobre ele desta época. Nem de amigos, nem dos contemporâneos, nada. Tanto o silêncio dele quanto do outro lado me fazem perguntar quem realmente tinha razão.
Foi mesmo só um ligeiro relato aqui que serve para todas as pessoas que tendem a julgar apenas uma das partes como sendo a vítima. Apenas me peguei defendendo sem saber de nada da verdade e decidi, por conta própria, questionar e, pelo jeito, vou levar esses questionamentos para a sepultura, assim como meu avô levará as lembranças e os fatos daquela época também para a dele.
Ele foi motorista de algumas pessoas importantes e também trabalhava num sindicato X (não citarei aqui).
Ninguém comenta na frente dele, mas essas histórias são repassadas de parente para parente, geralmente tendo ele como vítima (lógico é da família a tendência é defender).
Que eu saiba, pelo menos aqui em casa e, com muito respeito, fui o primeiro a fazer as seguintes perguntas e ninguém sabe responder:
- Alguém sabe o que ele fazia no trabalho (ver pessoalmente, acompanhar em todas as atividades, não apenas pelo seu relato)?
- Alguém sabe quantos contatos e quais amigos que ele tinha?
- Alguém viu para onde ele ia e o que fazia nas várias viagens que ficava fora de casa por vários dias?
A resposta para todas elas é NÃO. Nem minha avó (já falecida) sabia. Nem sabia o quanto ele ganhava no trabalho, se era muito ou se era pouco (mulher nesta época era só dona de casa mesmo, não tinha que se meter nos assuntos do marido).
Ele mesmo nunca disse nada nem sobre sua prisão nem sobre nada dessa época. São apenas histórias que um passa para o outro, no caso os filhos que foram testemunhas oculares da prisão e minha falecida avó que abriu as portas de casa e praticamente o entregou pois os milicas se apresentaram como sendo "amigos do sindicato que precisavam falar com ele, enquanto esperavam ele voltar do trabalho". Partiu até de meus tios querer alguma indenização atual para ele sobre aquele período. Pediram minha ajuda na parte de informática e eu fucei o que pude mas não há mais qualquer ligação dele com aquele período.
Seria interessante ver os documentos dos motivos reais do lado "obscuro da força" se não tivessem sido exterminados. Não há registro de nada sobre ele desta época. Nem de amigos, nem dos contemporâneos, nada. Tanto o silêncio dele quanto do outro lado me fazem perguntar quem realmente tinha razão.
Foi mesmo só um ligeiro relato aqui que serve para todas as pessoas que tendem a julgar apenas uma das partes como sendo a vítima. Apenas me peguei defendendo sem saber de nada da verdade e decidi, por conta própria, questionar e, pelo jeito, vou levar esses questionamentos para a sepultura, assim como meu avô levará as lembranças e os fatos daquela época também para a dele.
Moshe Bar Elohim- Membro
- Mensagens : 2252
Localização :
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
Seu avô junta-se à muitos que eu conheci pessoalmente e outros cujos parentes vieram me contar (o avô de minha esposa e etc, etc...).Moshe Bar Elohim escreveu:Fernando Zadá, meu avô (ainda vivo) foi pego dentro de casa pelos milicas, levado aos porões escuros de sei lá onde e torturado pela ditadura. Voltou pra casa vários dias depois todo esculhambado, escorado pelos filhos.
Ele foi motorista de algumas pessoas importantes e também trabalhava num sindicato X (não citarei aqui).
Ninguém comenta na frente dele, mas essas histórias são repassadas de parente para parente, geralmente tendo ele como vítima (lógico é da família a tendência é defender).
Que eu saiba, pelo menos aqui em casa e, com muito respeito, fui o primeiro a fazer as seguintes perguntas e ninguém sabe responder:
- Alguém sabe o que ele fazia no trabalho (ver pessoalmente, acompanhar em todas as atividades, não apenas pelo seu relato)?
- Alguém sabe quantos contatos e quais amigos que ele tinha?
- Alguém viu para onde ele ia e o que fazia nas várias viagens que ficava fora de casa por vários dias?
A resposta para todas elas é NÃO. Nem minha avó (já falecida) sabia. Nem sabia o quanto ele ganhava no trabalho, se era muito ou se era pouco (mulher nesta época era só dona de casa mesmo, não tinha que se meter nos assuntos do marido).
Ele mesmo nunca disse nada nem sobre sua prisão nem sobre nada dessa época. São apenas histórias que um passa para o outro, no caso os filhos que foram testemunhas oculares da prisão e minha falecida avó que abriu as portas de casa e praticamente o entregou pois os milicas se apresentaram como sendo "amigos do sindicato que precisavam falar com ele, enquanto esperavam ele voltar do trabalho". Partiu até de meus tios querer alguma indenização atual para ele sobre aquele período. Pediram minha ajuda na parte de informática e eu fucei o que pude mas não há mais qualquer ligação dele com aquele período.
Seria interessante ver os documentos dos motivos reais do lado "obscuro da força" se não tivessem sido exterminados. Não há registro de nada sobre ele desta época. Nem de amigos, nem dos contemporâneos, nada. Tanto o silêncio dele quanto do outro lado me fazem perguntar quem realmente tinha razão.
Foi mesmo só um ligeiro relato aqui que serve para todas as pessoas que tendem a julgar apenas uma das partes como sendo a vítima. Apenas me peguei defendendo sem saber de nada da verdade e decidi, por conta própria, questionar e, pelo jeito, vou levar esses questionamentos para a sepultura, assim como meu avô levará as lembranças e os fatos daquela época também para a dele.
Eu trabalhei com isso, com os arquivos da repressão política, no Arquivo Público do Estado de São paulo entre 1991 e 1995. Muita documentação (principalmente pós 1969) foi destruída ou nunca exarada (a repressão atuava de forma semi-clandestina). Os casos que vi, as pessoas com quem falei e as ameaças de morte que EU sofri (por estar trabalhando lá) foram estarrecedoras, e desmentem esse depoimento acima (de um grande músico, que merece todo o respeito). Muitos dos meus professores (um deles recentemente falecido e meu amigo pessoal) sofreram torturas bárbaras. Pessoas que eram suspeitas (de forma totalmente aleatória) eram presas "do nada" e muitas vezes eram torturadas. Minha família, quando se dirigia para Recife, no final de 1968 foi parada em uma "blitz" do Exército em busca de "guerrilheiros" no norte da Bahia e o carro todo revidado, até que eles descobriram que meu pai era Capitão de Corveta da Marinha Brasileira (ele não se apresentou de propósito); em 1972 meu pai denunciou um grave esquema de corrupção na Marinha (já como Capitão de Fragata e dos Portos do RN), e assim por diante...
Posso ficar horas aqui descrevendo casos e mais casos de prisões arbitrárias, torturas, corrupção e etc...
Moshe, seu avô conta com minha admiração, e, embora eu não seja religioso, vou elevar meus pensamentos em prol dele, e de muitos outros...
Receba um afetuoso abraço.
Mauricio Luiz Bertola- FCBR-CT
- Mensagens : 16619
Localização : Niterói, RJ
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
Calma gente só compartilhei porque achei curioso e concordo com o Allex tem muito mais coisa que influenciou toda essa mudança que ele sentiu e acho curioso o saudosismo de alguns desse período.
Bom para refletir sobre como alguns enxergaram um período bem conturbado de nossa história.
Bom para refletir sobre como alguns enxergaram um período bem conturbado de nossa história.
Fernando Zadá- Moderador
- Mensagens : 14306
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
Moshe Bar Elohim escreveu:meu avô
Como assim, brother?
Não importa o que seu avô fazia, se era terrorista, assassino, sei lá o quê... Não pode prender gente e torturar não, cara. O processo punitivo de uma sociedade de bem passa por um julgamento justo.
Eu hein...
allexcosta- Administrador
- Mensagens : 54835
Localização : Terra
Re: Depoimento de músico sobre a ditadura
Com o devido respeito ao depoimento do Moshe, mas não existe justificativa pra tortura.
Esses milicos torturadores eram um bando de covardes. Conheço um deles que sobrou. Pessoa temida no RJ. Hoje anda se escondendo, não usa identidade de nenhum tipo. Deve ser procurado. Dá uma de cristão arrependido, vai a cultos regularmente (não creio em arrependimento, deve é pedir pra não ser descoberto), sofreu um AVC uns bons anos atrás quando foi procurado pela justiça, mas deu sorte e ficou sem sequelas.
Eu o conheço tem uns 20 anos. Duvido que o nome dele seja verdadeiro.
O covarde FDP fez coisas horriveis (segundo contam), mas como todo covarde, nao foi homem e não teve coragem de assumir seus atos perante a justiça.
Só quem sente saudades dessa época é quem não a viveu ou quem passou por ela sem se posicionar, aceitando todas atrocidades e covardias cometidas por aqueles pulhas , ou então quem era amigo deles e levava vantagens.
É uma pena que calaram a comissão da verdade.
Esses milicos torturadores eram um bando de covardes. Conheço um deles que sobrou. Pessoa temida no RJ. Hoje anda se escondendo, não usa identidade de nenhum tipo. Deve ser procurado. Dá uma de cristão arrependido, vai a cultos regularmente (não creio em arrependimento, deve é pedir pra não ser descoberto), sofreu um AVC uns bons anos atrás quando foi procurado pela justiça, mas deu sorte e ficou sem sequelas.
Eu o conheço tem uns 20 anos. Duvido que o nome dele seja verdadeiro.
O covarde FDP fez coisas horriveis (segundo contam), mas como todo covarde, nao foi homem e não teve coragem de assumir seus atos perante a justiça.
Só quem sente saudades dessa época é quem não a viveu ou quem passou por ela sem se posicionar, aceitando todas atrocidades e covardias cometidas por aqueles pulhas , ou então quem era amigo deles e levava vantagens.
É uma pena que calaram a comissão da verdade.
Rico- Eterno Colaborador
- Mensagens : 4894
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