A vida analógica é um referencial

A vantagem de colecionar primaveras é que acumulamos experiência! A experiência nos ajuda a compreender a vida, lidar melhor com os desafios que ela traz, ser mais prudente, além de nos permitir/proporcionar acesso a experiências que os mais novos talvez não tenham (sobretudo aquelas que são anacrônicas para os dias de hoje).

Nossos pais viviam a nos contar sobre coisas inerentes ao tempo deles e agora... vejamos bem, temos algo semelhante a passar para nossos filhos. Falo da convivência com o analógico. Já parou para pensar que já existe uma geração que não sabe (viveu) o que é isso e diversas outras jamais saberão (viverão)?

Vivíamos em um tempo (caso você tenha pelo menos uns 35 anos) em que no nosso dia a dia não havia Internet difundida e acessível, onde os computadores tinham um desempenho lento e limitado e não faziam parte do nosso cotidiano, nós calculávamos mais, decorávamos números de telefone, sabíamos a tabuada e como fazer uma divisão com dois ou mais números na chave usando apenas um lápis e papel (hehe), conhecíamos o nome e a ordem das músicas nos nossos discos favoritos, decorávamos caminhos com facilidade e uma porção de outras coisas que a vida analógica nos exigia (ou proporcionava, se preferir).

O contato com essa vida nos dá melhores condições de comparar o real do virtual. E digo isso num sentido muito mais amplo que meramente entender que uma rede social expõe a vida ideal das pessoas e não o que de fato elas são. Digo isso no sentido de saber separar ativismo bobo, polêmicas, modas como essa última dos cancelamentos, ideias que só fazem sentido no “www” e o principal de tudo, perceber a ação constante dos algoritmos nos sugerindo conteúdo e moldando não só nossos hábitos de compra como nossa opinião sobre as coisas.

Já parou para pensar que há uma geração que foi e outras demais que serão introduzidas nesse sistema doente dominado pela “assertividade” dos algoritmos sem ter a menor noção do que as influencia?

Boa reflexão!

Essa reflexão eu faço o tempo todo. E por um motivo bem claro: Sou Professor de ensino secundário profissionalizante e universitário; ou seja, meus alunos vivem nesse mundo (minha filha também), e nada como o passar das décadas e a formação que construí para me possibilitar o viés crítico necessário para perceber o quanto certas questões estão se tornando tremendamente importantes e moldando um futuro diverso daquele que à décadas atrás vislumbrávamos.
Alguma conclusões (de modo algum peremptórias) do que está por vir me vem à mente:
1) Incremento exponencial do processo de atomização social, o que, em muitos casos gera grande falta de empatia com o "outro".
2) Incremento exponencial das "culturas de nicho".
3) Dependência cada vez maior do meio digital e de seus aparatos, reduzindo muito o tempo realmente livre das pessoas, tão necessário para o desenvolvimento da criatividade, da cognitividade e da capacidade crítica das pessoas, além de representar um incremento enorme da exploração do trabalho e reforço do consumo excessivo.
4) Um curioso choque de gerações, no qual as pessoas mais velhas parecem ter "horizontes" intelectuais e afetivos, bem como maior interação homem-natureza que as gerações mais novas.
5) Incremento exponencial da noção/conceito de "velocidade" (aqui a questão extrapola a simples grandeza física, para tornar-se existencial/moral).

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Acho bastante válido o prognóstico

Como você mesmo colocou, é bastante leviano afirmar categoricamente efeitos futuros de um processo em andamento. Ainda assim, do alto da minha limitação sinto-me tentado a colocar em cheque se há nisso evolução ou involução do sapiens, sobretudo intelectual, mas também considerando aspectos físicos, uma vez que já utilizamos apps para resolver questões fúteis e triviais como trocar um pneu de um carro ou para se deslocar por três quadras.

Henri-Q escreveu:^
Acho bastante válido o prognóstico

Como você mesmo colocou, é bastante leviano afirmar categoricamente efeitos futuros de um processo em andamento. Ainda assim, do alto da minha limitação sinto-me tentado a colocar em cheque se há nisso evolução ou involução do sapiens, sobretudo intelectual, mas também considerando aspectos físicos, uma vez que já utilizamos apps para resolver questões fúteis e triviais como trocar um pneu de um carro ou para se deslocar por três quadras.

Eu realmente não posso dizer se isso proporcionará uma suposta evolução ou involução - até porque, o futuro não existe.

Analógico é a melhor vida (para o meus ouvidos!!!)

Henri-Q escreveu:Já parou para pensar que há uma geração que foi e outras demais que serão introduzidas nesse sistema doente dominado pela “assertividade” dos algoritmos sem ter a menor noção do que as influencia?

Já, inúmeras vezes. Por isso acho que nossa civilização eventualmente chegará a uma situação intelectual muito similar à do filme "Idiocracia", que já mencionei aqui tantas vezes. Isso se uma singularidade tecnológica não nos dizimar primeiro, o que acho muito provável.

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Vou assistir.

allexcosta escreveu:

Henri-Q escreveu:Já parou para pensar que há uma geração que foi e outras demais que serão introduzidas nesse sistema doente dominado pela “assertividade” dos algoritmos sem ter a menor noção do que as influencia?

Já, inúmeras vezes. Por isso acho que nossa civilização eventualmente chegará a uma situação intelectual muito similar à do filme "Idiocracia", que já mencionei aqui tantas vezes. Isso se uma singularidade tecnológica não nos dizimar primeiro, o que acho muito provável.

Concordo.

Interessante também são os paradoxos desse novo modelo de vida, amparado pelo universo digital. Vejamos o estudo da música, por exemplo; antes tínhamos escassez de conteúdo e mais tempo para digeri-lo, hoje temos acesso a um vasto conteúdo, mas se não houver foco e disciplina, não passa de dados que jamais se transformarão em informação.

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Isso se chama excesso de informação; já me afligiu o excesso de notícias/informações que tive acesso.

Lia coisas que depois nem me lembrava de ter lido

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Pois é... Li algo sobre FOMO https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_de_FOMO?wprov=sfla1, que é um transtorno nesse sentido