2 notas numa boca só...

Henrique Alencar escreveu:Não ví ele fazer duas notas simultâneas.
Acho que isso é impossivel.

O Canto Harmónico: Overtone ou Throat-Singing

Foi em 1977 que pela primeira vez o Tuvan Throat-Singing chegou aos ouvidos do mundo musical ocidental, pelas mãos de Richard Feynman – escritor, físico, filósofo, e um dos verdadeiros génios do séc. XX (que muitos afirmaram ser o herdeiro de Einstein). Após ouvir uma gravação de um excerto de Canto Harmónico, enviou-a ao amigo etno-musicologista Ted Levin, que a divulgou ao meio musical. E, de facto, nos últimos anos, nada atraiu mais a atenção dos entusiastas das Músicas do Mundo como o Throat-Singing.

Quando escutamos pela primeira vez o throat-singing, é natural questionarmo-nos como é possível produzir aqueles sons “sobrenaturais” e múltiplos a uma só voz. De facto, ainda que à primeira impressão identifiquemos duas ou três vozes a entoar melodias, a verdade é que, por muito surpreendente que possa ser, estamos perante uma única pessoa que produz simultaneamente todas as linhas vocais. As melodias em si são até bastante simples, e os ritmos reproduzem maioritariamente o galopar dos cavalos. Além disso, este tipo único de canto encontra-se intimamente ligado às crenças animistas do povo mongol e tuvano: a intenção é que o som imite os sons da Natureza, numa tentativa de duplicar os timbres ricos dos fenómenos naturais, como o vento ou a água corrente. Acredita-se que as montanhas, os rios e todos os animais possuam uma grande energia espiritual, manifestada não só física como sonoramente, e os cantores de throat-singing acreditam que podem assimilar esse poder através da recriação destes sons.

O Khöömei – termo mongol que designa este tipo de canto harmónico – é então uma extraordinária técnica vocal, em que um único cantor produz simultaneamente duas ou três linhas vocais através da ampliação selectiva de harmónicos, e está firmemente associada à região de Tuva, essencialmente devido à proliferação de gravações oriundas deste país. Mas o throat-singing é também interpretado por povos mongóis ocidentais, como os Baits, Torguts e os Altai Urianghais, bem como pelos Khalkhas nas fronteiras da Mongólia Ocidental.

Um outro povo que interpreta o Overtone-Singing dá pelo nome de Inuit (referido habitualmente como o povo Esquimó), e habita várias regiões árcticas da América do Norte. Apesar das alterações provocadas pela modernização no estilo de vida deste povo, a caça e a pesca mantêm-se, desde há séculos, os seus principais meios de subsistência. No passado, as expedições de caça, nas quais se integravam exclusivamente os homens, chegavam a prolongar-se durante mais de um mês: é desta forma que se justifica que, ao contrário dos povos mongol e tuvano, nos quais apenas os homens praticam o canto harmónico, o throat-singing se tenha desenvolvido entre as mulheres do povo Inuit, como uma forma de entretenimento durante as longas temporadas passadas sem os homens.

O canto harmónico entre os Inuit, em contraste com o throat-singing praticado na Mongólia e em Tuva, é caracterizado por sons profundos e aspirados, e pela sua técnica complexa a nível rítmico. Duas mulheres, por vezes quatro, colocam-se frente a frente a pouca distância uma da outra, e por vezes segurando os braços da companheira, e cantam, sendo que uma lidera e a outra acompanha: a voz que assume o papel de líder estabelece uma frase curta, rítmica e rápida, à qual a segunda voz deve responder integrando-se nas pausas entre os sons da frase principal. Esta performance é encarada como uma espécie de jogo ou desafio, até porque a primeira cantora a ficar sem fôlego, ou a não conseguir acompanhar o ritmo da companheira, sai derrotada. E uma boa performer vai alterando, de forma subtil, o ritmo das suas frases.

Podemos encontrar diferentes variações do Inuit throat-singing no Canadá, sendo que a forma mais comum dá pelo nome de katajjaq, no Norte do Quebec. Neste estilo, tal como no throat-singing mongol e tuvano, os cantores imitam frequentemente os sons da Natureza e do quotidiano, tal como o ladrar dos cães, o assobio do vento ou o zumbir dos insectos. Esta tradição foi fortemente desencorajada pelos cristãos missionários durante vários anos, mas começa actualmente a ganhar uma nova e enérgica popularidade entre a juventude Inuit, que considera o throat-singing como um importante meio de expressão da sua identidade cultural.

Binão escreveu:Japa Figuraça.

G. Kanazawa escreveu:

Binão escreveu:Japa Figuraça.

po.. o cara é mongol, não consegue ver a diferença? rsrs