Pra que serve o Rotary Club?
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Sério mesmo,dizem q alguns tem poderes de transformar um pássaro em Arráia..RFFanBR escreveu:Nando Vasques escreveu:Existe um grupo bem mais perigoso do q os Marçons q são os Manolos...
Tem razão
Nando Vasques- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
IMOPTEP ... Imoptep ... imoptep ...
Última edição por SHIP ROOM ESTUDIO em Qua Jan 11, 2012 5:17 pm, editado 1 vez(es)
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SHIP ROOM ESTUDIO- FCBR-Parceiro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Já falei NETO, hoje é seu dia!!!
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hamilton du baixo- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Verdade,o NETO pode estar tentando nos alertar de algo sério e sinistro q pode por em risco nossa segurança e vcs aqui brincando.Tonante escreveu:Pessoal, por favor... vamos respeitar o NETO. Isso é coisa séria...
Poderia nos falar um pouco mais NETOULTRA,se quiser me mande MP q te passo meu msn...
Nando Vasques- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Olha!! Denúncia!!! Eu quero ibagens!!!!
Que fique claro, não estou querendo ofender não, só pra dar uma descontraída mesmo... Falar desses clubes e ordens é meio complicado, é quase o mesmo que falar de religião e futebol, a linha é tênue entre a "conversa acalorada construtiva" e a "discussão sem razão".
Quem acompanhava o tópico do Brasileirão sabe do que estou falando hehe
Que fique claro, não estou querendo ofender não, só pra dar uma descontraída mesmo... Falar desses clubes e ordens é meio complicado, é quase o mesmo que falar de religião e futebol, a linha é tênue entre a "conversa acalorada construtiva" e a "discussão sem razão".
Quem acompanhava o tópico do Brasileirão sabe do que estou falando hehe
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edumerino- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Apesar de achar que clubes e ordens (e religiões) se confundem, tratar de ordens filosóficas É como tratar de religião, não tem jeito, mesmo para quem separa os conceitos.
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Qero ve os pessoau vim mi arremendá: tô nas regra do MEC. E se mi inplicar, vou proceçar por precomsseito lin... linguiç... é... de língoa!
andremega- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
ATENÇÃO: Quem contar qualquer coisa sobre qualquer coisa vai para uma sala secreta deste fórum destinada aos dedos de gesso, aos dedos de anzol, aos línguas nervosas, línguas de tamanduá, aos dedos duros, aos dedos de seta, aos dedos de cimento armado, aos línguas malditas, aos línguas de sabão e aos delatores e alcagüetes que abrirem o bico sobre qualquer coisa.
Última edição por Zubrycky em Qua Jan 11, 2012 5:38 pm, editado 1 vez(es)
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Nesse meio tempo, "Ph'nglui mglw'nafh Cthulhu R'lyeh wgah'nagl fhtagn."
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Zubrycky escreveu:ATENÇÃO: Quem contar qualquer coisa sobre qualquer coisa vai para uma sala secreta deste fórum destinada aos dedos de gesso, aos dedos de anzol, aos línguas nervosas, línguas de tamanduá, aos dedos duros, aos dedos de seta, aos dedos de cimento armado, aos línguas malditas, aos línguas de sabão e aos delatores e alcagüetes que abrirem o bico sobre qualquer coisa.
Viajou hein...
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Cayo Castro- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
hamilton du baixo escreveu:Já falei NETO, hoje é seu dia!!!
Todo dia é o meu dia..
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NETOULTRA- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Nando Vasques escreveu:Verdade,o NETO pode estar tentando nos alertar de algo sério e sinistro q pode por em risco nossa segurança e vcs aqui brincando.Tonante escreveu:Pessoal, por favor... vamos respeitar o NETO. Isso é coisa séria...
Poderia nos falar um pouco mais NETOULTRA,se quiser me mande MP q te passo meu msn...
MP enviada...
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NETOULTRA- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Nando Vasques escreveu:Sério mesmo,dizem q alguns tem poderes de transformar um pássaro em Arráia..RFFanBR escreveu:Nando Vasques escreveu:Existe um grupo bem mais perigoso do q os Marçons q são os Manolos...
Tem razão
Descobri o ídolo dos Manolos...
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Netão, taca o cadeado no topico aê!!!heheheehhe...
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hamilton du baixo- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Foi vocês que pediram...
Quem postar abaixo dessa linha assumirá as consequências...
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NETOULTRA- Membro
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subgrave- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
e agora Neto, já dá pra encher o peito e dizer: FU**U!!!!!!???????
basslave- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Alguém viu quem foi o criador do tópico? BRBRBRBRBRBRBR! Cuidado.
bernardo- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Vou resumir o que são esses clubinhos
Maçon um bando de gordos barrigudos de bigode que fazem festinhas e só sabem a rotary e peidary
Maçon um bando de gordos barrigudos de bigode que fazem festinhas e só sabem a rotary e peidary
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Sou da epoca em que baixo bom não precisava custar uma borboleta,que amplificador não era chaveiro
ct.colela- FCBR-CT
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
^ Foi péssima...
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Cayo Castro- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
ct.colela escreveu:Vou resumir o que são esses clubinhos
Maçon um bando de gordos barrigudos de bigode que fazem festinhas e só sabem a rotary e peidary
E quando as festas são lá no estrangeiro, eles rotary internacional.
Se bem que Rotary Club também pode ser indicativo de um local com um salão de encontro provido com um mecanismo interno de rotação do ambiente, o que o tornaria um clube ROTATÓRIO...
Adendo: Essas piadas foram postas só para mostrar que não importa o quanto uma piada seja má, ela sempre pode ser piorada.
Última edição por Zubrycky em Qui Jan 12, 2012 1:29 pm, editado 1 vez(es)
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
O que voces andam usando, eim?
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andremega- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
A única coisa que via do rotary é que 1x por mês eles vão em um hipermercado lá perto de casa e pedem pra ti comprar 1kg de alimento extra pra doar ali. Sempre tive curiosidade de saber do que se tratava (pois via algumas placas deles em praças etc) mas nunca pesquisei. Agora tenho uma noção hehe...
O pai de uma amiga minha é maçon e do rotary também, mas nunca quis perguntar nada pra ela.
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He who does not punish evil, commands it to be done. - Leonardo da Vinci
refuse / resist- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
^ Não pergunte...
Eles podem desconfiar que você sabe de algo. E acabarem com sua vida... ou então com este fórum.
Eles podem desconfiar que você sabe de algo. E acabarem com sua vida... ou então com este fórum.
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Cayo Castro- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
ta demorando pra surgir algum rotariano e começar a defender a causa aqui né???
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Como foi dito aqui a base de alguns como a maçonaria é bem louvável e bacana e o lance de se estudar e se aprofundar em questões filosóficas é bem interessante mas em todos esse lance de vaidade e de querer se promover com isso realmente complica. A idéia de se unir com pessoas a fim de promover o bem é bastante louvável mas o lance politico e como isso serve para trampolim de outros interesses é que atrapalha.
Pra quem deseja saber o que é maçonaria recomendo ler os livros escritos pelo Zé Rodrix maçom assumido e um excelente músico, compositor e com quem tive o prazer de bater longos papos e que tirava dessa entidade ensinamentos muito bacanas. Os livros dele são romanceados mas contam muito sobre o que é a maçonaria na sua origem e desmistifica muita coisa equivocada que se fala sobre ela.
Agora Rotarac, Rotary e Lions o pouco contato que tive realmente não me animou muito e observei muito esse lance de soberba e vaidade.
E não se esqueçam que há maçons e maçons, rotarianos e rotarianos e esse lance de alto escalão e etc é como alto escalão da politica e policia cheio de sujeira e interesses secundários que desviam o objetivo maior que deveria prevalecer.
Esse assunto dá pano pra manga mesmo.
Pra quem deseja saber o que é maçonaria recomendo ler os livros escritos pelo Zé Rodrix maçom assumido e um excelente músico, compositor e com quem tive o prazer de bater longos papos e que tirava dessa entidade ensinamentos muito bacanas. Os livros dele são romanceados mas contam muito sobre o que é a maçonaria na sua origem e desmistifica muita coisa equivocada que se fala sobre ela.
Agora Rotarac, Rotary e Lions o pouco contato que tive realmente não me animou muito e observei muito esse lance de soberba e vaidade.
E não se esqueçam que há maçons e maçons, rotarianos e rotarianos e esse lance de alto escalão e etc é como alto escalão da politica e policia cheio de sujeira e interesses secundários que desviam o objetivo maior que deveria prevalecer.
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Fernando Zadá- Moderador
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Concordo...
Tem gente que você convive anos e anos e nunca sabe que ele é maçom. Não tenha aquela de ficar pagando algo que não é. Aparecendo em eventos sociais e programas de fofocas.
Tem gente que você convive anos e anos e nunca sabe que ele é maçom. Não tenha aquela de ficar pagando algo que não é. Aparecendo em eventos sociais e programas de fofocas.
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Cayo Castro- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
É por ai mesmo...
Na primeira reunião do Rotary que fundaram aqui perto e fui pelo menso uns 3 vieram se apresentar dizendo ser também maçon e etc.... dai já fiquei desmotivado e vi que o lance era mais social e vaidade que fazer algo bom mesmo.
Uma pena.
Na primeira reunião do Rotary que fundaram aqui perto e fui pelo menso uns 3 vieram se apresentar dizendo ser também maçon e etc.... dai já fiquei desmotivado e vi que o lance era mais social e vaidade que fazer algo bom mesmo.
Uma pena.
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Fernando Zadá- Moderador
- Mensagens : 14306
Re: Pra que serve o Rotary Club?
Zadá, eles não te convidaram para a Maçonaria também não?
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Tonante- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Já fui iniciado antes e frequentei um tempo. Achei as atividades de estudo muito interessantes mas a parte social me fez me afastar. Encontro tudo que procurava lá nos meus treinos de Aikido e com muito mais amplitude e implicações práticas. Mas é um grupo interessante e preservo amigos de lá que admiro muito inclusive o saudoso Zé Rodrix que me mostrou o melhor lado e a origem de lá.
Muito do que se fala e se vê sobre eles é pura fantasia.
Muito do que se fala e se vê sobre eles é pura fantasia.
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Fernando Zadá- Moderador
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
enfase no muito, zadá!
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Meu avô é maçom. Sempre tentou fazer eu entrar mas nunca levei a sério. Passei alguns meses na Ordem Demolay. Fiz uma viagem de férias com a galera e testifico o que o Zadá diz.
Eu acho muito engraçado quando vem aquela galera com aquele espanto e temor sobre a Maçonaria. Acreditando em fantasia, diabo, bruxaria. Só me leva a confirmar que o ser humano tem medo e demonifica aquilo que ele não conhece.
Mas reconheço que quando era moleque tinha medo das imagens dos livros de grau do meu avô.
Eu acho muito engraçado quando vem aquela galera com aquele espanto e temor sobre a Maçonaria. Acreditando em fantasia, diabo, bruxaria. Só me leva a confirmar que o ser humano tem medo e demonifica aquilo que ele não conhece.
Mas reconheço que quando era moleque tinha medo das imagens dos livros de grau do meu avô.
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Cayo Castro- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
De certa forma admito, a vida era bem mais fácil enquanto meus olhos estavam vendados e encotrava paz na alienação...
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Foi você que pediu...
NETOULTRA- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Cayo Castro escreveu:Meu avô é maçom. Sempre tentou fazer eu entrar mas nunca levei a sério. Passei alguns meses na Ordem Demolay. Fiz uma viagem de férias com a galera e testifico o que o Zadá diz.
Eu acho muito engraçado quando vem aquela galera com aquele espanto e temor sobre a Maçonaria. Acreditando em fantasia, diabo, bruxaria. Só me leva a confirmar que o ser humano tem medo e demonifica aquilo que ele não conhece.
Mas reconheço que quando era moleque tinha medo das imagens dos livros de grau do meu avô.
Os iniciantes nunca verão nada diferente, e os graduados nunca dirão o que viram, simples assim.
Existem rituais secretos sim, existem juramentos de segredo sim e existem sérias retaliações pra quem os quebra sim.
Não é como numa empresa onde até o faxineiro sabe que o presidente come a secretária.
Mas como não sou Rotáryo nem Marçon, encerro por aqui minha participação no tópico.
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
NETOULTRA escreveu:De certa forma admito, a vida era bem mais fácil enquanto meus olhos estavam vendados e encotrava paz na alienação...
Sério???
Eu ri...
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Cayo Castro- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
NETOULTRA escreveu:De certa forma admito, a vida era bem mais fácil enquanto meus olhos estavam vendados e encotrava paz na alienação...
Cara, se você sabe e conhece "a verdade", sabe também o pq que muitos não a conhecem, e nem vão conhecer (ou até mesmo não vão querer conhecer).. não precisa se expor - sei a "coceira" que da na lingua de jogar tudo pro alto e falar a verdade desses (e outros) grupos - pois hoje já existem aqueles que dizem "pregar a verdade" e estão aí só pra confundir mais, com teorias e mais teorias sobre conspirações e fim do mundo.. enfim... daí tudo cai em discredito..
Pros demais só digo uma coisa.. eu estudei bastante sobre teologia, seitas e heresias, etc etc etc.. li muito conteúdo histórico que as pessoas não buscam ou não é "interessante" ser divugado.. conheci pessoas destes grupos, e tudo mais.. pra mim eu deveria ter estudado, conhecido mais.. não estou com isso querendo me exibir ou dizer que sou melhor que alguém! Muito pelo contrário, quero justamente dizer que isto não me dá ao direito de faltar com o respeito para com as pessoas que tem lá suas conclusões e opiniões sobre esse assunto, eu achando que estão erradas ou não, que tem maior ou menor nível de conhecimento.. eu posso até mostrar meu ponto de vista, o pq cheguei à tais conclusões mas cabe a ela decidir aceitar ou não.. Mas nem por isso devo debochar, praguejar e tudo mais... ou eu posso? Afinal, se alguém que não concorda que Rotary, Maçon, etc e tals, seja isso ou aquilo.. pode rir falando "hahaha.. que bobão, acredita mesmo em 'tal coisa'..", essa pessoa está me dando o direito de fazer o mesmo "Hahaha.. ignorante! Não tem o mínimo nível intelectual para falar deste jeito, nem aprendeu a respeitar a opinião dos outros!"... mas claro, talvez isto não importe para esta pessoa, afinal, quem gosta de faltar com respeito, não se dá ao respeito!
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Marcondes_- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
andremega escreveu:O que voces andam usando, eim?
Eu não uso nada... O meu dom de fazer piadas completamente sem graça é 100% isento de substâncias exógenas.
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Bom ja que tem muita gente com lingua coçando vou jogar o cadeado na mesa
Existe a lenda de que todo maçon é satanista
Só porque aleister crowley o mais famoso satanista foi um dos membros ativos na maçonaria americana e introduziu simbolos satanistas na maçonaria não quer dizer que todo maçom é adorador do diabo
se existe uma vertente satanista na maçonaria ela é isolada
ela seria uma vertente secreta dentro da maçonaria
o grande problema da maçonaria é que ela era contra as doutrinas da igreja catolica isso gerou um guerra interna entre igreja e maçonaria
conheço maçons ja entrei em uma sala de reunioes maçonicas e sei que cada loja maçonica tem seus membros bons e membros de ma indole
Hoje dentro de igrejas temos muitos safados e sem vergonhas,conheço estorias de pastores que iam pregar na casa de fieis e depois acabavam pegando a mulher do cara
E nem por isso vou falar pelos 4 cantos do mundo que pastor de igreja é safado assim como falam que todo maçom é satanista
Para finalizar
todo grupo, raça ,clube,nação e religião vão ter membros de boa e ma indole
os de boa indole vão coexistir se respeitando e praticando suas causas e crenças visando o bem estar comum
e os de ma indole vão fazer de tudo para que os seus intereces prevaleçam denegrindo a imagem daqueles que optaram em seguir por caminhos diferentes aplicando os mesmos principios basicos do bem estar comum
Existe a lenda de que todo maçon é satanista
Só porque aleister crowley o mais famoso satanista foi um dos membros ativos na maçonaria americana e introduziu simbolos satanistas na maçonaria não quer dizer que todo maçom é adorador do diabo
se existe uma vertente satanista na maçonaria ela é isolada
ela seria uma vertente secreta dentro da maçonaria
o grande problema da maçonaria é que ela era contra as doutrinas da igreja catolica isso gerou um guerra interna entre igreja e maçonaria
conheço maçons ja entrei em uma sala de reunioes maçonicas e sei que cada loja maçonica tem seus membros bons e membros de ma indole
Hoje dentro de igrejas temos muitos safados e sem vergonhas,conheço estorias de pastores que iam pregar na casa de fieis e depois acabavam pegando a mulher do cara
E nem por isso vou falar pelos 4 cantos do mundo que pastor de igreja é safado assim como falam que todo maçom é satanista
Para finalizar
todo grupo, raça ,clube,nação e religião vão ter membros de boa e ma indole
os de boa indole vão coexistir se respeitando e praticando suas causas e crenças visando o bem estar comum
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ct.colela- FCBR-CT
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
aff, todo mundo sabe que os maçons vão dominar o mundo, parem de reclamar, beleza?
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
NETOULTRA escreveu:De certa forma admito, a vida era bem mais fácil enquanto meus olhos estavam vendados e encotrava paz na alienação...
Neto, quer dizer que você está "adormecido"?
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Tonante- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Talvez eu não colocaria desta forma (lenda), alteraria alguns detalhes na história mas, ao meu ver, até certo ponto, está correto! Até mesmo sobre a igreja, aliás, eu estava falando dela quando disse "dizem pregrar a verdade"... agente não pode generalizar, não é mesmo?! Nem todo pastor é ladrão, nem todo maçon chega ou passa do grau 32, mas enfim...ct.colela escreveu:Bom ja que tem muita gente com lingua coçando vou jogar o cadeado na mesa
Existe a lenda de que todo maçon é satanista
Só porque aleister crowley o mais famoso satanista foi um dos membros ativos na maçonaria americana e introduziu simbolos satanistas na maçonaria não quer dizer que todo maçom é adorador do diabo
se existe uma vertente satanista na maçonaria ela é isolada
ela seria uma vertente secreta dentro da maçonaria
o grande problema da maçonaria é que ela era contra as doutrinas da igreja catolica isso gerou um guerra interna entre igreja e maçonaria
conheço maçons ja entrei em uma sala de reunioes maçonicas e sei que cada loja maçonica tem seus membros bons e membros de ma indole
Hoje dentro de igrejas temos muitos safados e sem vergonhas,conheço estorias de pastores que iam pregar na casa de fieis e depois acabavam pegando a mulher do cara
E nem por isso vou falar pelos 4 cantos do mundo que pastor de igreja é safado assim como falam que todo maçom é satanista
Para finalizar
todo grupo, raça ,clube,nação e religião vão ter membros de boa e ma indole
os de boa indole vão coexistir se respeitando e praticando suas causas e crenças visando o bem estar comum
e os de ma indole vão fazer de tudo para que os seus intereces prevaleçam denegrindo a imagem daqueles que optaram em seguir por caminhos diferentes aplicando os mesmos principios basicos do bem estar comum
Última edição por Marcondes_ em Qui Jan 12, 2012 1:54 pm, editado 1 vez(es) (Motivo da edição : Nã expressava exatamente oq acredito...)
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Marcondes_- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Eu previ isso na primeira pagina!!!basslave escreveu:Estou prevendo um cadeado
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Fernando Zadá escreveu:Já fui iniciado antes e frequentei um tempo. Achei as atividades de estudo muito interessantes mas a parte social me fez me afastar. Encontro tudo que procurava lá nos meus treinos de Aikido e com muito mais amplitude e implicações práticas. Mas é um grupo interessante e preservo amigos de lá que admiro muito inclusive o saudoso Zé Rodrix que me mostrou o melhor lado e a origem de lá.
Muito do que se fala e se vê sobre eles é pura fantasia.
vc pediu um quite placet?
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fheliojr- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
malka_aff escreveu:aff, todo mundo sabe que os maçons vão dominar o mundo, parem de reclamar, beleza?
Sempre pensei que o mundo já fosse dominado pelos Illuminati...
Piadas à parte, este é um assunto que é fascinante porque, se observarmos bem o mundo à nossa volta chegaremos à uma conclusão: Em quase todos os lugares a maior parte da população é dominada por uma minoria que detem consigo a maioria dos recursos.
Como diriam os livros de geografia dos meus tempos de escola, "muitos com pouco, poucos com muito."
E essa conclusão é inevitável, mesmo que em nossa observação descartemos completamente a existência de sociedades secretas.
Maçons, rosacruzes, rotarianos, Illuminati e demais sociedades secretas à parte ( Não tecerei aqui o que penso deles para não me desviar do que quero dizer agora ), o que vemos é uma imensa concentração de poder e recursos nas mãos de uma minoria.
Paranóia minha? Não.
É apenas um fato.
Pensemos na Televisão aberta, distração do dia a dia da maioria da população: A maior parte das emissoras ( que são concessões públicas ) pertence às famílias Marinho, Abravanel, Macedo, Saad...
Muito nas mãos de poucos.
Outro exemplo: Vejam quantas pessoas trabalham em fábricas e quantos donos de fábrica existem.
Notem que não estou dizendo que os donos de fábrica ou os de televisão sejam maus, pois eles são os responsáveis pelos empregos de muitos. Só uso essa imagem para dizer que, no sistema capitalista, há uma concentração de poder na mão de poucos e esses poucos dominam a maioria.
E tudo isso SEM a menor necessidade da intervenção de alguma sociedade secreta.
Pensem, meus caros... Nesse exato momento, uma minoria de políticos tem a capacidade de tomar decisões que determinarão o rumo do mundo e este rumo está sendo tomado agora mesmo, queiramos ou não.
Em suma, mesmo que partamos do princípio que enuncia que sociedades secretas não existam, uma minoria já controla a maioria.
E essa minoria nem é secreta.
Saudações,
D.
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Tonante escreveu:NETOULTRA escreveu:De certa forma admito, a vida era bem mais fácil enquanto meus olhos estavam vendados e encotrava paz na alienação...
Neto, quer dizer que você está "adormecido"?
Agora eu vejo...
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NETOULTRA- Membro
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
ct.colela escreveu:Bom ja que tem muita gente com lingua coçando vou jogar o cadeado na mesa
Existe a lenda de que todo maçon é satanista
Só porque aleister crowley o mais famoso satanista foi um dos membros ativos na maçonaria americana e introduziu simbolos satanistas na maçonaria não quer dizer que todo maçom é adorador do diabo
se existe uma vertente satanista na maçonaria ela é isolada
ela seria uma vertente secreta dentro da maçonaria
o grande problema da maçonaria é que ela era contra as doutrinas da igreja catolica isso gerou um guerra interna entre igreja e maçonaria
conheço maçons ja entrei em uma sala de reunioes maçonicas e sei que cada loja maçonica tem seus membros bons e membros de ma indole
Hoje dentro de igrejas temos muitos safados e sem vergonhas,conheço estorias de pastores que iam pregar na casa de fieis e depois acabavam pegando a mulher do cara
E nem por isso vou falar pelos 4 cantos do mundo que pastor de igreja é safado assim como falam que todo maçom é satanista
Para finalizar
todo grupo, raça ,clube,nação e religião vão ter membros de boa e ma indole
os de boa indole vão coexistir se respeitando e praticando suas causas e crenças visando o bem estar comum
e os de ma indole vão fazer de tudo para que os seus intereces prevaleçam denegrindo a imagem daqueles que optaram em seguir por caminhos diferentes aplicando os mesmos principios basicos do bem estar comum
Fato: Gente boa e gente má tem em todo lugar. A bondade e a maldade estão presentes no coração dos homens e ambos se manifestam nas ações todo grupo de seres humanos, seja ele secreto ou não.
Sendo assim, a luneta da generalização não é o que nos fará ver as coisas com clareza por aqui.
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
NETOULTRA escreveu:Tonante escreveu:NETOULTRA escreveu:De certa forma admito, a vida era bem mais fácil enquanto meus olhos estavam vendados e encotrava paz na alienação...
Neto, quer dizer que você está "adormecido"?
Agora eu vejo...
Dar à ignorância a qualidade de uma benção é um dilema filosófico interessante que está presente desde os tempos do Jardim do Éden ( Afinal Adão e Eva estavam no Paraísos e também estavam proibidos de comer o fruto da Árvore da Ciência do Bem e do Mal, o que indica que eles, mesmo sendo residentes do Éden, eram ignorantes... Ao comerem o fruto proibido, Adão e Eva provaram o conhecimento, deixando de ser ignorantes, e foram, portanto, expulsos do Paraíso... E o resto é história... )
Sempre achei essa uma questão muito interessante desde o dia em que meu professor de Filosofia, nos falou, em uma aula do colegial, sobre Platão e o Mito da Caverna. .
Para provocar reflexões, eis alguns vídeos que julgo pertinentes...
A benção da ignorância ( "Ignorance is bliss" ) é exposta e desejada por Cypher nessa cena do primeiro ( e melhor ) filme da série Matrix.
Aqui está outra exposição sobre o tema.
Para os que souberem inglês, eis outro episódio baseado nesse dilema.
Saudações,
D.
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Re: Pra que serve o Rotary Club?
Eis um conto de H.G. Wells sobre o tema. Espero que vocês gostem.
"A Terra dos Cegos"
H. G. Wells ( 1904, publicado originalmente em 1911 )
A mais de trezentas milhas do Chimborazo, e a cem das neves do Cotopaxi, no território mais inóspito dos Andes equatoriais, encontra-se um misterioso vale entre as montanhas, separado do resto dos homens, a Terra dos Cegos. Há muitos anos esse vale estava tão aberto ao mundo, que era possível alcançar as suas uniformes pradarias, atravessando medonhos barrancos e um desfiladeiro gelado; e lá realmente chegaram seres humanos, uma ou duas famílias de mestiços peruanos, fugindo da cobiça e da tirania de um malvado governante espanhol. Então aconteceu a assombrosa erupção do Mindobamba, quando a noite durou dezassete dias em Quito, a água ferveu em Yaguachi e todos os peixes mortos chegaram a flutuar até mesmo a Guaiaquil; por toda parte, ao longo da costa do Pacífico, houve deslizamentos de terra, rápidos degelos e inundações súbitas, e todo um lado da velha crista do Arauca desprendeu-se e veio despenhou-se com um ruído de trovões, e a erupção separou para sempre a Terra dos Cegos dos caminhos explorados pelos homens. Mas aconteceu um desses povoadores iniciais estar do outro lado dos desfiladeiros quando o mundo tremeu tão terrivelmente, e por força viu-se obrigado a esquecer a mulher e o filho e todos os amigos e bens que tinha deixado lá em cima, e teve de começar uma nova vida no mundo mais abaixo. Ele começou de novo, mas doente; foi afectado pela cegueira e veio a morrer nas minas, devido a maus-tratos; mas a história que ele contou fez nascer uma lenda que perdurou até hoje, em toda a cordilheira dos Andes.
Falou da razão que o havia levado a aventurar-se a abandonar aquele lugar protegido, para onde tinha sido inicialmente levado quando criança - amarrado ao lombo de um lama, junto com uma enorme carga de equipamentos. O vale, disse ele, tinha tudo o que o coração humano podia desejar - água doce, pastos, clima ameno, encostas de rico solo fértil com manchas de um arbusto que dava um fruto excelente, e de um lado grandes florestas de pinheiros que protegiam das avalanches. Longe, bem longe, de três lados, imensos picos de rocha verde-acinzentada estavam coroados de placas de gelo; mas a corrente do glaciar não se precipitava sobre os habitantes, antes fluía para longe através das encostas mais afastadas, e só de vez em quando grandes massas de gelo deslizavam para o vale. Neste vale nem chovia, nem nevava, mas mananciais abundantes proporcionavam ricas pastagens verdes, que a irrigação levava a toda a extensão do vale. Os colonizadores haviam realmente feito um bom trabalho naquele lugar. Os seus animais criaram-se bem e multiplicaram-se, e havia uma só coisa que toldava a sua felicidade. E no entanto, bastava para toldá-la de sobremaneira. Uma estranha doença havia-se abatido sobre eles, fazendo que não só todas as crianças ali nascidas - e, na verdade, várias crianças mais velhas também - fossem atacadas pela cegueira. Foi para buscar algum encantamento ou antídoto contra essa praga da cegueira que ele tinha, com grande esforço, perigo e dificuldade, voltado atrás pelo desfiladeiro. Naquele tempo, em semelhantes casos, os homens não pensavam em germes e infecções, mas em pecados; e a ele parecia-lhe que a razão dessa aflição devia residir na negligência desses imigrantes sem sacerdotes, que não ergueram um templo assim que entraram no vale. Ele queria que um templo - bonito, barato, eficaz - fosse erguido no vale; queria relíquias e todos aqueles poderosos símbolos da fé, objectos abençoados, medalhas misteriosas e rezas. Na sua bolsa levava uma barra de prata cuja origem ele não se dispunha a revelar; insistia em que não havia prata nenhuma no vale, com a teimosia própria do mentiroso inábil. Eles tinham todos fundido as suas moedas e ornamentos, disse ele, para comprar a ajuda divina contra seu mal, já que lá em cima tinham pouca necessidade daquele tesouro. Imagino esse jovem montanhês de olhos turvos, queimado pelo sol, magro e ansioso, segurando febrilmente a aba do chapéu, um homem totalmente desacostumado aos modos do mundo cá de baixo, contando esta história, antes da grande convulsão, a algum sacerdote arguto e atento; posso vê-lo depois tentar regressar com remédios piedosos e infalíveis contra aquele mal, e a decepção infinita com que ele se deve ter defrontado perante a imensa catástrofe que havia obstruído o desfiladeiro, por onde um dia tinha saído. Mas nada sei do resto da sua história de infortúnios, excepto que morreu vários anos depois, em trágicas circunstâncias. Pobre homem perdido daquela região remota! O curso de água que antes havia formado o desfiladeiro, agora sai estrepitosamente da boca de uma caverna rochosa, e a lenda desencadeada pela sua história infeliz e mal contada converteu-se numa história, que ainda hoje se pode ouvir, sobre uma raça de homens cegos, vivendo algures "para lá das montanhas".
E no meio da pequena população daquele vale agora isolado e esquecido, a doença seguiu o seu curso. Os velhos tornaram-se trôpegos e vacilantes, os jovens viam, mas enevoadamente, e as crianças que deles nasceram, nunca chegaram a ver. Mas a vida era muito fácil naquela bacia rodeada de neve, sem espinheiros ou eglantinas, sem insectos nocivos nem animais selvagens, excepto a raça mansa de lamas que eles tinham carregado e levado e que subiram os leitos dos rios estreitados pelos desfiladeiros pelos quais ali tinham chegado. A diminuição da visão tinha sido tão gradual que só se deram conta, depois de perdida. Eles conduziam as crianças cegas daqui para ali, até que estes passaram a conhecer maravilhosamente bem todo o vale, e quando, por fim, a visão morreu entre eles, a raça sobreviveu. As cegas tiveram, até, tempo para se adaptarem a controlar o fogo, que acendiam cuidadosamente em fogões de pedra. Eram um tipo simples de gente no começo, analfabetos, só ligeiramente tocados pela civilização espanhola, mas com restos da tradição artística do antigo Peru e da sua filosofia perdida. A uma geração seguiu-se outra. Esqueceram muitas coisas, inventaram outras. A sua tradição do mundo mais vasto de onde tinham vindo adquiriu um acento mítico e incerto. Em todas as coisas, salvo na visão, eles eram fortes e hábeis, e de vez em quando, o acaso fazia nascer entre eles alguém que tinha uma mente original e que era capaz de falar e de os persuadir, e logo depois surgia outro. Esses dois morreram, deixando o seu legado, e a pequena comunidade cresceu em número e em conhecimento, e enfrentou e resolveu problemas sociais e económicos que foram surgindo. As gerações seguiram-se umas às outras. Chegou uma altura em que nasceu uma criança que estava a quinze gerações daquele ancestral que saíra do vale com uma barra de prata para buscar a ajuda de Deus, e que nunca voltara. Por volta dessa época, acontece que apareceu nessa comunidade, um homem proveniente do mundo exterior. E esta é a história desse homem.
Era um montanhês da região perto de Quito, um homem que descera até ao mar e tinha visto o mundo, um leitor original de livros, um homem empreendedor e de inteligência arguta, que fora contratado - por uma equipa de ingleses que tinha vindo ao Equador para escalar montanhas - para substituir um dos seus três guias suíços que ficara doente. Escalaram aqui, escalaram acolá, e então veio a tentativa do Parascotopetl, o Mätterhorn dos Andes, em que esse homem se perdeu para o mundo exterior. A história do acidente foi escrita uma dezena de vezes. A narrativa de Pointer é a melhor. Ele conta, com um toque de autêntico dramatismo, como a pequena equipa lutou para subir o caminho difícil e quase vertical até ao sopé do último e maior dos precipícios, e como construíram um abrigo nocturno no meio da neve numa pequena reentrância de rocha, e se deram conta, pouco depois, de que Nunez já não estava entre eles. Gritaram, e não houve resposta; gritaram e assobiaram e, durante o resto daquela noite, não dormiram mais.
Quando amanheceu, viram as marcas da sua queda. Parece impossível que esta tenha podido ocorrer sem que nenhum som tivesse sido emitido. Escorregara para leste, rumo à encosta desconhecida da montanha; muito abaixo tinha chocado com uma aguda protuberância de gelo e continuado a cair no meio de uma avalancha de neve. O sulco ia direito à beira de um precipício medonho, e, para lá, tudo estava oculto em mistério. Muito, muito lá em baixo, e enevoadas pela distância, eles podiam ver as árvores subindo de um vale estreito, fechado - a perdida Terra dos Cegos. Mas, lá de cima, não puderam saber que era a Terra dos Cegos, nem distingui-la de modo nenhum de qualquer outro trecho estreito de vale. Desalentados com o acidente, abandonaram as suas intenções nessa mesma tarde, e Pointer foi convocado para a guerra antes de poder empreender uma nova escalada. Até hoje o Parascotopetl continua a exibir o seu cume inconquistada, e o abrigo de Pointer desmorona-se entre as neves, sem que ninguém tenha voltado a visitá-lo.
Contudo, o homem que caíu sobreviveu.
No final do declive caiu mil pés, e precipitou-se, envolto numa nuvem de neve sobre uma encosta gelada ainda mais escarpada do que a de cima. Descendo, ele girou, bateu com o corpo e atordoado, mas sem um único osso quebrado, foi parar a declives mais suaves, e finalmente parou de rolar e ficou imóvel, enterrado num monte macio de massas brancas que o tinham acompanhado e salvado. Voltou a si com uma ténue ideia de que estava doente, de cama; então, com a compreensão de um montanhês, percebeu a sua situação e, depois de algum descanso, livrou-se da neve, e andou até que conseguiu ver as estrelas. Descansou deitado sobre o peito durante algum tempo, imaginando onde estaria e o que lhe teria acontecido. Examinou os membros e descobriu que vários botões tinham desaparecido, e que o casaco lhe tinha subido para cima da cabeça. A faca tinha-lhe desaparecido do bolso e o chapéu tinha-se perdido, embora ele o tivesse amarrado sob o queixo. Lembrou-se que, quando escorregara, estivera procurando pedras soltas para erguer a sua parte da parede do abrigo. A sua machadinha de gelo tinha desaparecido.
Chegou à conclusão de que devia ter caído, e olhou para cima para ver, exagerada pela luz fantasmagórica da lua nascente, a tremenda queda que tinha dado. Por um momento, permaneceu olhando de modo vazio para aquela vasta parede de rocha pálida que se erguia como uma torre, surgindo por momentos de uma maré rasante de escuridão. A beleza fantasmagórica e misteriosa, manteve-o parado por um tempo, mas logo foi tomado de um paroxismo convulso de riso soluçante...
Bastante tempo depois, tomou consciência de que estava perto da borda inferior da neve. Abaixo, sob o que era agora uma encosta praticável, iluminada pela lua, deparou com a continuidade escura e áspera de relva salpicada de rochas. Lutou para se levantar, com todas as articulações e membros doloridos, livrou-se com dificuldade da neve solta amontoada em torno dele, rumou para baixo até que chegou à turfa e ali caiu, mais do que se deitou, ao lado de uma grande pedra, bebeu até ao fundo do cantil que tirou do bolso de dentro e, instantaneamente, adormeceu...
Foi acordado pelo cantar dos pássaros nas árvores bem lá em baixo. Achou-se num pequeno monte ao pé de um vasto precipício, marcado pela descida que ele e a neve tinham sofrido. Acima, em frente dele, outra parede de rocha se erguia contra o céu. O desfiladeiro entre esses precipícios orientava-se de leste para oeste e estava cheio da luz do sol matinal, que iluminava a oeste a massa de montanha caída que tinha fechado o desfiladeiro descendente. A seus pés parecia abrir-se um precipício igualmente escarpado, mas, atrás da neve, achou uma espécie de fenda em forma de chaminé gotejante com água de neve, pela qual um homem desesperado podia aventurar-se. Descobriu que isso era mais fácil do que parecia, e chegou afinal a outro monte desolado, e então depois de uma escalada na rocha sem nenhuma dificuldade particular, a uma escarpada encosta coberta de árvores. Orientou-se e voltou o rosto para cima do desfiladeiro, pois viu que este se abria lá em cima para prados verdes, entre os quais ele vislumbrou bastante distintamente um grupo de cabanas de pedra de construção insólita. Às vezes o seu progresso era tão lento como escalar ao longo da face de uma parede, e após algum tempo o sol nascente parou de brilhar sobre o desfiladeiro, as vozes dos pássaros morreram ao longe, e o ar tornou-se frio e escuro em torno dele. Mas o vale distante, com suas casas, era por isso mesmo cada vez mais brilhante. Chegou depois ao talude, e entre as rochas notou - pois era um homem observador - uma estranha samambaia que parecia sair das reentrâncias com mãos intensamente verdes. Pegou numa ou duas folhas, mastigou o talo e achou-o comestível.
Por volta do meio-dia saiu finalmente da garganta do desfiladeiro para o planalto e a luz do sol. Estava cansado e com os membros rígidos; sentou-se à sombra de uma rocha, encheu o cantil com água de uma fonte e bebeu, e ficou descansando um tempo antes de se dirigir às casas.
Pareceram-lhe muito estranhas e, na verdade, todo o aspecto daquele vale se tornou, à medida que o olhava, mais estranho e menos familiar. A maior parte da sua área era ocupada por um luxuriante prado verde, cheio de muitas flores bonitas, irrigado com cuidado extraordinário e exibindo indicadores de cultivo sistemático. Bem alto e cercando o vale havia um muro, e o que parecia ser um canal circular, do qual vinham os fios de água que alimentavam as plantas da pradaria, e nas encostas mais altas, acima do canal, rebanhos de lamas comiam o ralo pasto. Cercados, aparentemente abrigos ou manjedouras para os lamas, erguiam-se contra o muro fronteiriço aqui e ali. Os canais de irrigação corriam até se juntarem num canal principal rumo ao centro do vale, abaixo, e esse canal era cercado de cada lado por um muro à altura do peito. Isso dava uma estranha qualidade urbana a esse lugar recluso, qualidade grandemente realçada pelo facto de que vários caminhos, pavimentados com pedras brancas e pretas, e cada um com uma curiosa pequena curva em cada esquina, iam para lá e para cá de modo ordenado. As casas da aldeia central eram bem diferentes da aglomeração casual e desordenada das aldeias montanhesas que ele conhecia; as casas estavam dispostas numa fileira contínua de cada lado de uma rua central surpreendentemente limpa; aqui e ali, a sua fachada era perfurada por uma porta, e nem uma única janela quebrava a uniformidade da sua frontaria. Eram coloridas com extraordinária irregularidade, manchadas com um tipo de cimento que era às vezes cinza, às vezes pardo, às vezes cor de ardósia ou castanho-escuro; e foi a visão desse colorido estranho que trouxe primeiro a palavra "cego" aos pensamentos do explorador. "O bom homem que fez isso" , pensou, "deve ser tão cego como um morcego."
Desceu uma escarpa, e assim chegou ao muro e ao canal que corriam em torno do vale, perto de onde o último despejava o seu excesso nas profundezas do desfiladeiro formando uma cascata fina e trémula. Agora ele podia ver, na parte mais remota do prado, alguns homens e mulheres descansando em montes empilhados de erva, como se estivessem dormindo a sesta; mais perto da aldeia algumas crianças deitadas, e mais perto ainda, três homens carregando baldes em armações presas aos ombros, ao longo de um pequeno caminho que levava do muro circundante às casas. Esses três homens vestiam trajes de lã de lama e tinham botas e cintos de couro e usavam chapéus de lã com aba traseira e protectores de ouvidos. Seguiam um atrás do outro, como se fosse uma fila, andando devagar e bocejando enquanto andavam, como se fossem homens que tivessem ficado acordados a noite inteira. Havia algo tão reconfortante de prosperidade e respeitabilidade em seu comportamento que, depois de hesitar um momento, Nunez se ergueu, tão visivelmente quanto possível, acima da rocha, e deu um grande grito que ecoou em torno do vale.
Os três homens pararam e moveram as cabeças como se estivessem olhando em torno. Viraram o rosto para lá e para cá, e Nunez gesticulou. Mas eles não pareceram vê-lo, apesar de todos os seus gestos, e, passado algum tempo, virando-se para as montanhas longínquas à direita, gritaram como que em resposta. Nunez berrou de novo, e enquanto gesticulava de novo sem resultado, a palavra "cego" surgiu bem clara na sua cabeça. "Esses loucos devem ser cegos", disse.
Quando, por fim, depois de muita gritaria e irritação, Nunez atravessou o curso de água por sobre uma pequena ponte, passou por um portão no muro e se aproximou deles, teve a certeza de que eles eram cegos. Estava convencido de que essa era a Terra dos Cegos da qual falavam as lendas. A convicção havia se apossado dele, assim como um sentido de grande e na verdade invejável aventura. Os três estavam parados um ao lado do outro, não olhando para ele, mas dirigindo os ouvidos para ele, avaliando-o por seus passos não familiares. Mantinham bem perto um do outro, como homens um tanto amedrontados, e ele podia ver-lhes as pálpebras fechadas e afundadas, como se os próprios globos oculares ali em baixo se tivessem contraído. Havia uma expressão quase de pavor em seus rostos.
"Um homem", disse um deles, em espanhol mal reconhecível, "é um homem - um homem ou um espírito - que desceu das rochas."
Mas Nunez avançou com os passos confiantes de um jovem que está no começo da vida. Todas as antigas histórias do vale perdido e da Terra dos Cegos voltaram à sua mente, e na sua mente destacou-se esse velho provérbio, como se fosse um refrão:
"Em Terra de Cegos, Quem Tem um Olho é Rei."
"Em Terra de Cegos, Quem Tem um Olho é Rei."
E muito cortesmente cumprimentou-os. Falou-lhes utilizando os olhos.
"De onde vem ele, irmão Pedro?", perguntou um deles.
"Desceu das rochas."
"Venho do outro lado das montanhas", disse Nunez, "de fora deste lugar - onde os homens podem ver. De perto de Bogotá, onde há cem mil pessoas e não se consegue abarcar a cidade com a vista."
"Vista?", murmurou Pedro."Vista?"
"Ele vem", disse o segundo cego, de para lá das rochas."
O tecido de seus casacos, reparou Nunez, era modelado curiosamente, cada um com um tipo diferente de costura. Assustaram-no com um movimento simultâneo ao seu encontro, cada um com uma mão estendida. Ele recuou diante do avanço desses dedos abertos.
"Venha cá" , disse o terceiro cego, seguindo o movimento de Nunez e agarrando-o.
Seguraram Nunez e apalparam-no, sem dizerem uma única palavra enquanto não terminaram.
"Cuidado", disse ele, sentindo um dedo no olho, e descobriu que eles achavam esse órgão, com suas pálpebras frementes, uma coisa esquisita nele. Eles voltaram a tocar-lhe.
"Uma criatura estranha, Correa", disse o de nome Pedro. "Sinta a aspereza de seus cabelos. São como o pêlo de um lama."
"É áspero como as rochas que o pariram", disse Correa, investigando, com mão suave e ligeiramente húmida, o queixo não barbeado de Nunez. "Talvez se torne menos áspero." Nunez lutou um pouco enquanto era examinado, mas eles seguraram-no com firmeza.
"Cuidado", disse de novo.
"Ele fala", disse o terceiro homem. "Não há dúvida que é um homem." "Ugh!", disse Pedro, ao experimentar a aspereza do casaco de Nunez. "E você veio para o mundo?", perguntou Pedro.
"SAÍ do mundo. Por montanhas e glaciares; logo ali acima, a meio caminho do sol. Saí do grande, do enorme mundo que desce, em doze dias de jornada, rumo ao mar."
Eles pareciam prestar-lhe pouca atenção. "Nossos pais disseram-nos que os homens podem ser criados pelas forças da natureza", disse Correa. "Pelo calor das coisas e a humidade, e a podridão... a podridão."
"Vamos levá-lo aos anciãos", disse Pedro.
"Grita antes", disse Correa, "para que as crianças não se assustem. Esta é uma ocasião importante."
Então eles gritaram, e Pedro foi na frente e tomou Nunez pela mão, para levá-lo às casas.
Nunez afastou a mão. "Posso ver", disse.
"Ver?", disse Correa.
"Ver", disse Nunez, voltando-se para ele, e tropeçou no balde de Pedro. "Os sentidos dele ainda são imperfeitos", disse o terceiro cego. "Tropeça e diz palavras sem sentido. Levem-no pela mão."
"Como vocês quiserem", disse Nunez, e foi conduzido pela mão, rindo. Parecia que eles não sabiam nada sobre a visão.
Bem, com o tempo ele os ensinaria.
Ouviu pessoas gritando, e viu algumas figuras que se reuniam na rua principal da aldeia.
Reparou que aquele primeiro encontro com a população da Terra dos Cegos o enervou e impacientou mais do que tinha esperado. O lugar parecia maior, à medida que se aproximava dele, e as cores manchadas mais esquisitas, e uma multidão de crianças, homens e mulheres (as mulheres e as garotas, notou com agrado, tinham algumas delas rostos bastante bonitos, apesar de todas elas terem os olhos fechados e afundados) chegou junto dele, segurando-o, tocando-o com mãos suaves e sensíveis, cheirando-o e ouvindo cada palavra que ele dizia. Algumas das garotas e das crianças, entretanto, mantinham-se afastadas, como se tivessem medo, e realmente a sua voz parecia áspera e rude em comparação com os tons deles, mais suaves. Eles cercaram-no. Os seus três guias mantiveram-se perto dele, com um ar de propriedade, e diziam e repetiam: "Um homem selvagem que veio das rochas".
"De Bogotá", disse Nunez. "De Bogotá. Para lá das cristas das montanhas."
"Um homem selvagem - falando palavras selvagens" , disse Pedro. ''Vocês ouviram isso - BOGOTÁ? A sua mente ainda não está formada. Ele tem apenas os rudimentos da fala."
Um garotinho acariciou a mão de Nunez. "Bogotá", disse, troçando. "Ai! Uma cidade, diferente da vossa aldeia. Venho do grande mundo - onde os homens têm olhos e vêem."
"O nome dele é Bogotá", disseram.
"Tropeçou", disse Correa,"tropeçou duas vezes enquanto chegávamos aqui."
"Levem-no para os anciãos."
E empurraram-no de repente por uma porta adentro, para uma sala escura como breu, a não ser ao fundo, onde uma pequena fogueira brilhava fracamente. A multidão fechou o caminho atrás dele e bloqueou quase completamente a luz do dia e, antes que ele pudesse impedir-se, tinha caído de cabeça ao tropeçar nos pés de um homem sentado. O seu braço, estendido, bateu no rosto de alguém enquanto caía; sentiu o macio toque de uma face e ouviu um grito de raiva, e por um momento lutou contra várias mãos que o agarraram. Era uma luta desigual. Deu-se conta da situação e ficou quieto.
"Caí", disse. "Não pude ver nesta escuridão profunda."
Houve uma pausa, como se as pessoas não vistas em torno dele tentassem entender as suas palavras. Então a voz de Correa disse: "Ele acaba de ser criado. Tropeça quando anda e mistura palavras que não querem dizer nada quando fala".
Outros também disseram coisas que ele mal ouviu ou entendeu imperfeitamente.
"Posso-me levantar?", perguntou, numa pausa do burburinho. "Não vou lutar com vocês de novo."
Eles consultaram-se entre si e deixaram-no levantar-se.
A voz de um homem mais velho começou a interrogá-lo, e Nunez deu por si tentando explicar o grande mundo do qual ele tinha caído, e o céu, as montanhas, a visão e outras tantas maravilhas, àqueles anciãos sentados no escuro, na Terra dos Cegos. E eles não acreditavam em nada e não entendiam nada do que ele lhes dizia, facto bem distante das expectativas de Nunez. Há catorze gerações que estas pessoas eram cegas e estavam separadas do mundo da visão; os nomes de todas as coisas referentes à visão tinham desaparecido e mudado; a lembrança do mundo lá fora tinha desaparecido e tinha-se convertido num conto de fadas; e eles tinham deixado de se preocupar com qualquer coisa para lá das encostas rochosas do seu muro circundante. Cegos de génio tinham surgido entre eles e questionado os restos de crença e tradição que o povo trazia consigo desde os dias da visão, e haviam posto de lado todas essas coisas como fantasias ociosas e haviam-nas substituído por explicações novas e mais críveis. A sua imaginação tinha murchado juntamente com os seus olhos; e eles criaram para si mesmos novas imaginações com os seus ouvidos e pontas de dedos cada vez mais sensíveis. Lentamente Nunez foi-se dando conta disso; que a sua expectativa de admiração e reverência em relação à sua origem e dons não iria frutificar; e após a sua precária tentativa de lhes explicar a visão ter sido posta de lado como a versão confusa de um ser recém-criado descrevendo as maravilhas das suas sensações incoerentes, ele conformou-se, um tanto espantado, em ouvir a instrução deles. E o mais velho dos cegos explicou-lhe a vida, a filosofia e a religião, como o mundo (querendo dizer o seu vale) tinha sido inicialmente um vazio oco nas rochas, e então surgiram, primeiro, coisas inanimadas sem o dom do tacto, e depois os lamas e umas poucas outras criaturas que tinham pouco sentido das coisas, e então os seres humanos, e enfim os anjos, que se podiam ouvir cantando e agitando, mas aos quais ninguém podia tocar, história que muito espantou Nunez, até que ele pensou nos pássaros.
O ancião continuou contando a Nunez como o tempo tinha sido dividido entre o quente e o frio, que são os equivalentes dos cegos ao dia e à noite, e como era bom dormir no quente e trabalhar no frio, de modo que agora, não fosse devido à sua chegada, toda a cidade dos cegos estaria dormindo. Ele disse que Nunez devia ter sido criado especialmente para aprender e pôr-se ao serviço da sabedoria que eles tinham adquirido e que, apesar de toda a sua incoerência mental e todos os seus tropeções, ele precisava de ter coragem, e fazer o melhor por aprender, e perante isso toda a multidão, à entrada da porta, assentiu de modo encorajador. Ele disse que a noite - pois os cegos chamam noite ao seu dia - ia agora muito avançada, de modo que todos deviam ir para casa dormir. Perguntou a Nunez se este sabia dormir e Nunez disse que sabia, mas que antes de dormir, queria comer. Trouxeram-lhe comida - leite de lama numa taça, e pão duro salgado - e levaram-no a um lugar solitário de modo que eles não o ouvissem comer, e depois ele deveria dormir até que o frio da noite na montanha os acordasse para começarem o seu dia de novo. Mas Nunez não dormiu de maneira nenhuma.
Em vez disso, sentou-se no lugar em que o deixaram, descansando os membros e fazendo girar e girar na mente as circunstâncias inesperadas de sua chegada.
De vez em quando ria-se, às vezes divertido, às vezes indignado.
"Mente não formada!", disse. "Ainda não formou os sentidos! Mal sabem que estão insultando o seu rei e mestre enviado do céu. Vejo que preciso de trazê-los à razão. Deixem-me pensar - deixem-me pensar."
Ainda estava a reflectir quando o sol se pôs.
Nunez sabia captar a beleza das coisas e pareceu-lhe que o fulgor brilhante sobre os campos nevados e dos glaciares à volta do vale era a coisa mais bela que ele jamais tinha visto. Seus olhos passearam-se com deleite da aldeia até aos campos irrigados, que se afundavam rapidamente no lusco-fusco, e de repente uma onda de emoção o tomou, e ele deu graças a Deus, do fundo do coração, por lhe ter sido dado a ele o dom da visão.
Ouviu uma voz chamando por ele, da aldeia: "Ei, Bogotá! Chegue aqui!".
Ao ouvir isto, levantou-se a sorrir. Ia mostrar a essa gente, de uma vez por todas, o que a visão pode fazer por um ser humano. Iriam procurá-lo, mas não o achariam.
"Não se mexa, Bogotá", disse a voz.
Ele riu silenciosamente e deu dois passos sorrateiros para fora do caminho.
"Não pise a erva, Bogotá; é proibido."
Nunez mal tinha ouvido o ruído que ele próprio fizera. Parou, espantado.
O dono da voz correu pelo caminho acima, em direcção a Nunez.
Este voltou para o caminho. "Aqui estou", disse.
"Porque não veio quando o chamei?", disse o cego. "Você precisa de ser levado como uma criança? Não pode ouvir o caminho enquanto anda?"
Nunez riu. "Posso vê-lo", disse.
"Não existe a palavra VER", disse o cego, após uma pausa. "Pare com essa loucura e siga o som de meus pés."
Nunez seguiu-o, um tanto aborrecido. "A minha vez vai chegar", disse.
'Você vai aprender", respondeu o cego. "Há muita coisa para aprender no mundo."
"Nunca lhe disseram «Em Terra de Cegos, Quem Tem um Olho é Rei»"?
"O que é cego?", perguntou o cego, despreocupadamente, por cima do ombro.
Passaram-se quatro dias e o quinto dia encontrou o Rei dos Cegos ainda incógnito, como um estranho desajeitado e inútil entre os seus súbditos.
Nunez descobriu que era muito mais difícil proclamar-se rei do que tinha suposto, e, entretanto, enquanto meditava no seu coup d'état, fez o que lhe diziam e aprendeu as maneiras e costumes da Terra dos Cegos. Achou que trabalhar e andar durante a noite era uma coisa particularmente exaustiva, e decidiu que essa era a primeira coisa que iria mudar.
Aquela gente levava uma vida simples, laboriosa, com todos os elementos de virtude e felicidade que podem ser entendidas pelos seres humanos. Trabalhavam, mas não de modo opressivo; tinham comida e roupa suficientes para as suas necessidades; tinham dias e estações de descanso; tocavam música e dançavam muito, havia amor entre eles, e crianças pequenas.
Era maravilhoso ver a confiança e a precisão com que eles caminhavam no seu mundo bem ordenado. Tudo tinha sido feito para se adequar às suas necessidades; cada um dos caminhos que irradiavam da área do vale tinha um ângulo constante em relação aos outros, e cada um deles se distinguia por uma cunha especial sobre a sua curva; todos os obstáculos e irregularidades tinham sido suprimidos, havia muito tempo, do caminho ou da pradaria; os seus métodos e procedimentos adequavam-se naturalmente às suas necessidades específicas. Os seus sentidos tinham se tornado maravilhosamente agudos; podiam ouvir e avaliar o menor gesto de um ser humano a uma dezena de passos - podiam ouvir até a batida de seu coração. A entonação havia muito tinha substituído as expressões do rosto, e os toques pelo tacto tinham substituído os gestos indicativos; o seu trabalho com enxada, pá e ancinho era tão fácil e confiante como a jardinagem pode ser. O sentido do olfacto era extraordinariamente agudo; podiam distinguir diferenças individuais tão rapidamente quanto um cachorro, e manejavam os lamas, que viviam entre as rochas lá em cima e vinham ao muro buscar comida e abrigo, com facilidade e confiança. Foi somente quando, no fim, Nunez procurou afirmar-se perante eles, que descobriu quão fáceis e confiantes eram os movimentos deles.
Rebelou-se somente depois de tentar persuadi-los. Tentou no início, em várias ocasiões, explicar-lhes a visão. "Escutem-me", disse. "Há coisas em mim que vocês não entendem."
Umas vezes um ou dois deles prestaram-lhe atenção; sentavam-se com os rostos baixos e os ouvidos voltados inteligentemente na direcção de Nunez, e ele fez o melhor que pôde para lhes explicar o que era ver. Entre os seus ouvintes havia uma garota, com pálpebras menos vermelhas e afundadas do que os outros, de modo que quase se podia imaginar que ela estava escondendo os olhos, e a esta ele esperava especialmente convencer. Ele falou das belezas da visão, de olhar as montanhas, do céu e do nascer do sol, e eles ouviam-no com incredulidade divertida que, depois, se tornou condenatória. Disseram-lhe que não havia montanhas de modo nenhum, mas que o fim das rochas onde os lamas pastavam era na verdade o fim do mundo; dali partia o tecto cavernoso do universo, de onde vinham o orvalho e as avalanches; e quando ele se manteve firme na afirmação de que o mundo não tinha fim nem tecto, ao contrário do que eles supunham, eles disseram que os seus pensamentos eram pecaminosos. Até ao ponto em que ele podia descrever o céu, as nuvens e as estrelas para eles, tudo isso lhes parecia um vácuo monstruoso, um terrível vazio no lugar do tecto liso sobre as coisas no qual acreditavam - era um artigo de fé entre eles que o tecto da caverna era plenamente liso ao toque. Nunez percebeu que de algum modo ele os chocava, desistiu de vez desse assunto, e tentou mostrar-lhes o valor prático da visão. Uma manhã viu Pedro no caminho chamado Dezassete, dirigindo-se às casas centrais, mas ainda longe demais para a audição ou o olfacto, e disse-lhes. "Daqui a pouco tempo", previu, "Pedro estará aqui." Um velho notou que Pedro não tinha nada para fazer no caminho Dezassete e então, como que para confirmar isso, Pedro, quando chegou mais perto, virou e caminhou transversalmente para o caminho Dez, e depois caminhou com passos ágeis rumo ao muro externo. Eles ridicularizaram Nunez quando Pedro não chegou, e depois, quando Nunez fez perguntas a Pedro para esclarecer o assunto, Pedro negou e enfrentou-o, e daí em diante tornou-se hostil a Nunez.
Então ele convenceu-os a deixá-lo subir bem longe pelas encostas da pradaria, rumo ao muro, com um companheiro que concordasse, e prometeu descrever-lhe tudo que acontecia entre as casas. Ele notou certas idas e vindas, mas as coisas que realmente pareciam ter significado para aquela gente aconteciam dentro ou atrás das casas sem janelas - as únicas coisas de que tomavam nota para testá-lo - e dessas coisas ele não podia ver ou dizer nada, e foi após o fracasso dessa tentativa, e da troça que eles não conseguiram reprimir, que ele recorreu à força. Pensou em segurar uma pá e de repente derrubar um ou dois e assim, em combate leal, mostrar a vantagem dos olhos. Chegou até, com essa intenção, a segurar a pá, e então descobriu algo de novo a seu respeito: que era impossível para ele agredir um cego a sangue-frio.
Hesitou e descobriu que todos haviam percebido que ele agarrara a pá. Eles ficaram em alerta, com as cabeças de lado, e ouvidos inclinados na sua direcção, para detectar o que ele iria fazer em seguida.
"Pouse essa pá", disse um deles, e ele sentiu uma espécie de horror indizível. Quase que obedeceu.
Então empurrou um dos cegos contra a parede de uma casa, e fugiu da aldeia.
Atravessou um dos prados, deixando um rasto de erva esmagada pelos seus pés, e depois sentou-se ao lado de um dos caminhos. Sentiu algo da expectativa que acomete todos os homens no começo de uma luta, mas uma perplexidade maior. Começou a perceber que não se pode nem lutar com ânimo contra criaturas que estão numa situação mental diferente da sua. Ao longe, viu um grupo de homens carregando pás e cacetes, saindo da rua de casas, e avançando em filas que se espalhavam pelos vários caminhos na direcção dele. Avançavam devagar, falando frequentemente um ao outro, e sempre e sempre toda a fileira parava, cheirava o ar e escutava.
Da primeira vez em que fizeram isso, Nunez riu. Mas depois deixou de rir. Um deles percebeu o trilho deixado por Nunez na erva do prado, e inclinando-se veio tacteando o caminho.
Durante cinco minutos Nunez observou o lento abrir, em cordão, da fileira de cegos, e então a sua vaga intenção de fazer alguma coisa tornou-se frenética. Levantou-se, deu um ou dois passos em direcção ao muro circundante, virou-se e voltou um pouco atrás. Ali estavam todos eles parados, formando uma meia-lua, silenciosos e procurando escutar.
Ele também ficou parado, agarrando firmemente a pá com as duas mãos. Devia atacá-los?
A pulsação nos seus ouvidos corria ao ritmo de "Em Terra de Cegos, Quem Tem um Olho é Rei."
Devia atacá-los?
Olhou para trás para o muro alto e inescalável - inescalável por causa do seu cimento liso, mas também perfurado com muitas portinholas, e olhou para a linha que se aproximava dos seus perseguidores. Atrás destes, outros vinham agora da rua das casas.
Devia atacá-los?
"Bogotá!", um deles chamou. "Bogotá, onde está você?"
Ele agarrou a pá ainda com mais força e avançou pelos prados direito ao sítio das casas, e imediatamente, enquanto andava, eles convergiram à sua volta. "Vou atacá-los se me tocarem", jurou. "Por Deus, vou fazer isso. Vou atacá-los." Berrou: "Olhem aqui, vou fazer o que quiser neste vale. Vocês estão a ouvir? Vou fazer o que quero e ir aonde quero".
Eles estavam rapidamente a convergir rumo a ele, tacteando, mas movendo-se rapidamente. Era como brincar à cabra-cega, com todo a gente vendada, menos um. "Agarrem-no!", gritou um deles. Nunez viu-se no arco de uma curva solta de perseguidores. Sentiu subitamente que precisava de entrar resolutamente em acção.
"Vocês não entendem", gritou numa voz que pretendia ser imperiosa e resoluta, mas que lhe saiu fraca. "Vocês são cegos, e eu posso ver. Deixem-me em paz!"
"Bogotá! Largue essa pá, e saia da erva!"
Esta última ordem, grotesca na sua familiaridade civilizada, produziu-lhe um acesso de raiva. "'Vou feri-los", disse Nunez, soluçando de emoção. "Por Deus, vou feri-los. Deixem-me em paz!"
Começou a correr, sem saber claramente para onde correr. Correu para longe do cego mais próximo, pois era um horror golpeá-lo. Parou, então fez uma tentativa para escapar das fileiras deles que o cercavam. Dirigiu-se para onde havia um grande vazio, e os homens de cada lado, com uma rápida percepção da aproximação de seus passos, juntaram-se uns aos outros, preenchendo o vazio. Nunez pulou para a frente, e então viu que iria ser capturado e ZÁS! golpeou alguém com a pá. Sentiu o choque macio de mão e braço, e o homem caiu com um grito de dor, e Nunez tinha conseguido passar!
Tinha conseguido passar! E já estava de novo perto da rua das casas, e cegos, girando pás e estacas, corriam com uma espécie de rapidez calculada para lá e para cá.
Nunez ouviu passos atrás de si, anda a tempo, e descobriu um homem alto correndo para a frente e procurando, pelos sons, atingi-lo. Nunez assustou-se, atirou a pá que caiu a uma jarda do seu antagonista, virou-se e fugiu, berrando alto enquanto fintava outro.
Estava tomado pelo pânico. Correu furiosamente para lá e para cá, fintando com a pá quando não havia nenhuma necessidade de fintar, e, na sua ansiedade de ver para todos os lados de uma vez só, acabou tropeçando. Por um momento ficou caído e eles ouviram a sua queda. Longe, no muro circular, uma portinhola parecia o Paraíso, e ele correu desenfreadamente rumo a ela. Nem olhou para os seus perseguidores até chegar à portinhola; tropeçou a meio da ponte, gatinhou pelas rochas, para surpresa e desgosto de um jovem lama que rapidamente perdeu de vista, e deitou-se no chão, resfolegando, sem ar.
E assim acabou o seu coup d'état.
Ficou fora do muro do Vale dos Cegos duas noites e dois dias, sem comida nem abrigo, e meditou sobre o inesperado. Durante essas meditações repetia muito frequentemente, e sempre com um tom cada vez mais profundo de escárnio, o provérbio: "Em Terra de Cegos, Quem Tem um Olho é Rei." Pensou sobretudo em maneiras de lutar e conquistar este povo, e tornou-se claro para ele que não havia maneira possível. Não tinha armas, e agora seria difícil obtê-las.
A doença da civilização tinha-o atingido, mesmo em Bogotá, e ele não conseguia descer ao ponto de achar em si os meios de assassinar um homem cego. É claro que, se fizesse isso, poderia ditar os termos, sob a ameaça de assassiná-los a todos. Mas, mais cedo ou mais tarde, precisaria de dormir!...
Também tentou achar comida entre os pinheiros, sentir conforto sob os seus ramos para se proteger da geada da noite, e - com menos confiança - capturar um lama por meio de qualquer artimanha e tentar matá-lo - talvez batendo-lhe com uma pedra - e então, talvez, comer um pouco dele. Mas o lama duvidou dele e encarou-o com desconfiados olhos castanhos, e cuspiu quando ele chegou perto. Ele teve medo e acessos de tremores no segundo dia. Finalmente rastejou de volta para o muro da Terra dos Cegos e tentou entrar num acordo. Rastejou ao longo do curso de água, gritando, até que dois cegos vieram ao portão e falaram com ele.
"Enlouqueci", disse. "Mas eu tinha acabado de ser criado."
Eles disseram que assim estava melhor.
Contou-lhes que estava mais sábio agora, e se arrependia de tudo o que tinha feito. Então chorou sem querer, pois estava agora muito fraco e doente, e eles tomaram isso como um bom sinal.
Perguntaram se ele ainda pensava que era capaz de "ver".
"Não" , disse. "Era loucura. A palavra não quer dizer nada - menos do que nada!"
Perguntaram-lhe o que havia lá em cima.
"A cerca de dez vezes dez a altura de um homem, há um tecto acima do mundo - de rocha - e liso, muito liso... Tão liso - tão maravilhosamente liso..." Irrompeu de novo em lágrimas histéricas. "Antes que me perguntem mais coisas, dêem-me comida ou morrerei."
Ficou à espera de duros castigos, mas esse povo cego era capaz de tolerância. Encararam a sua rebelião como mais uma prova da idiotia e inferioridade gerais dele, e, depois de o chicotearam, mandaram-no fazer o trabalho mais simples e mais pesado que tinham para alguém fazer, e ele, não vendo outro modo de vida, fez submisso o que lhe disseram para fazer.
Ficou doente durante uns dias, e cuidaram bondosamente dele. Isso fez intensificar-se a sua submissão. Mas eles insistiram em que ele permanecesse no escuro, e essa era uma grande desdita. Filósofos cegos vinham e falavam-lhe da pecaminosa leviandade da sua mente, e repreenderam-no de tal modo por causa das suas dúvidas sobre a tampa de rocha que cobria a sua panela cósmica que ele quase duvidou se na verdade não era vítima de alucinações ao não ver a tampa lá em cima.
Assim, Nunez tornou-se um cidadão da Terra dos Cegos, e esse povo deixou de ser um povo indiferenciado e as pessoas tornaram-se individualidades e tornaram-se-lhe familiares, à medida que o mundo além das montanhas se tornou cada vez mais remoto e irreal. Havia Yacob, o seu amo, homem bondoso quando não estava aborrecido; havia Pedro, sobrinho de Yacob, e havia Medina-saroté, a filha mais nova de Yacob. Ela era pouco estimada no mundo dos cegos, porque tinha um rosto anguloso e não aquela maciez satisfatória, vítrea, que é o ideal, para o cego, da beleza feminina; mas Nunez achou-a linda desde o início, e depois a coisa mais linda neste mundo. As pálpebras fechadas dela não eram vermelhas e afundadas como era comum no vale, mas parecia que poderiam abrir-se de novo a qualquer momento, e ela tinha longos cílios, o que levava os outros a julgarem o seu rosto gravemente desfigurado. E a sua voz era forte, e não satisfazia a audição apurada dos jovens do vale. Assim, não tinha amante.
Chegou a hora em que Nunez pensou que, se pudesse conquistá-la, se resignaria a viver no vale para o resto dos seus dias.
Observava-a; buscava oportunidades de lhe prestar pequenos serviços, e depois percebeu que ela também o observava. Uma vez, numa reunião num feriado, sentaram-se lado a lado à ténue luz das estrelas, e a música era doce a seus ouvidos. A mão dele pousou sobre a dela e ousou apertá-la. E então, ternamente, ela devolveu-lhe a pressão. E um dia, quando tomavam a sua refeição no escuro, ele sentiu a mão dela procurando suavemente por ele e, como por acaso, o fogo crepitou e ele viu a ternura do rosto dela.
Tentou falar-lhe.
Foi procurá-la um dia quando ela estava sentada ao luar, fiando. A lua convertia-a num objecto de prata e de mistério. Ele sentou-se aos pés dela e disse que a amava, e disse quão linda ela lhe parecia. Tinha a voz de um amante, falava com uma terna reverência que se aproximava da adoração, e ela nunca tinha sido antes tocada com adoração. Ela não lhe deu nenhuma resposta definida, mas ficou claro que as suas palavras lhe agradavam.
Depois disto, falava com ela sempre que tinha oportunidade. O vale tornou-se o mundo para ele, e o mundo para além das montanhas, em que os homens viviam à luz do sol, parecia-lhe não mais do que um conto de fadas que ele iria um dia sussurrar aos ouvidos dela. Com muito cuidado, experimentando de várias formas, ele timidamente falou-lhe da visão.
A visão era para ela a mais poética das fantasias, e ouvia a descrição que ele fazia das estrelas e das montanhas e da própria beleza dela, que dizia branca e iluminada, com indulgente cumplicidade. Ela não acreditava, podia entender apenas parte do que ele dizia, mas estava misteriosamente encantada e pareceu-lhe que ela entendia tudo.
O amor dele perdeu o temor e cresceu em coragem. Decidiu pedi-la em casamento a Yacob e aos anciãos, mas ela ficou com medo e foi retardando as coisas. E foi uma das suas irmãs mais velhas a primeira a contar a Yacob que Medina-saroté e Nunez estavam apaixonados um pelo outro.
Houve desde o início uma oposição muito forte ao casamento de Nunez e Medina-saroté; não tanto por a valorizarem, mas porque tinham Nunez como um ser à parte, um idiota, um ser incompetente, uma coisa abaixo do nível permissível para um ser humano. As irmãs dela opuseram-se brutalmente ao casamento, como se este fosse trazer descrédito a todas eles; e o velho Yacob, embora tivesse criado uma espécie de afeição por esse servo desajeitado e obediente, sacudiu a cabeça e disse que não podia ser. Os homens jovens ficaram todos irritados com a ideia de corromper a raça, e um foi tão longe na sua indignação a ponto de insultar e agredir Nunez. Este reagiu à agressão. Então, pela primeira vez, descobriu uma vantagem em poder ver, mesmo ao lusco-fusco, e depois que essa luta terminou, ninguém mais se dispôs a levantar a mão contra ele. Mas ainda achavam impossível o casamento.
O velho Yacob tinha uma certa ternura por sua filha mais nova, e comoveu-se ao vê-la chorando no seu ombro.
"Tu vês, querida, ele é um idiota. Sofre de alucinações; não sabe fazer nada em termos."
"Sei disso", chorou Medina-saroté. "Mas ele está melhor do que já foi. Está a tornar-se melhor. E ele é forte, querido pai, e bom - mais forte e mais bondoso do que qualquer outro homem no mundo. E ama-me, e, pai, eu amo-o."
O velho Yacob ficou muito preocupado ao descobrir que ela estava inconsolável e, além disso, o que o deixava ainda mais preocupado, ele gostava de Nunez por muitas razões. Então compareceu perante a câmara do conselho juntamente com os outros anciãos, observou o rumo da conversa, e disse, no momento adequado: "Ele está melhor do que já foi. Muito provavelmente um dia vamos julgá-lo tão bom quanto nós próprios".
Então, um dos anciãos, depois de pensar profundamente, teve uma ideia. Ele era o grande médico entre aquelas pessoas, o seu curandeiro, tinha uma mente muito filosófica e inventiva, e a ideia de curar Nunez das suas peculiaridades atraía-o. Um dia, quando Yacob estava presente, ele voltou ao tópico de Nunez. "Examinei Bogotá", disse, "e o caso está mais claro para mim. Penso que muito provavelmente ele pode ser curado."
"Isso é o que sempre esperei", disse o velho Yacob.
"O cérebro dele é que está afectado", disse o médico cego.
Os anciãos fizeram um murmúrio de assentimento.
"Então, o que o afecta?"
"Ah", disse o velho Yacob.
"Isto", disse o médico, respondendo à sua própria pergunta. "Essas estranhas coisas que chamamos os olhos, e que existem para produzir uma depressão agradável no rosto, estão doentes, no caso de Nunez, de uma maneira tal, que afecta o seu cérebro. São excessivamente salientes, ele tem cílios e as pálpebras mexem-se, e consequentemente o cérebro está num estado de constante irritação e distracção."
"Sim?", disse o velho Yacob. "Sim?"
"E eu acho que posso dizer, com razoável certeza, que, para curá-lo completamente, tudo o que precisamos de fazer é uma cirurgia bastante simples e fácil - ou seja, extrair esses corpos irritantes."
"E então ele ficará são?"
"Então ele ficará perfeitamente são e será um cidadão bem respeitável."
"Graças aos céus pela ciência!", disse o velho Yacob, e correu para contar a Nunez as boas novas.
Mas o modo como Nunez recebeu a notícia surpreendeu Yacob como sendo frio e decepcionante.
"Poderia pensar-se", disse Yacob, "pelo tom com que você fala, que não se incomoda com a minha filha."
Foi Medina-saroté quem convenceu Nunez a aceitar a intervenção dos cirurgiões cegos.
"TU não queres que eu", disse ele, "perca o meu dom da visão?"
Ela sacudiu a cabeça.
"O meu mundo é a visão."
Ela baixou a cabeça.
"Existem coisas belas, pequenas coisas belas - as flores, os líquenes entre as rochas, a leveza e a macieza de um bocado de pele, o céu longínquo com o passar das nuvens, os pôr-do-sol e as estrelas. E existes TU. Apenas para te ver já é bom ter a visão, para ver o teu rosto doce, sereno, os teus lábios bondosos, as tuas queridas e belas mãos entrecruzadas... São esses olhos meus que tu conquistáste, esses olhos que me mantêm ligado a ti, são esses olhos que esses idiotas querem tirar-me. Em vez disso, preciso de te tocar, ouvir-te, e não poderei ver-te nunca mais. Terei de ficar sob este tecto de rocha, pedra e escuridão, este horrível teto sob o qual a tua imaginação definha ... Não, tu não me obrigarias a fazer isso?"
Uma dúvida desagradável tinha surgido dentro dele. Parou e deixou no ar a pergunta.
"Eu desejo", disse ela, "às vezes -" Ela parou de falar.
"Sim", disse ele, um pouco apreensivo.
"Desejo às vezes - que tu não fales assim."
"Assim, como?"
"Sei que é bonito - é a tua imaginação. Eu amo a tua imaginação, mas agora -"
Ele esfriou. "Agora?", disse, com voz débil.
Ela sentou-se e ficou calada.
"Tu queres dizer - tu achas - que eu ficaria melhor, melhor talvez -"
Ele percebeu as coisas bastante rapidamente. Sentiu raiva, de verdade, raiva, diante do duro curso do destino, mas também simpatia pela falta de compreensão dela - uma simpatia próxima da piedade.
"Querida", disse, e ele podia agora ver, pela palidez dela, quão intensamente o espírito dela lutava contra as coisas que ela não podia dizer. Ele rodeou-a com os braços, beijou-lhe a orelha, e permaneceram um bocado sentados em silêncio.
"E se eu consentisse nisso?", disse ele por fim, numa voz muito suave.
Ela apertou-o nos braços, chorando muito. "Oh, se consentisses", soluçou, "se realmente consentisses!"
Durante a semana que precedeu a operação que deveria resgatá-lo da servidão e da inferioridade e trazê-lo para o nível de um cidadão cego, Nunez não dormiu nada, e durante as horas quentes de sol, enquanto os demais dormiam felizes, ele ficava sentado meditando ou vagueava sem rumo, tentando convencer-se a defrontar o dilema. Tinha dado a resposta, tinha dado o consentimento, e ainda assim não tinha a certeza. Finalmente, o dia de horário chegou ao fim, o sol surgiu esplendorosamente por sobre as cristas douradas, e o seu último dia de visão começou para ele. Teve uns minutos com Medina-saroté antes de se separarem para ela dormir.
"Amanhã", disse ele, "não verei mais."
"Querido do meu coração!", respondeu ela, e apertou-lhe as mãos com toda a força.
"Magoar-te-ão pouco", disse ela; "e tu vais passar por essa dor - vais passar por isso, querido amor, por mim ... Querido, se o coração e a vida de uma mulher podem fazer isso, vou recompensar-te. Queridíssimo, queridíssimo, tu, com a tua voz terna, vou recompensar-te."
Ele ficou inundado de piedade por si mesmo e por ela.
Segurou-a nos braços, e apertou os lábios contra os dela, e olhou o doce rosto pela última vez. "Adeus!", sussurrou diante dessa querida visão, "adeus!" E então, em silêncio, deixou-a.
Ela ouviu os passos lentos dele à saída, e algo no seu ritmo fê-la debulhar-se em lágrimas.
Ele tinha decidido ir para um lugar solitário, onde os prados estavam belos, cheios de narcisos brancos, e ali ficar até que chegasse a hora de seu sacrifício, mas enquanto andava, ergueu os olhos e viu a manhã, a manhã, que como um anjo de armadura dourada, descia pelos picos...
Perante este esplendor, pareceu-lhe que aquele mundo cego no vale e o seu amor, não eram mais, afinal do que um poço de pecado.
Não voltou para trás, como tinha tencionado; seguiu em frente, ultrapassou o muro circundante e começou a subir pelas rochas, enquanto o olhar permanecia fixo sobre o gelo e a neve iluminados pelo sol.
Viu a sua beleza infinita, e a imaginação avançou e foi mais além, até alcançar tudo aquilo a que ia renunciar para sempre.
Pensou naquele mundo grande e livre de onde tinha partido, e que era o seu próprio mundo, e teve uma visão das encostas longínquas, da distância atrás da distância, com Bogotá, um lugar de beleza e de multidão vibrante, uma glória durante o dia e um mistério luminoso à noite, lugar de palácios, fontes, estátuas e casas brancas, belas pelo meio. Pensou como, em um dia ou pouco mais, poderia descer e atravessar desfiladeiros, acercando-se mais e mais das suas ruas e ruelas buliçosas. Pensou na viagem pelo rio, dia após dia, da grande Bogotá para o mundo ainda mais vasto lá fora, por entre cidades e aldeias, florestas e desertos, o rio correndo imparável, dia após dia, até que as suas margens se afastavam e os grandes vapores surgiam brilhantes, e tinha chegado ao mar - o mar sem limites, com suas mil ilhas, seus milhares de ilhas, e seus navios a vapor avistados através da nebulosa lonjura, em suas incessantes viagens à volta daquele mundo maior. Aí, livre da prisão das montanhas, era possível ver o céu... sim, o céu, não um disco como se via aqui, mas como um arco de azul imenso, em cujos abismos flutuavam e giravam as estrelas...
Os seus olhos examinaram a grande cortina de montanhas perscrutando-as ansiosamente.
Por exemplo, se alguém subisse por aquele desfiladeiro, rumo àquele pico, seria possível passar por entre aqueles pinheiros-anões que corriam em volta numa espécie de coroa e se erguiam ainda mais alto passando acima do desfiladeiro. E depois? Aquele talude poderia ser superado. Então talvez pudesse ser achada uma via de escalada que o levasse ao alto do precipício que se ocultava debaixo da neve, e se essa canaleta falhasse, então outra mais a leste poderia servir melhor. E depois? Depois estaria a caminhar sobre neve cor de âmbar, a meio caminho rumo à crista daqueles magníficos lugares desolados.
Virou-se para olhar para trás, para a aldeia, e observou-a de modo abrangente.
Pensou em Medina-saroté, que se tinha convertido num pequeno ponto remoto.
Virou-se de novo para a parede da montanha, por onde o dia claro tinha descido, ao seu encontro.
Então, resolutamente, começou a escalar. Quando chegou o pôr-do-sol, ele já não estava a subir, mas estava longe e muito alto. Tinha estado ainda mais acima, mas ainda estava num lugar muito alto. As roupas estavam rasgadas, os membros estavam manchados de sangue, estava machucado em muitos lugares, mas sentia-se em paz e havia um sorriso no seu rosto.
De lugar em que repousava, o vale parecia que estava no fundo de um poço e quase a uma milha de distância. Já estava escuro, com neblina e sombras, embora os picos de montanhas em torno dele fossem objectos de luz e fogo. Os picos das montanhas que o rodeavam eram objectos de luz e fogo, e os pequenos detalhes das rochas que lhe estavam próximas estavam impregnados de uma beleza subtil - um veio de mineral verde furando o cinza, a luminosidade de cristais aqui e ali, e muito perto do seu rosto, um pequeno líquen laranja de delicada beleza. Havia sombras profundas e misteriosas na garganta, de um azul intenso que se tornava púrpura, e o púrpura era de uma escuridão luminosa, e lá em cima desdobrava-se a ilimitada vastidão do céu. Mas ele deixou de prestar atenção a estas coisas; permaneceu quieto e sorrindo como se simplesmente estivesse satisfeito pelo simples facto de ter escapado do vale dos cegos, no qual tinha pensado ser rei.
Apagou-se o resplendor do pôr-do-sol, a noite chegou, e ele continuou ali, imóvel, contente e em paz, sob a luz fria das estrelas.
FIM
"A Terra dos Cegos"
H. G. Wells ( 1904, publicado originalmente em 1911 )
A mais de trezentas milhas do Chimborazo, e a cem das neves do Cotopaxi, no território mais inóspito dos Andes equatoriais, encontra-se um misterioso vale entre as montanhas, separado do resto dos homens, a Terra dos Cegos. Há muitos anos esse vale estava tão aberto ao mundo, que era possível alcançar as suas uniformes pradarias, atravessando medonhos barrancos e um desfiladeiro gelado; e lá realmente chegaram seres humanos, uma ou duas famílias de mestiços peruanos, fugindo da cobiça e da tirania de um malvado governante espanhol. Então aconteceu a assombrosa erupção do Mindobamba, quando a noite durou dezassete dias em Quito, a água ferveu em Yaguachi e todos os peixes mortos chegaram a flutuar até mesmo a Guaiaquil; por toda parte, ao longo da costa do Pacífico, houve deslizamentos de terra, rápidos degelos e inundações súbitas, e todo um lado da velha crista do Arauca desprendeu-se e veio despenhou-se com um ruído de trovões, e a erupção separou para sempre a Terra dos Cegos dos caminhos explorados pelos homens. Mas aconteceu um desses povoadores iniciais estar do outro lado dos desfiladeiros quando o mundo tremeu tão terrivelmente, e por força viu-se obrigado a esquecer a mulher e o filho e todos os amigos e bens que tinha deixado lá em cima, e teve de começar uma nova vida no mundo mais abaixo. Ele começou de novo, mas doente; foi afectado pela cegueira e veio a morrer nas minas, devido a maus-tratos; mas a história que ele contou fez nascer uma lenda que perdurou até hoje, em toda a cordilheira dos Andes.
Falou da razão que o havia levado a aventurar-se a abandonar aquele lugar protegido, para onde tinha sido inicialmente levado quando criança - amarrado ao lombo de um lama, junto com uma enorme carga de equipamentos. O vale, disse ele, tinha tudo o que o coração humano podia desejar - água doce, pastos, clima ameno, encostas de rico solo fértil com manchas de um arbusto que dava um fruto excelente, e de um lado grandes florestas de pinheiros que protegiam das avalanches. Longe, bem longe, de três lados, imensos picos de rocha verde-acinzentada estavam coroados de placas de gelo; mas a corrente do glaciar não se precipitava sobre os habitantes, antes fluía para longe através das encostas mais afastadas, e só de vez em quando grandes massas de gelo deslizavam para o vale. Neste vale nem chovia, nem nevava, mas mananciais abundantes proporcionavam ricas pastagens verdes, que a irrigação levava a toda a extensão do vale. Os colonizadores haviam realmente feito um bom trabalho naquele lugar. Os seus animais criaram-se bem e multiplicaram-se, e havia uma só coisa que toldava a sua felicidade. E no entanto, bastava para toldá-la de sobremaneira. Uma estranha doença havia-se abatido sobre eles, fazendo que não só todas as crianças ali nascidas - e, na verdade, várias crianças mais velhas também - fossem atacadas pela cegueira. Foi para buscar algum encantamento ou antídoto contra essa praga da cegueira que ele tinha, com grande esforço, perigo e dificuldade, voltado atrás pelo desfiladeiro. Naquele tempo, em semelhantes casos, os homens não pensavam em germes e infecções, mas em pecados; e a ele parecia-lhe que a razão dessa aflição devia residir na negligência desses imigrantes sem sacerdotes, que não ergueram um templo assim que entraram no vale. Ele queria que um templo - bonito, barato, eficaz - fosse erguido no vale; queria relíquias e todos aqueles poderosos símbolos da fé, objectos abençoados, medalhas misteriosas e rezas. Na sua bolsa levava uma barra de prata cuja origem ele não se dispunha a revelar; insistia em que não havia prata nenhuma no vale, com a teimosia própria do mentiroso inábil. Eles tinham todos fundido as suas moedas e ornamentos, disse ele, para comprar a ajuda divina contra seu mal, já que lá em cima tinham pouca necessidade daquele tesouro. Imagino esse jovem montanhês de olhos turvos, queimado pelo sol, magro e ansioso, segurando febrilmente a aba do chapéu, um homem totalmente desacostumado aos modos do mundo cá de baixo, contando esta história, antes da grande convulsão, a algum sacerdote arguto e atento; posso vê-lo depois tentar regressar com remédios piedosos e infalíveis contra aquele mal, e a decepção infinita com que ele se deve ter defrontado perante a imensa catástrofe que havia obstruído o desfiladeiro, por onde um dia tinha saído. Mas nada sei do resto da sua história de infortúnios, excepto que morreu vários anos depois, em trágicas circunstâncias. Pobre homem perdido daquela região remota! O curso de água que antes havia formado o desfiladeiro, agora sai estrepitosamente da boca de uma caverna rochosa, e a lenda desencadeada pela sua história infeliz e mal contada converteu-se numa história, que ainda hoje se pode ouvir, sobre uma raça de homens cegos, vivendo algures "para lá das montanhas".
E no meio da pequena população daquele vale agora isolado e esquecido, a doença seguiu o seu curso. Os velhos tornaram-se trôpegos e vacilantes, os jovens viam, mas enevoadamente, e as crianças que deles nasceram, nunca chegaram a ver. Mas a vida era muito fácil naquela bacia rodeada de neve, sem espinheiros ou eglantinas, sem insectos nocivos nem animais selvagens, excepto a raça mansa de lamas que eles tinham carregado e levado e que subiram os leitos dos rios estreitados pelos desfiladeiros pelos quais ali tinham chegado. A diminuição da visão tinha sido tão gradual que só se deram conta, depois de perdida. Eles conduziam as crianças cegas daqui para ali, até que estes passaram a conhecer maravilhosamente bem todo o vale, e quando, por fim, a visão morreu entre eles, a raça sobreviveu. As cegas tiveram, até, tempo para se adaptarem a controlar o fogo, que acendiam cuidadosamente em fogões de pedra. Eram um tipo simples de gente no começo, analfabetos, só ligeiramente tocados pela civilização espanhola, mas com restos da tradição artística do antigo Peru e da sua filosofia perdida. A uma geração seguiu-se outra. Esqueceram muitas coisas, inventaram outras. A sua tradição do mundo mais vasto de onde tinham vindo adquiriu um acento mítico e incerto. Em todas as coisas, salvo na visão, eles eram fortes e hábeis, e de vez em quando, o acaso fazia nascer entre eles alguém que tinha uma mente original e que era capaz de falar e de os persuadir, e logo depois surgia outro. Esses dois morreram, deixando o seu legado, e a pequena comunidade cresceu em número e em conhecimento, e enfrentou e resolveu problemas sociais e económicos que foram surgindo. As gerações seguiram-se umas às outras. Chegou uma altura em que nasceu uma criança que estava a quinze gerações daquele ancestral que saíra do vale com uma barra de prata para buscar a ajuda de Deus, e que nunca voltara. Por volta dessa época, acontece que apareceu nessa comunidade, um homem proveniente do mundo exterior. E esta é a história desse homem.
Era um montanhês da região perto de Quito, um homem que descera até ao mar e tinha visto o mundo, um leitor original de livros, um homem empreendedor e de inteligência arguta, que fora contratado - por uma equipa de ingleses que tinha vindo ao Equador para escalar montanhas - para substituir um dos seus três guias suíços que ficara doente. Escalaram aqui, escalaram acolá, e então veio a tentativa do Parascotopetl, o Mätterhorn dos Andes, em que esse homem se perdeu para o mundo exterior. A história do acidente foi escrita uma dezena de vezes. A narrativa de Pointer é a melhor. Ele conta, com um toque de autêntico dramatismo, como a pequena equipa lutou para subir o caminho difícil e quase vertical até ao sopé do último e maior dos precipícios, e como construíram um abrigo nocturno no meio da neve numa pequena reentrância de rocha, e se deram conta, pouco depois, de que Nunez já não estava entre eles. Gritaram, e não houve resposta; gritaram e assobiaram e, durante o resto daquela noite, não dormiram mais.
Quando amanheceu, viram as marcas da sua queda. Parece impossível que esta tenha podido ocorrer sem que nenhum som tivesse sido emitido. Escorregara para leste, rumo à encosta desconhecida da montanha; muito abaixo tinha chocado com uma aguda protuberância de gelo e continuado a cair no meio de uma avalancha de neve. O sulco ia direito à beira de um precipício medonho, e, para lá, tudo estava oculto em mistério. Muito, muito lá em baixo, e enevoadas pela distância, eles podiam ver as árvores subindo de um vale estreito, fechado - a perdida Terra dos Cegos. Mas, lá de cima, não puderam saber que era a Terra dos Cegos, nem distingui-la de modo nenhum de qualquer outro trecho estreito de vale. Desalentados com o acidente, abandonaram as suas intenções nessa mesma tarde, e Pointer foi convocado para a guerra antes de poder empreender uma nova escalada. Até hoje o Parascotopetl continua a exibir o seu cume inconquistada, e o abrigo de Pointer desmorona-se entre as neves, sem que ninguém tenha voltado a visitá-lo.
Contudo, o homem que caíu sobreviveu.
No final do declive caiu mil pés, e precipitou-se, envolto numa nuvem de neve sobre uma encosta gelada ainda mais escarpada do que a de cima. Descendo, ele girou, bateu com o corpo e atordoado, mas sem um único osso quebrado, foi parar a declives mais suaves, e finalmente parou de rolar e ficou imóvel, enterrado num monte macio de massas brancas que o tinham acompanhado e salvado. Voltou a si com uma ténue ideia de que estava doente, de cama; então, com a compreensão de um montanhês, percebeu a sua situação e, depois de algum descanso, livrou-se da neve, e andou até que conseguiu ver as estrelas. Descansou deitado sobre o peito durante algum tempo, imaginando onde estaria e o que lhe teria acontecido. Examinou os membros e descobriu que vários botões tinham desaparecido, e que o casaco lhe tinha subido para cima da cabeça. A faca tinha-lhe desaparecido do bolso e o chapéu tinha-se perdido, embora ele o tivesse amarrado sob o queixo. Lembrou-se que, quando escorregara, estivera procurando pedras soltas para erguer a sua parte da parede do abrigo. A sua machadinha de gelo tinha desaparecido.
Chegou à conclusão de que devia ter caído, e olhou para cima para ver, exagerada pela luz fantasmagórica da lua nascente, a tremenda queda que tinha dado. Por um momento, permaneceu olhando de modo vazio para aquela vasta parede de rocha pálida que se erguia como uma torre, surgindo por momentos de uma maré rasante de escuridão. A beleza fantasmagórica e misteriosa, manteve-o parado por um tempo, mas logo foi tomado de um paroxismo convulso de riso soluçante...
Bastante tempo depois, tomou consciência de que estava perto da borda inferior da neve. Abaixo, sob o que era agora uma encosta praticável, iluminada pela lua, deparou com a continuidade escura e áspera de relva salpicada de rochas. Lutou para se levantar, com todas as articulações e membros doloridos, livrou-se com dificuldade da neve solta amontoada em torno dele, rumou para baixo até que chegou à turfa e ali caiu, mais do que se deitou, ao lado de uma grande pedra, bebeu até ao fundo do cantil que tirou do bolso de dentro e, instantaneamente, adormeceu...
Foi acordado pelo cantar dos pássaros nas árvores bem lá em baixo. Achou-se num pequeno monte ao pé de um vasto precipício, marcado pela descida que ele e a neve tinham sofrido. Acima, em frente dele, outra parede de rocha se erguia contra o céu. O desfiladeiro entre esses precipícios orientava-se de leste para oeste e estava cheio da luz do sol matinal, que iluminava a oeste a massa de montanha caída que tinha fechado o desfiladeiro descendente. A seus pés parecia abrir-se um precipício igualmente escarpado, mas, atrás da neve, achou uma espécie de fenda em forma de chaminé gotejante com água de neve, pela qual um homem desesperado podia aventurar-se. Descobriu que isso era mais fácil do que parecia, e chegou afinal a outro monte desolado, e então depois de uma escalada na rocha sem nenhuma dificuldade particular, a uma escarpada encosta coberta de árvores. Orientou-se e voltou o rosto para cima do desfiladeiro, pois viu que este se abria lá em cima para prados verdes, entre os quais ele vislumbrou bastante distintamente um grupo de cabanas de pedra de construção insólita. Às vezes o seu progresso era tão lento como escalar ao longo da face de uma parede, e após algum tempo o sol nascente parou de brilhar sobre o desfiladeiro, as vozes dos pássaros morreram ao longe, e o ar tornou-se frio e escuro em torno dele. Mas o vale distante, com suas casas, era por isso mesmo cada vez mais brilhante. Chegou depois ao talude, e entre as rochas notou - pois era um homem observador - uma estranha samambaia que parecia sair das reentrâncias com mãos intensamente verdes. Pegou numa ou duas folhas, mastigou o talo e achou-o comestível.
Por volta do meio-dia saiu finalmente da garganta do desfiladeiro para o planalto e a luz do sol. Estava cansado e com os membros rígidos; sentou-se à sombra de uma rocha, encheu o cantil com água de uma fonte e bebeu, e ficou descansando um tempo antes de se dirigir às casas.
Pareceram-lhe muito estranhas e, na verdade, todo o aspecto daquele vale se tornou, à medida que o olhava, mais estranho e menos familiar. A maior parte da sua área era ocupada por um luxuriante prado verde, cheio de muitas flores bonitas, irrigado com cuidado extraordinário e exibindo indicadores de cultivo sistemático. Bem alto e cercando o vale havia um muro, e o que parecia ser um canal circular, do qual vinham os fios de água que alimentavam as plantas da pradaria, e nas encostas mais altas, acima do canal, rebanhos de lamas comiam o ralo pasto. Cercados, aparentemente abrigos ou manjedouras para os lamas, erguiam-se contra o muro fronteiriço aqui e ali. Os canais de irrigação corriam até se juntarem num canal principal rumo ao centro do vale, abaixo, e esse canal era cercado de cada lado por um muro à altura do peito. Isso dava uma estranha qualidade urbana a esse lugar recluso, qualidade grandemente realçada pelo facto de que vários caminhos, pavimentados com pedras brancas e pretas, e cada um com uma curiosa pequena curva em cada esquina, iam para lá e para cá de modo ordenado. As casas da aldeia central eram bem diferentes da aglomeração casual e desordenada das aldeias montanhesas que ele conhecia; as casas estavam dispostas numa fileira contínua de cada lado de uma rua central surpreendentemente limpa; aqui e ali, a sua fachada era perfurada por uma porta, e nem uma única janela quebrava a uniformidade da sua frontaria. Eram coloridas com extraordinária irregularidade, manchadas com um tipo de cimento que era às vezes cinza, às vezes pardo, às vezes cor de ardósia ou castanho-escuro; e foi a visão desse colorido estranho que trouxe primeiro a palavra "cego" aos pensamentos do explorador. "O bom homem que fez isso" , pensou, "deve ser tão cego como um morcego."
Desceu uma escarpa, e assim chegou ao muro e ao canal que corriam em torno do vale, perto de onde o último despejava o seu excesso nas profundezas do desfiladeiro formando uma cascata fina e trémula. Agora ele podia ver, na parte mais remota do prado, alguns homens e mulheres descansando em montes empilhados de erva, como se estivessem dormindo a sesta; mais perto da aldeia algumas crianças deitadas, e mais perto ainda, três homens carregando baldes em armações presas aos ombros, ao longo de um pequeno caminho que levava do muro circundante às casas. Esses três homens vestiam trajes de lã de lama e tinham botas e cintos de couro e usavam chapéus de lã com aba traseira e protectores de ouvidos. Seguiam um atrás do outro, como se fosse uma fila, andando devagar e bocejando enquanto andavam, como se fossem homens que tivessem ficado acordados a noite inteira. Havia algo tão reconfortante de prosperidade e respeitabilidade em seu comportamento que, depois de hesitar um momento, Nunez se ergueu, tão visivelmente quanto possível, acima da rocha, e deu um grande grito que ecoou em torno do vale.
Os três homens pararam e moveram as cabeças como se estivessem olhando em torno. Viraram o rosto para lá e para cá, e Nunez gesticulou. Mas eles não pareceram vê-lo, apesar de todos os seus gestos, e, passado algum tempo, virando-se para as montanhas longínquas à direita, gritaram como que em resposta. Nunez berrou de novo, e enquanto gesticulava de novo sem resultado, a palavra "cego" surgiu bem clara na sua cabeça. "Esses loucos devem ser cegos", disse.
Quando, por fim, depois de muita gritaria e irritação, Nunez atravessou o curso de água por sobre uma pequena ponte, passou por um portão no muro e se aproximou deles, teve a certeza de que eles eram cegos. Estava convencido de que essa era a Terra dos Cegos da qual falavam as lendas. A convicção havia se apossado dele, assim como um sentido de grande e na verdade invejável aventura. Os três estavam parados um ao lado do outro, não olhando para ele, mas dirigindo os ouvidos para ele, avaliando-o por seus passos não familiares. Mantinham bem perto um do outro, como homens um tanto amedrontados, e ele podia ver-lhes as pálpebras fechadas e afundadas, como se os próprios globos oculares ali em baixo se tivessem contraído. Havia uma expressão quase de pavor em seus rostos.
"Um homem", disse um deles, em espanhol mal reconhecível, "é um homem - um homem ou um espírito - que desceu das rochas."
Mas Nunez avançou com os passos confiantes de um jovem que está no começo da vida. Todas as antigas histórias do vale perdido e da Terra dos Cegos voltaram à sua mente, e na sua mente destacou-se esse velho provérbio, como se fosse um refrão:
"Em Terra de Cegos, Quem Tem um Olho é Rei."
"Em Terra de Cegos, Quem Tem um Olho é Rei."
E muito cortesmente cumprimentou-os. Falou-lhes utilizando os olhos.
"De onde vem ele, irmão Pedro?", perguntou um deles.
"Desceu das rochas."
"Venho do outro lado das montanhas", disse Nunez, "de fora deste lugar - onde os homens podem ver. De perto de Bogotá, onde há cem mil pessoas e não se consegue abarcar a cidade com a vista."
"Vista?", murmurou Pedro."Vista?"
"Ele vem", disse o segundo cego, de para lá das rochas."
O tecido de seus casacos, reparou Nunez, era modelado curiosamente, cada um com um tipo diferente de costura. Assustaram-no com um movimento simultâneo ao seu encontro, cada um com uma mão estendida. Ele recuou diante do avanço desses dedos abertos.
"Venha cá" , disse o terceiro cego, seguindo o movimento de Nunez e agarrando-o.
Seguraram Nunez e apalparam-no, sem dizerem uma única palavra enquanto não terminaram.
"Cuidado", disse ele, sentindo um dedo no olho, e descobriu que eles achavam esse órgão, com suas pálpebras frementes, uma coisa esquisita nele. Eles voltaram a tocar-lhe.
"Uma criatura estranha, Correa", disse o de nome Pedro. "Sinta a aspereza de seus cabelos. São como o pêlo de um lama."
"É áspero como as rochas que o pariram", disse Correa, investigando, com mão suave e ligeiramente húmida, o queixo não barbeado de Nunez. "Talvez se torne menos áspero." Nunez lutou um pouco enquanto era examinado, mas eles seguraram-no com firmeza.
"Cuidado", disse de novo.
"Ele fala", disse o terceiro homem. "Não há dúvida que é um homem." "Ugh!", disse Pedro, ao experimentar a aspereza do casaco de Nunez. "E você veio para o mundo?", perguntou Pedro.
"SAÍ do mundo. Por montanhas e glaciares; logo ali acima, a meio caminho do sol. Saí do grande, do enorme mundo que desce, em doze dias de jornada, rumo ao mar."
Eles pareciam prestar-lhe pouca atenção. "Nossos pais disseram-nos que os homens podem ser criados pelas forças da natureza", disse Correa. "Pelo calor das coisas e a humidade, e a podridão... a podridão."
"Vamos levá-lo aos anciãos", disse Pedro.
"Grita antes", disse Correa, "para que as crianças não se assustem. Esta é uma ocasião importante."
Então eles gritaram, e Pedro foi na frente e tomou Nunez pela mão, para levá-lo às casas.
Nunez afastou a mão. "Posso ver", disse.
"Ver?", disse Correa.
"Ver", disse Nunez, voltando-se para ele, e tropeçou no balde de Pedro. "Os sentidos dele ainda são imperfeitos", disse o terceiro cego. "Tropeça e diz palavras sem sentido. Levem-no pela mão."
"Como vocês quiserem", disse Nunez, e foi conduzido pela mão, rindo. Parecia que eles não sabiam nada sobre a visão.
Bem, com o tempo ele os ensinaria.
Ouviu pessoas gritando, e viu algumas figuras que se reuniam na rua principal da aldeia.
Reparou que aquele primeiro encontro com a população da Terra dos Cegos o enervou e impacientou mais do que tinha esperado. O lugar parecia maior, à medida que se aproximava dele, e as cores manchadas mais esquisitas, e uma multidão de crianças, homens e mulheres (as mulheres e as garotas, notou com agrado, tinham algumas delas rostos bastante bonitos, apesar de todas elas terem os olhos fechados e afundados) chegou junto dele, segurando-o, tocando-o com mãos suaves e sensíveis, cheirando-o e ouvindo cada palavra que ele dizia. Algumas das garotas e das crianças, entretanto, mantinham-se afastadas, como se tivessem medo, e realmente a sua voz parecia áspera e rude em comparação com os tons deles, mais suaves. Eles cercaram-no. Os seus três guias mantiveram-se perto dele, com um ar de propriedade, e diziam e repetiam: "Um homem selvagem que veio das rochas".
"De Bogotá", disse Nunez. "De Bogotá. Para lá das cristas das montanhas."
"Um homem selvagem - falando palavras selvagens" , disse Pedro. ''Vocês ouviram isso - BOGOTÁ? A sua mente ainda não está formada. Ele tem apenas os rudimentos da fala."
Um garotinho acariciou a mão de Nunez. "Bogotá", disse, troçando. "Ai! Uma cidade, diferente da vossa aldeia. Venho do grande mundo - onde os homens têm olhos e vêem."
"O nome dele é Bogotá", disseram.
"Tropeçou", disse Correa,"tropeçou duas vezes enquanto chegávamos aqui."
"Levem-no para os anciãos."
E empurraram-no de repente por uma porta adentro, para uma sala escura como breu, a não ser ao fundo, onde uma pequena fogueira brilhava fracamente. A multidão fechou o caminho atrás dele e bloqueou quase completamente a luz do dia e, antes que ele pudesse impedir-se, tinha caído de cabeça ao tropeçar nos pés de um homem sentado. O seu braço, estendido, bateu no rosto de alguém enquanto caía; sentiu o macio toque de uma face e ouviu um grito de raiva, e por um momento lutou contra várias mãos que o agarraram. Era uma luta desigual. Deu-se conta da situação e ficou quieto.
"Caí", disse. "Não pude ver nesta escuridão profunda."
Houve uma pausa, como se as pessoas não vistas em torno dele tentassem entender as suas palavras. Então a voz de Correa disse: "Ele acaba de ser criado. Tropeça quando anda e mistura palavras que não querem dizer nada quando fala".
Outros também disseram coisas que ele mal ouviu ou entendeu imperfeitamente.
"Posso-me levantar?", perguntou, numa pausa do burburinho. "Não vou lutar com vocês de novo."
Eles consultaram-se entre si e deixaram-no levantar-se.
A voz de um homem mais velho começou a interrogá-lo, e Nunez deu por si tentando explicar o grande mundo do qual ele tinha caído, e o céu, as montanhas, a visão e outras tantas maravilhas, àqueles anciãos sentados no escuro, na Terra dos Cegos. E eles não acreditavam em nada e não entendiam nada do que ele lhes dizia, facto bem distante das expectativas de Nunez. Há catorze gerações que estas pessoas eram cegas e estavam separadas do mundo da visão; os nomes de todas as coisas referentes à visão tinham desaparecido e mudado; a lembrança do mundo lá fora tinha desaparecido e tinha-se convertido num conto de fadas; e eles tinham deixado de se preocupar com qualquer coisa para lá das encostas rochosas do seu muro circundante. Cegos de génio tinham surgido entre eles e questionado os restos de crença e tradição que o povo trazia consigo desde os dias da visão, e haviam posto de lado todas essas coisas como fantasias ociosas e haviam-nas substituído por explicações novas e mais críveis. A sua imaginação tinha murchado juntamente com os seus olhos; e eles criaram para si mesmos novas imaginações com os seus ouvidos e pontas de dedos cada vez mais sensíveis. Lentamente Nunez foi-se dando conta disso; que a sua expectativa de admiração e reverência em relação à sua origem e dons não iria frutificar; e após a sua precária tentativa de lhes explicar a visão ter sido posta de lado como a versão confusa de um ser recém-criado descrevendo as maravilhas das suas sensações incoerentes, ele conformou-se, um tanto espantado, em ouvir a instrução deles. E o mais velho dos cegos explicou-lhe a vida, a filosofia e a religião, como o mundo (querendo dizer o seu vale) tinha sido inicialmente um vazio oco nas rochas, e então surgiram, primeiro, coisas inanimadas sem o dom do tacto, e depois os lamas e umas poucas outras criaturas que tinham pouco sentido das coisas, e então os seres humanos, e enfim os anjos, que se podiam ouvir cantando e agitando, mas aos quais ninguém podia tocar, história que muito espantou Nunez, até que ele pensou nos pássaros.
O ancião continuou contando a Nunez como o tempo tinha sido dividido entre o quente e o frio, que são os equivalentes dos cegos ao dia e à noite, e como era bom dormir no quente e trabalhar no frio, de modo que agora, não fosse devido à sua chegada, toda a cidade dos cegos estaria dormindo. Ele disse que Nunez devia ter sido criado especialmente para aprender e pôr-se ao serviço da sabedoria que eles tinham adquirido e que, apesar de toda a sua incoerência mental e todos os seus tropeções, ele precisava de ter coragem, e fazer o melhor por aprender, e perante isso toda a multidão, à entrada da porta, assentiu de modo encorajador. Ele disse que a noite - pois os cegos chamam noite ao seu dia - ia agora muito avançada, de modo que todos deviam ir para casa dormir. Perguntou a Nunez se este sabia dormir e Nunez disse que sabia, mas que antes de dormir, queria comer. Trouxeram-lhe comida - leite de lama numa taça, e pão duro salgado - e levaram-no a um lugar solitário de modo que eles não o ouvissem comer, e depois ele deveria dormir até que o frio da noite na montanha os acordasse para começarem o seu dia de novo. Mas Nunez não dormiu de maneira nenhuma.
Em vez disso, sentou-se no lugar em que o deixaram, descansando os membros e fazendo girar e girar na mente as circunstâncias inesperadas de sua chegada.
De vez em quando ria-se, às vezes divertido, às vezes indignado.
"Mente não formada!", disse. "Ainda não formou os sentidos! Mal sabem que estão insultando o seu rei e mestre enviado do céu. Vejo que preciso de trazê-los à razão. Deixem-me pensar - deixem-me pensar."
Ainda estava a reflectir quando o sol se pôs.
Nunez sabia captar a beleza das coisas e pareceu-lhe que o fulgor brilhante sobre os campos nevados e dos glaciares à volta do vale era a coisa mais bela que ele jamais tinha visto. Seus olhos passearam-se com deleite da aldeia até aos campos irrigados, que se afundavam rapidamente no lusco-fusco, e de repente uma onda de emoção o tomou, e ele deu graças a Deus, do fundo do coração, por lhe ter sido dado a ele o dom da visão.
Ouviu uma voz chamando por ele, da aldeia: "Ei, Bogotá! Chegue aqui!".
Ao ouvir isto, levantou-se a sorrir. Ia mostrar a essa gente, de uma vez por todas, o que a visão pode fazer por um ser humano. Iriam procurá-lo, mas não o achariam.
"Não se mexa, Bogotá", disse a voz.
Ele riu silenciosamente e deu dois passos sorrateiros para fora do caminho.
"Não pise a erva, Bogotá; é proibido."
Nunez mal tinha ouvido o ruído que ele próprio fizera. Parou, espantado.
O dono da voz correu pelo caminho acima, em direcção a Nunez.
Este voltou para o caminho. "Aqui estou", disse.
"Porque não veio quando o chamei?", disse o cego. "Você precisa de ser levado como uma criança? Não pode ouvir o caminho enquanto anda?"
Nunez riu. "Posso vê-lo", disse.
"Não existe a palavra VER", disse o cego, após uma pausa. "Pare com essa loucura e siga o som de meus pés."
Nunez seguiu-o, um tanto aborrecido. "A minha vez vai chegar", disse.
'Você vai aprender", respondeu o cego. "Há muita coisa para aprender no mundo."
"Nunca lhe disseram «Em Terra de Cegos, Quem Tem um Olho é Rei»"?
"O que é cego?", perguntou o cego, despreocupadamente, por cima do ombro.
Passaram-se quatro dias e o quinto dia encontrou o Rei dos Cegos ainda incógnito, como um estranho desajeitado e inútil entre os seus súbditos.
Nunez descobriu que era muito mais difícil proclamar-se rei do que tinha suposto, e, entretanto, enquanto meditava no seu coup d'état, fez o que lhe diziam e aprendeu as maneiras e costumes da Terra dos Cegos. Achou que trabalhar e andar durante a noite era uma coisa particularmente exaustiva, e decidiu que essa era a primeira coisa que iria mudar.
Aquela gente levava uma vida simples, laboriosa, com todos os elementos de virtude e felicidade que podem ser entendidas pelos seres humanos. Trabalhavam, mas não de modo opressivo; tinham comida e roupa suficientes para as suas necessidades; tinham dias e estações de descanso; tocavam música e dançavam muito, havia amor entre eles, e crianças pequenas.
Era maravilhoso ver a confiança e a precisão com que eles caminhavam no seu mundo bem ordenado. Tudo tinha sido feito para se adequar às suas necessidades; cada um dos caminhos que irradiavam da área do vale tinha um ângulo constante em relação aos outros, e cada um deles se distinguia por uma cunha especial sobre a sua curva; todos os obstáculos e irregularidades tinham sido suprimidos, havia muito tempo, do caminho ou da pradaria; os seus métodos e procedimentos adequavam-se naturalmente às suas necessidades específicas. Os seus sentidos tinham se tornado maravilhosamente agudos; podiam ouvir e avaliar o menor gesto de um ser humano a uma dezena de passos - podiam ouvir até a batida de seu coração. A entonação havia muito tinha substituído as expressões do rosto, e os toques pelo tacto tinham substituído os gestos indicativos; o seu trabalho com enxada, pá e ancinho era tão fácil e confiante como a jardinagem pode ser. O sentido do olfacto era extraordinariamente agudo; podiam distinguir diferenças individuais tão rapidamente quanto um cachorro, e manejavam os lamas, que viviam entre as rochas lá em cima e vinham ao muro buscar comida e abrigo, com facilidade e confiança. Foi somente quando, no fim, Nunez procurou afirmar-se perante eles, que descobriu quão fáceis e confiantes eram os movimentos deles.
Rebelou-se somente depois de tentar persuadi-los. Tentou no início, em várias ocasiões, explicar-lhes a visão. "Escutem-me", disse. "Há coisas em mim que vocês não entendem."
Umas vezes um ou dois deles prestaram-lhe atenção; sentavam-se com os rostos baixos e os ouvidos voltados inteligentemente na direcção de Nunez, e ele fez o melhor que pôde para lhes explicar o que era ver. Entre os seus ouvintes havia uma garota, com pálpebras menos vermelhas e afundadas do que os outros, de modo que quase se podia imaginar que ela estava escondendo os olhos, e a esta ele esperava especialmente convencer. Ele falou das belezas da visão, de olhar as montanhas, do céu e do nascer do sol, e eles ouviam-no com incredulidade divertida que, depois, se tornou condenatória. Disseram-lhe que não havia montanhas de modo nenhum, mas que o fim das rochas onde os lamas pastavam era na verdade o fim do mundo; dali partia o tecto cavernoso do universo, de onde vinham o orvalho e as avalanches; e quando ele se manteve firme na afirmação de que o mundo não tinha fim nem tecto, ao contrário do que eles supunham, eles disseram que os seus pensamentos eram pecaminosos. Até ao ponto em que ele podia descrever o céu, as nuvens e as estrelas para eles, tudo isso lhes parecia um vácuo monstruoso, um terrível vazio no lugar do tecto liso sobre as coisas no qual acreditavam - era um artigo de fé entre eles que o tecto da caverna era plenamente liso ao toque. Nunez percebeu que de algum modo ele os chocava, desistiu de vez desse assunto, e tentou mostrar-lhes o valor prático da visão. Uma manhã viu Pedro no caminho chamado Dezassete, dirigindo-se às casas centrais, mas ainda longe demais para a audição ou o olfacto, e disse-lhes. "Daqui a pouco tempo", previu, "Pedro estará aqui." Um velho notou que Pedro não tinha nada para fazer no caminho Dezassete e então, como que para confirmar isso, Pedro, quando chegou mais perto, virou e caminhou transversalmente para o caminho Dez, e depois caminhou com passos ágeis rumo ao muro externo. Eles ridicularizaram Nunez quando Pedro não chegou, e depois, quando Nunez fez perguntas a Pedro para esclarecer o assunto, Pedro negou e enfrentou-o, e daí em diante tornou-se hostil a Nunez.
Então ele convenceu-os a deixá-lo subir bem longe pelas encostas da pradaria, rumo ao muro, com um companheiro que concordasse, e prometeu descrever-lhe tudo que acontecia entre as casas. Ele notou certas idas e vindas, mas as coisas que realmente pareciam ter significado para aquela gente aconteciam dentro ou atrás das casas sem janelas - as únicas coisas de que tomavam nota para testá-lo - e dessas coisas ele não podia ver ou dizer nada, e foi após o fracasso dessa tentativa, e da troça que eles não conseguiram reprimir, que ele recorreu à força. Pensou em segurar uma pá e de repente derrubar um ou dois e assim, em combate leal, mostrar a vantagem dos olhos. Chegou até, com essa intenção, a segurar a pá, e então descobriu algo de novo a seu respeito: que era impossível para ele agredir um cego a sangue-frio.
Hesitou e descobriu que todos haviam percebido que ele agarrara a pá. Eles ficaram em alerta, com as cabeças de lado, e ouvidos inclinados na sua direcção, para detectar o que ele iria fazer em seguida.
"Pouse essa pá", disse um deles, e ele sentiu uma espécie de horror indizível. Quase que obedeceu.
Então empurrou um dos cegos contra a parede de uma casa, e fugiu da aldeia.
Atravessou um dos prados, deixando um rasto de erva esmagada pelos seus pés, e depois sentou-se ao lado de um dos caminhos. Sentiu algo da expectativa que acomete todos os homens no começo de uma luta, mas uma perplexidade maior. Começou a perceber que não se pode nem lutar com ânimo contra criaturas que estão numa situação mental diferente da sua. Ao longe, viu um grupo de homens carregando pás e cacetes, saindo da rua de casas, e avançando em filas que se espalhavam pelos vários caminhos na direcção dele. Avançavam devagar, falando frequentemente um ao outro, e sempre e sempre toda a fileira parava, cheirava o ar e escutava.
Da primeira vez em que fizeram isso, Nunez riu. Mas depois deixou de rir. Um deles percebeu o trilho deixado por Nunez na erva do prado, e inclinando-se veio tacteando o caminho.
Durante cinco minutos Nunez observou o lento abrir, em cordão, da fileira de cegos, e então a sua vaga intenção de fazer alguma coisa tornou-se frenética. Levantou-se, deu um ou dois passos em direcção ao muro circundante, virou-se e voltou um pouco atrás. Ali estavam todos eles parados, formando uma meia-lua, silenciosos e procurando escutar.
Ele também ficou parado, agarrando firmemente a pá com as duas mãos. Devia atacá-los?
A pulsação nos seus ouvidos corria ao ritmo de "Em Terra de Cegos, Quem Tem um Olho é Rei."
Devia atacá-los?
Olhou para trás para o muro alto e inescalável - inescalável por causa do seu cimento liso, mas também perfurado com muitas portinholas, e olhou para a linha que se aproximava dos seus perseguidores. Atrás destes, outros vinham agora da rua das casas.
Devia atacá-los?
"Bogotá!", um deles chamou. "Bogotá, onde está você?"
Ele agarrou a pá ainda com mais força e avançou pelos prados direito ao sítio das casas, e imediatamente, enquanto andava, eles convergiram à sua volta. "Vou atacá-los se me tocarem", jurou. "Por Deus, vou fazer isso. Vou atacá-los." Berrou: "Olhem aqui, vou fazer o que quiser neste vale. Vocês estão a ouvir? Vou fazer o que quero e ir aonde quero".
Eles estavam rapidamente a convergir rumo a ele, tacteando, mas movendo-se rapidamente. Era como brincar à cabra-cega, com todo a gente vendada, menos um. "Agarrem-no!", gritou um deles. Nunez viu-se no arco de uma curva solta de perseguidores. Sentiu subitamente que precisava de entrar resolutamente em acção.
"Vocês não entendem", gritou numa voz que pretendia ser imperiosa e resoluta, mas que lhe saiu fraca. "Vocês são cegos, e eu posso ver. Deixem-me em paz!"
"Bogotá! Largue essa pá, e saia da erva!"
Esta última ordem, grotesca na sua familiaridade civilizada, produziu-lhe um acesso de raiva. "'Vou feri-los", disse Nunez, soluçando de emoção. "Por Deus, vou feri-los. Deixem-me em paz!"
Começou a correr, sem saber claramente para onde correr. Correu para longe do cego mais próximo, pois era um horror golpeá-lo. Parou, então fez uma tentativa para escapar das fileiras deles que o cercavam. Dirigiu-se para onde havia um grande vazio, e os homens de cada lado, com uma rápida percepção da aproximação de seus passos, juntaram-se uns aos outros, preenchendo o vazio. Nunez pulou para a frente, e então viu que iria ser capturado e ZÁS! golpeou alguém com a pá. Sentiu o choque macio de mão e braço, e o homem caiu com um grito de dor, e Nunez tinha conseguido passar!
Tinha conseguido passar! E já estava de novo perto da rua das casas, e cegos, girando pás e estacas, corriam com uma espécie de rapidez calculada para lá e para cá.
Nunez ouviu passos atrás de si, anda a tempo, e descobriu um homem alto correndo para a frente e procurando, pelos sons, atingi-lo. Nunez assustou-se, atirou a pá que caiu a uma jarda do seu antagonista, virou-se e fugiu, berrando alto enquanto fintava outro.
Estava tomado pelo pânico. Correu furiosamente para lá e para cá, fintando com a pá quando não havia nenhuma necessidade de fintar, e, na sua ansiedade de ver para todos os lados de uma vez só, acabou tropeçando. Por um momento ficou caído e eles ouviram a sua queda. Longe, no muro circular, uma portinhola parecia o Paraíso, e ele correu desenfreadamente rumo a ela. Nem olhou para os seus perseguidores até chegar à portinhola; tropeçou a meio da ponte, gatinhou pelas rochas, para surpresa e desgosto de um jovem lama que rapidamente perdeu de vista, e deitou-se no chão, resfolegando, sem ar.
E assim acabou o seu coup d'état.
Ficou fora do muro do Vale dos Cegos duas noites e dois dias, sem comida nem abrigo, e meditou sobre o inesperado. Durante essas meditações repetia muito frequentemente, e sempre com um tom cada vez mais profundo de escárnio, o provérbio: "Em Terra de Cegos, Quem Tem um Olho é Rei." Pensou sobretudo em maneiras de lutar e conquistar este povo, e tornou-se claro para ele que não havia maneira possível. Não tinha armas, e agora seria difícil obtê-las.
A doença da civilização tinha-o atingido, mesmo em Bogotá, e ele não conseguia descer ao ponto de achar em si os meios de assassinar um homem cego. É claro que, se fizesse isso, poderia ditar os termos, sob a ameaça de assassiná-los a todos. Mas, mais cedo ou mais tarde, precisaria de dormir!...
Também tentou achar comida entre os pinheiros, sentir conforto sob os seus ramos para se proteger da geada da noite, e - com menos confiança - capturar um lama por meio de qualquer artimanha e tentar matá-lo - talvez batendo-lhe com uma pedra - e então, talvez, comer um pouco dele. Mas o lama duvidou dele e encarou-o com desconfiados olhos castanhos, e cuspiu quando ele chegou perto. Ele teve medo e acessos de tremores no segundo dia. Finalmente rastejou de volta para o muro da Terra dos Cegos e tentou entrar num acordo. Rastejou ao longo do curso de água, gritando, até que dois cegos vieram ao portão e falaram com ele.
"Enlouqueci", disse. "Mas eu tinha acabado de ser criado."
Eles disseram que assim estava melhor.
Contou-lhes que estava mais sábio agora, e se arrependia de tudo o que tinha feito. Então chorou sem querer, pois estava agora muito fraco e doente, e eles tomaram isso como um bom sinal.
Perguntaram se ele ainda pensava que era capaz de "ver".
"Não" , disse. "Era loucura. A palavra não quer dizer nada - menos do que nada!"
Perguntaram-lhe o que havia lá em cima.
"A cerca de dez vezes dez a altura de um homem, há um tecto acima do mundo - de rocha - e liso, muito liso... Tão liso - tão maravilhosamente liso..." Irrompeu de novo em lágrimas histéricas. "Antes que me perguntem mais coisas, dêem-me comida ou morrerei."
Ficou à espera de duros castigos, mas esse povo cego era capaz de tolerância. Encararam a sua rebelião como mais uma prova da idiotia e inferioridade gerais dele, e, depois de o chicotearam, mandaram-no fazer o trabalho mais simples e mais pesado que tinham para alguém fazer, e ele, não vendo outro modo de vida, fez submisso o que lhe disseram para fazer.
Ficou doente durante uns dias, e cuidaram bondosamente dele. Isso fez intensificar-se a sua submissão. Mas eles insistiram em que ele permanecesse no escuro, e essa era uma grande desdita. Filósofos cegos vinham e falavam-lhe da pecaminosa leviandade da sua mente, e repreenderam-no de tal modo por causa das suas dúvidas sobre a tampa de rocha que cobria a sua panela cósmica que ele quase duvidou se na verdade não era vítima de alucinações ao não ver a tampa lá em cima.
Assim, Nunez tornou-se um cidadão da Terra dos Cegos, e esse povo deixou de ser um povo indiferenciado e as pessoas tornaram-se individualidades e tornaram-se-lhe familiares, à medida que o mundo além das montanhas se tornou cada vez mais remoto e irreal. Havia Yacob, o seu amo, homem bondoso quando não estava aborrecido; havia Pedro, sobrinho de Yacob, e havia Medina-saroté, a filha mais nova de Yacob. Ela era pouco estimada no mundo dos cegos, porque tinha um rosto anguloso e não aquela maciez satisfatória, vítrea, que é o ideal, para o cego, da beleza feminina; mas Nunez achou-a linda desde o início, e depois a coisa mais linda neste mundo. As pálpebras fechadas dela não eram vermelhas e afundadas como era comum no vale, mas parecia que poderiam abrir-se de novo a qualquer momento, e ela tinha longos cílios, o que levava os outros a julgarem o seu rosto gravemente desfigurado. E a sua voz era forte, e não satisfazia a audição apurada dos jovens do vale. Assim, não tinha amante.
Chegou a hora em que Nunez pensou que, se pudesse conquistá-la, se resignaria a viver no vale para o resto dos seus dias.
Observava-a; buscava oportunidades de lhe prestar pequenos serviços, e depois percebeu que ela também o observava. Uma vez, numa reunião num feriado, sentaram-se lado a lado à ténue luz das estrelas, e a música era doce a seus ouvidos. A mão dele pousou sobre a dela e ousou apertá-la. E então, ternamente, ela devolveu-lhe a pressão. E um dia, quando tomavam a sua refeição no escuro, ele sentiu a mão dela procurando suavemente por ele e, como por acaso, o fogo crepitou e ele viu a ternura do rosto dela.
Tentou falar-lhe.
Foi procurá-la um dia quando ela estava sentada ao luar, fiando. A lua convertia-a num objecto de prata e de mistério. Ele sentou-se aos pés dela e disse que a amava, e disse quão linda ela lhe parecia. Tinha a voz de um amante, falava com uma terna reverência que se aproximava da adoração, e ela nunca tinha sido antes tocada com adoração. Ela não lhe deu nenhuma resposta definida, mas ficou claro que as suas palavras lhe agradavam.
Depois disto, falava com ela sempre que tinha oportunidade. O vale tornou-se o mundo para ele, e o mundo para além das montanhas, em que os homens viviam à luz do sol, parecia-lhe não mais do que um conto de fadas que ele iria um dia sussurrar aos ouvidos dela. Com muito cuidado, experimentando de várias formas, ele timidamente falou-lhe da visão.
A visão era para ela a mais poética das fantasias, e ouvia a descrição que ele fazia das estrelas e das montanhas e da própria beleza dela, que dizia branca e iluminada, com indulgente cumplicidade. Ela não acreditava, podia entender apenas parte do que ele dizia, mas estava misteriosamente encantada e pareceu-lhe que ela entendia tudo.
O amor dele perdeu o temor e cresceu em coragem. Decidiu pedi-la em casamento a Yacob e aos anciãos, mas ela ficou com medo e foi retardando as coisas. E foi uma das suas irmãs mais velhas a primeira a contar a Yacob que Medina-saroté e Nunez estavam apaixonados um pelo outro.
Houve desde o início uma oposição muito forte ao casamento de Nunez e Medina-saroté; não tanto por a valorizarem, mas porque tinham Nunez como um ser à parte, um idiota, um ser incompetente, uma coisa abaixo do nível permissível para um ser humano. As irmãs dela opuseram-se brutalmente ao casamento, como se este fosse trazer descrédito a todas eles; e o velho Yacob, embora tivesse criado uma espécie de afeição por esse servo desajeitado e obediente, sacudiu a cabeça e disse que não podia ser. Os homens jovens ficaram todos irritados com a ideia de corromper a raça, e um foi tão longe na sua indignação a ponto de insultar e agredir Nunez. Este reagiu à agressão. Então, pela primeira vez, descobriu uma vantagem em poder ver, mesmo ao lusco-fusco, e depois que essa luta terminou, ninguém mais se dispôs a levantar a mão contra ele. Mas ainda achavam impossível o casamento.
O velho Yacob tinha uma certa ternura por sua filha mais nova, e comoveu-se ao vê-la chorando no seu ombro.
"Tu vês, querida, ele é um idiota. Sofre de alucinações; não sabe fazer nada em termos."
"Sei disso", chorou Medina-saroté. "Mas ele está melhor do que já foi. Está a tornar-se melhor. E ele é forte, querido pai, e bom - mais forte e mais bondoso do que qualquer outro homem no mundo. E ama-me, e, pai, eu amo-o."
O velho Yacob ficou muito preocupado ao descobrir que ela estava inconsolável e, além disso, o que o deixava ainda mais preocupado, ele gostava de Nunez por muitas razões. Então compareceu perante a câmara do conselho juntamente com os outros anciãos, observou o rumo da conversa, e disse, no momento adequado: "Ele está melhor do que já foi. Muito provavelmente um dia vamos julgá-lo tão bom quanto nós próprios".
Então, um dos anciãos, depois de pensar profundamente, teve uma ideia. Ele era o grande médico entre aquelas pessoas, o seu curandeiro, tinha uma mente muito filosófica e inventiva, e a ideia de curar Nunez das suas peculiaridades atraía-o. Um dia, quando Yacob estava presente, ele voltou ao tópico de Nunez. "Examinei Bogotá", disse, "e o caso está mais claro para mim. Penso que muito provavelmente ele pode ser curado."
"Isso é o que sempre esperei", disse o velho Yacob.
"O cérebro dele é que está afectado", disse o médico cego.
Os anciãos fizeram um murmúrio de assentimento.
"Então, o que o afecta?"
"Ah", disse o velho Yacob.
"Isto", disse o médico, respondendo à sua própria pergunta. "Essas estranhas coisas que chamamos os olhos, e que existem para produzir uma depressão agradável no rosto, estão doentes, no caso de Nunez, de uma maneira tal, que afecta o seu cérebro. São excessivamente salientes, ele tem cílios e as pálpebras mexem-se, e consequentemente o cérebro está num estado de constante irritação e distracção."
"Sim?", disse o velho Yacob. "Sim?"
"E eu acho que posso dizer, com razoável certeza, que, para curá-lo completamente, tudo o que precisamos de fazer é uma cirurgia bastante simples e fácil - ou seja, extrair esses corpos irritantes."
"E então ele ficará são?"
"Então ele ficará perfeitamente são e será um cidadão bem respeitável."
"Graças aos céus pela ciência!", disse o velho Yacob, e correu para contar a Nunez as boas novas.
Mas o modo como Nunez recebeu a notícia surpreendeu Yacob como sendo frio e decepcionante.
"Poderia pensar-se", disse Yacob, "pelo tom com que você fala, que não se incomoda com a minha filha."
Foi Medina-saroté quem convenceu Nunez a aceitar a intervenção dos cirurgiões cegos.
"TU não queres que eu", disse ele, "perca o meu dom da visão?"
Ela sacudiu a cabeça.
"O meu mundo é a visão."
Ela baixou a cabeça.
"Existem coisas belas, pequenas coisas belas - as flores, os líquenes entre as rochas, a leveza e a macieza de um bocado de pele, o céu longínquo com o passar das nuvens, os pôr-do-sol e as estrelas. E existes TU. Apenas para te ver já é bom ter a visão, para ver o teu rosto doce, sereno, os teus lábios bondosos, as tuas queridas e belas mãos entrecruzadas... São esses olhos meus que tu conquistáste, esses olhos que me mantêm ligado a ti, são esses olhos que esses idiotas querem tirar-me. Em vez disso, preciso de te tocar, ouvir-te, e não poderei ver-te nunca mais. Terei de ficar sob este tecto de rocha, pedra e escuridão, este horrível teto sob o qual a tua imaginação definha ... Não, tu não me obrigarias a fazer isso?"
Uma dúvida desagradável tinha surgido dentro dele. Parou e deixou no ar a pergunta.
"Eu desejo", disse ela, "às vezes -" Ela parou de falar.
"Sim", disse ele, um pouco apreensivo.
"Desejo às vezes - que tu não fales assim."
"Assim, como?"
"Sei que é bonito - é a tua imaginação. Eu amo a tua imaginação, mas agora -"
Ele esfriou. "Agora?", disse, com voz débil.
Ela sentou-se e ficou calada.
"Tu queres dizer - tu achas - que eu ficaria melhor, melhor talvez -"
Ele percebeu as coisas bastante rapidamente. Sentiu raiva, de verdade, raiva, diante do duro curso do destino, mas também simpatia pela falta de compreensão dela - uma simpatia próxima da piedade.
"Querida", disse, e ele podia agora ver, pela palidez dela, quão intensamente o espírito dela lutava contra as coisas que ela não podia dizer. Ele rodeou-a com os braços, beijou-lhe a orelha, e permaneceram um bocado sentados em silêncio.
"E se eu consentisse nisso?", disse ele por fim, numa voz muito suave.
Ela apertou-o nos braços, chorando muito. "Oh, se consentisses", soluçou, "se realmente consentisses!"
Durante a semana que precedeu a operação que deveria resgatá-lo da servidão e da inferioridade e trazê-lo para o nível de um cidadão cego, Nunez não dormiu nada, e durante as horas quentes de sol, enquanto os demais dormiam felizes, ele ficava sentado meditando ou vagueava sem rumo, tentando convencer-se a defrontar o dilema. Tinha dado a resposta, tinha dado o consentimento, e ainda assim não tinha a certeza. Finalmente, o dia de horário chegou ao fim, o sol surgiu esplendorosamente por sobre as cristas douradas, e o seu último dia de visão começou para ele. Teve uns minutos com Medina-saroté antes de se separarem para ela dormir.
"Amanhã", disse ele, "não verei mais."
"Querido do meu coração!", respondeu ela, e apertou-lhe as mãos com toda a força.
"Magoar-te-ão pouco", disse ela; "e tu vais passar por essa dor - vais passar por isso, querido amor, por mim ... Querido, se o coração e a vida de uma mulher podem fazer isso, vou recompensar-te. Queridíssimo, queridíssimo, tu, com a tua voz terna, vou recompensar-te."
Ele ficou inundado de piedade por si mesmo e por ela.
Segurou-a nos braços, e apertou os lábios contra os dela, e olhou o doce rosto pela última vez. "Adeus!", sussurrou diante dessa querida visão, "adeus!" E então, em silêncio, deixou-a.
Ela ouviu os passos lentos dele à saída, e algo no seu ritmo fê-la debulhar-se em lágrimas.
Ele tinha decidido ir para um lugar solitário, onde os prados estavam belos, cheios de narcisos brancos, e ali ficar até que chegasse a hora de seu sacrifício, mas enquanto andava, ergueu os olhos e viu a manhã, a manhã, que como um anjo de armadura dourada, descia pelos picos...
Perante este esplendor, pareceu-lhe que aquele mundo cego no vale e o seu amor, não eram mais, afinal do que um poço de pecado.
Não voltou para trás, como tinha tencionado; seguiu em frente, ultrapassou o muro circundante e começou a subir pelas rochas, enquanto o olhar permanecia fixo sobre o gelo e a neve iluminados pelo sol.
Viu a sua beleza infinita, e a imaginação avançou e foi mais além, até alcançar tudo aquilo a que ia renunciar para sempre.
Pensou naquele mundo grande e livre de onde tinha partido, e que era o seu próprio mundo, e teve uma visão das encostas longínquas, da distância atrás da distância, com Bogotá, um lugar de beleza e de multidão vibrante, uma glória durante o dia e um mistério luminoso à noite, lugar de palácios, fontes, estátuas e casas brancas, belas pelo meio. Pensou como, em um dia ou pouco mais, poderia descer e atravessar desfiladeiros, acercando-se mais e mais das suas ruas e ruelas buliçosas. Pensou na viagem pelo rio, dia após dia, da grande Bogotá para o mundo ainda mais vasto lá fora, por entre cidades e aldeias, florestas e desertos, o rio correndo imparável, dia após dia, até que as suas margens se afastavam e os grandes vapores surgiam brilhantes, e tinha chegado ao mar - o mar sem limites, com suas mil ilhas, seus milhares de ilhas, e seus navios a vapor avistados através da nebulosa lonjura, em suas incessantes viagens à volta daquele mundo maior. Aí, livre da prisão das montanhas, era possível ver o céu... sim, o céu, não um disco como se via aqui, mas como um arco de azul imenso, em cujos abismos flutuavam e giravam as estrelas...
Os seus olhos examinaram a grande cortina de montanhas perscrutando-as ansiosamente.
Por exemplo, se alguém subisse por aquele desfiladeiro, rumo àquele pico, seria possível passar por entre aqueles pinheiros-anões que corriam em volta numa espécie de coroa e se erguiam ainda mais alto passando acima do desfiladeiro. E depois? Aquele talude poderia ser superado. Então talvez pudesse ser achada uma via de escalada que o levasse ao alto do precipício que se ocultava debaixo da neve, e se essa canaleta falhasse, então outra mais a leste poderia servir melhor. E depois? Depois estaria a caminhar sobre neve cor de âmbar, a meio caminho rumo à crista daqueles magníficos lugares desolados.
Virou-se para olhar para trás, para a aldeia, e observou-a de modo abrangente.
Pensou em Medina-saroté, que se tinha convertido num pequeno ponto remoto.
Virou-se de novo para a parede da montanha, por onde o dia claro tinha descido, ao seu encontro.
Então, resolutamente, começou a escalar. Quando chegou o pôr-do-sol, ele já não estava a subir, mas estava longe e muito alto. Tinha estado ainda mais acima, mas ainda estava num lugar muito alto. As roupas estavam rasgadas, os membros estavam manchados de sangue, estava machucado em muitos lugares, mas sentia-se em paz e havia um sorriso no seu rosto.
De lugar em que repousava, o vale parecia que estava no fundo de um poço e quase a uma milha de distância. Já estava escuro, com neblina e sombras, embora os picos de montanhas em torno dele fossem objectos de luz e fogo. Os picos das montanhas que o rodeavam eram objectos de luz e fogo, e os pequenos detalhes das rochas que lhe estavam próximas estavam impregnados de uma beleza subtil - um veio de mineral verde furando o cinza, a luminosidade de cristais aqui e ali, e muito perto do seu rosto, um pequeno líquen laranja de delicada beleza. Havia sombras profundas e misteriosas na garganta, de um azul intenso que se tornava púrpura, e o púrpura era de uma escuridão luminosa, e lá em cima desdobrava-se a ilimitada vastidão do céu. Mas ele deixou de prestar atenção a estas coisas; permaneceu quieto e sorrindo como se simplesmente estivesse satisfeito pelo simples facto de ter escapado do vale dos cegos, no qual tinha pensado ser rei.
Apagou-se o resplendor do pôr-do-sol, a noite chegou, e ele continuou ali, imóvel, contente e em paz, sob a luz fria das estrelas.
FIM
Última edição por Zubrycky em Qui Jan 12, 2012 2:59 pm, editado 1 vez(es)
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