O que observar num instrumento de entrada para que te sirva em qualquer situação?

Hoje em dia instrumentos de iniciante podem ser perfeitamente utilizados em ambientes semi-profissionais ou mesmo profissionais, mas há alguns detalhes que podem transformar um bom instrumento de entrada num excelente baixo pau pra toda obra. Discutiremos esses detalhes nesse tópico...

- Braço em hard maple - Existem vários tipos de maple e a madeira pode variar muito dentro da mesma espécie. Além disso, há madeiras com aparência similar mas que são espécies primas do maple. Escolha um instrumento cujo braço seja feito em maple de verdade, conhecido como hard maple ou maple Canadense. O hardware desses baixos não é de primeira, isso inclui o tensor. Ter uma madeira boa no braço ajuda a previnir empenos e torções.

- Nut - Quase todo instrumento de entrada vem com nut de plástico do mais simples. Existem nuts de plástico de alta densidade que são bons, mas não é o caso aqui. Realize a troca de nut num luthier profissional renomado, pois construção e regulagem de nut é uma tarefa intrincada. Como material, osso, latão, tusq, grafite e mesmo titânio são escolhas comuns. Faça uma pesquisa sobre os diferentes materiais e decida baseado em seus gostos. Osso parece funcionar muito bem com instrumentos "tipo Fender" enquanto ambos osso e latão são opções comuns em baixos com design mais moderno, tipo alguns baixos "tipo Yamaha", Ibanez, Condor, etc... Lembre que a corda deve tocar o nut em área mínima e descer em direção a onde ficarão ancoradas nas tarraxas.

- Carrinhos da ponte (saddles) - Pontes genéricas asiáticas são feitas de metal de baixa qualidade, mas se não for possível trocar toda a ponte, troque os carrinhos e seus parafusos. Latão costuma ser uma boa pedida para os carrinhos enquanto aço inox é uma boa escolha para os parafusos. Não será nada drástico, mas pode influenciar na vibração das cordas e seu sustain (controverso). Caso deseje trocar a ponte sem gastar muito, as Wilkinson são opções honestas há muitos anos. É importante criar um vinco na corda que defina bem o contato entre ela e o ponto testemunha no carrinho.

- Trastes - Ítem bastante negligenciado, pode fazer uma boa diferença... Material, shape e método de instalação podem ter influência grande sobre o timbre, vibração das notas, tocabilidade, etc... Os trastes desses instrumentos obviamente não são de primeira linha, mas normalmente um trabalho comum de alinhamento, polimento e revisão da instalação pode deixar tudo melhor. Quem quiser investir um pouco mais nesse quesito pode colocar trastes de fabricantes renomados, como Dunlop, Jescar, Sanko, etc... O luthier deverá verificar se não há trastes "batendo fofo", resultado de instalação em canaleta muito profunda sem uso de cola, o que é comum em instrumentos mais baratos.

- Eletrônica - Trocar é sempre uma boa pedida e não custa muito. Potenciômetros Alpha e Alps são bons custo/benefício, mas você pode querer gastar um pouco mais e colocar CTS, Noble ou Bourns, que provavelmente durarão pra sempre. Jack é bom ir logo de Switchcraft e esquecer que isso existe. Capacitores tipo orange drop são baratinhos e você pode ficar falando que seu baixo tem capacitor orange drop até sua língua ficar dormente. Se seu instrumento de entrada é ativo de fábrica, troca de pré geralmente é uma boa opção.

- Blindagem - Previne ruídos e interferências de sinais externos.

- Captação - Sim, é algo fundamental, mas ouça o captador que vem no baixo primeiro. Alguns que já testei soavam tipo um Fender médio, que não é um som ruim. Já toquei em baixos de entrada que captação era decente e eu não pensaria em trocar logo, assim como alguns foi a primeira coisa que me chamou atenção.

- Cordas - Nem toda corda de baixo de entrada é horrível, mas nunca são excelentes. É uma troca básica que pode fazer grande diferença e deve ser realizada antes de pensar em trocar captador.

- Ajuste do tróculo - Faz bastante diferença na vibração geral do instrumento. Peça pra seu luthier olhar o tróculo e ver se a base e área de contato do braço estão completamente retas e considere pagar por esse serviço se não for o caso. Se quiser gastar um pouco mais, converse com ele sobre o uso de porcas do tipo "threaded inserts" e parafuso de máquina de aço, que adicionam robustez à essa junção. Quem precisa de ação muito baixa no fim do braço pode considerar a colocação de um "shim".

- Regulagem geral - Óbvio do óbvio e faz muita diferença.

- Tarraxas - Se elas fazem bem seu papel, não há necessidade de troca.

É bom notar que alguns desses upgrades terão pouca ou nenhuma influência no preço de revenda desses instrumentos.

E já que o investimento não é tão baixo, você pode considerar já pegar um instrumento melhor logo de cara, como as séries mais simples da MusicMan ou alguns Yamaha, que são feitos com um pouco mais de esmero.

Caso tudo isso pareça trabalhoso e caro demais, há também a opção de simplesmente trocar o logotipo do seu baixo, qualquer que seja ele, para um logotipo "7ender Custom Shop". Fazendo isso, espere alguns minutos para o ajuste das cores da aura e seu baixo terá voz de anjos e tocabilidade similar ao alaúde de Afrodite ou à cítara de Krishna...

Espero que ajude.

Excelente tópico Tio , vai ajudar muita gente com certeza...

Excelentes e utilíssimas observações! O meu pb SX é a prova disso. Não tenho como compará-lo com um SX original (tal teste seria muito útil para o Fórum) mas, na minha opinião, as mudanças que foram feitas nele (ponte e eletrônica) o tornaram um baixo sensacional.

E digo mais: Pela utilidade, este deveria ser um tópico fixo.

De minha parte, leigo como sou, como posso saber - além da leitura das especificações do instrumento na internet - com qual madeira é feito o braço?

Zubrycky escreveu:De minha parte, leigo como sou, como posso saber - além da leitura das especificações do instrumento na internet - com qual madeira é feito o braço?

Boa pergunta.

A imensa maioria dos instrumentos de entrada são descritos como "maple" no braço. Mas ao vivo alguns braços de maple são nitidamente mais moles que o hard maple. Parece que dá até pra arrancar um pedaço com a unha. Se não tiver como ver pessoalmente, é bom perguntar. Aqui mesmo tem bastante gente que sabe...

Percebi várias vezes que os SX, por exemplo, usam hard maple nos braços, algo que corrobora o fato deles serem uma boa compra na categoria.

Eu também evitaria instrumentos com esse tipo de junta:



Não que exista nada de errado com essa técnica de construção, mas aliando a pressa a materiais de segunda, vemos muitos braços desses em instrumentos mais baratos que terminam assim:

Sobre os captadores, antes de pensar na troca deles, sugiro fazer experimentos com a mudança da distância dos mesmos em relação às cordas. Já vi pequenos ajustes fazerem milagres.

Breno_Barnabe escreveu:Essa dica está ha anos aqui

Verdade.

A gente fala dessas coisas há anos, mas achei interessante ter um tópico dedicado com tudo junto.

Acho o nut uma pecinha particularmente negligenciada e que faz uma boa diferença em vários aspectos de um contrabaixo.

fheliojr escreveu:É o que eu, que não sou ninguém, recomendo... Melhor iniciar um com instrumento "intermediário".

O que às vezes acontece é você gastar um pouco mais com um baixo intermediário e ele também ter algumas dessas peculiaridades que precisam de atenção.

fheliojr escreveu:Caso de um Yamaha RBX 170 que tive (por uma semana). Até hj, tenho trauma deste baixo, que é de uma marca de que gosto muito.

Pois é... A gente precisa enxergar o instrumento pelo que ele é, mesmo que seja de uma marca que admiramos.

Um braço desses feito com maple mole pode não apresentar problemas por anos, mas não é uma madeira apropriada para braço de contrabaixo, que sofre uma força bem maior que braço de guitarra. Se for mais de 4 cordas então, não confio...