Como ser um músico de cruzeiro

Bom dia pessoal.
Eu me lembro de que quando comecei a pesquisar sobre o mercado de cruzeiros, busquei informações no forum e não achei nada.

Esse fórum já me ajudou muito e gostaria de contribuir. Se alguém tiver dúvidas ficarei feliz em responder, mas com calma porque a internet no navio é bem ruim. No momento estou atravessando o oceano; estive 5 meses no caribe e estou indo em direção ao mediterrâneo.

Existe um mercado gigantesco de músicos de Cruzeiro que muitos brasileiros não conhecem e falta mão de obra qualificada. Principalmente agora, pós pandemia, muitos músicos que trabalhavam nesse mercado foram fazer outra coisa. Cada vez mais os latinos e filipinos estão dominando o mercado que era na maioria dos americanos.

A primeira coisa que você precisa é inglês. Não precisa ser fluente, isso você pega com o tempo. Mas precisa conseguir entender o que os outros falam e ser compreendido.

Você precisa de uma documentação.
STCW- curso básico de sobrevivência em alto mar. Dura cerca de uma semana e mais uns 20 dias para ficar pronto
Visto do país que você vai - isso você consegue com quando o contrato estiver fechado. .
Exame medico- é um exame específico para cada empresa, você só faz depois que tiver o contrato fechado.

Existem diversas empresas com diversos perfis de público mas a grande maioria do público são americanos e europeus aposentados com mais de 60 anos. O que esse público quer escutar é a música que fez as memória afetiva deles. Então a maior parte do repertório é pop americano. 70, 80...
Dito isso o que você precisa como baixista é saber se virar nos diversos estilos. Motown , jazz, disco, rock, reguea, cha cha cha, bossa, blues...
Não precisa ser um exímio solista mas tem que saber se expressar com as 4 principais tetrades e pentatônica. E conhecer o repertório! Brasileiros se lascam nessa questão.

Eu estou no meu terceiro contrato. Já trabalhei nas empresas Costa, Celebrity e agora estou na Marella.

Já deixo claro que não tenho como indicar ninguém. O processo de admissão é enviar o material para o agente e se o agente acreditar que você preenche os critérios ele vai marcar uma entrevista online com você. Esses caras são super diretos e sem enrolação. Normalmente precisam de músico quase de imediato. Esse contrato que estou atualmente eu enviei o material para a agência, me retornaram no dia seguinte e no outro dia conheci o agente por uma chamada de Skype e duas semanas depois eu estava no avião.
Existem dezenas de agências e aí precisa dar um Google.
As que eu conheço são: Landau, Ted entertainment, Rws, Lime.

Existem basicamente dois tipos de gig que você pode entrar.
Como um músico do teatro. Para esse trabalho sua leitura de partitura a primeira vista tem que estar em dia. A entrevista é uma chamada de vídeo com o agente, ele vai te enviar a partitura alguns minutos antes e depois você conversa um pouco com ele e em seguida toca.

Outro modo é você chegar com uma banda pronta. Repertorio variado de clássicos com pelo menos 250 musicas. Esse é um trabalho de entreterimento não de arte, a imagem fala mais alto que a qualidade da musica. Então é para tocar música lado A e bem vestido. Quanto mais gente cantando melhor, quanto mais gente estilosa/bonita melhor, quanto mais mulher na banda melhor. Quanto menor a formação da banda mais vagas. Solistas(violão/voz ou piano/voz) todo navio tem mais de um, todo navio tem pelo menos um duo(normalmente cantores que tocam algum instrumento  e as vezes com backing track). Todo navio tem uma party band de 4 ou mais integrantes.
Como baixista eu indicaria montar um Power trio onde todos cantem ou quarteto/quinteto party band.

Grava um material com cerca de 5 minutos com cortes de 30 segundos da sua banda tocando músicas do repertório.
Junto disso um texto curto falando sobre a banda com fotos.

Se você não tem nada pronto e planeja isso a médio prazo eu indico estudar 15 a 30 minutos de leitura de partitura por dia em um ano você deve estar apto.
Eu indico o curso do Marcelo Coelho.
Digo isso porque é muito difícil montar um grupo e manter o grupo. Sempre alguém desiste no meio do caminho por diversos motivos. Antes de embarcar eu cheguei a montar diversos grupos e gravei material com 3.

Os salários iniciais são em torno de 2400 dólares. Contratos em torno de 6 meses(são 6 meses sem ir para casa e não existe contrato pequeno para quem está começando no mercado) 3 a 4 gigs por dia de 30/45 minutos. Cabine compartilhada com mais uma pessoa do setor de entreterimento.
Um dia de folga a cada duas semanas.
Essas condições são as mais básicas na maioria das empresas. Algumas tem condições melhores: conheço gente ganhando 4,500 dólares e tocando 5 vezes por semana. Tem também empresas com condições muito piores onde você recebe menos e trabalha mais, além das condições de vida a bordo serem piores (comida, privilégios a bordo). Essas empresas normalmente são por onde o pessoal começa no mercado e quem continua nelas é porque não se deu ao trabalho de desenvolver o inglês.

Voce não tem despesas. Não faz comida, não lava prato e na maioria das empresas tem serviço de quarto, então nem arrumar a cama você precisa.
Uma coisa que você tem é tempo de sobra para estudar, conhecer o mundo, dormir, jogar videogame ou o que mais quiser fazer.

O cruzeiro é um hotel de luxo gigante móvel. Todo dia ele atraca em uma cidade diferente pela manhã e final de tarde ele começa a viajar para o próximo destino. E aí que tocamos, normalmente temos o dia inteiro livre e podemos passear.

A pior parte desse trabalho é que é difícil ficar em uma lata de metal boiando durante muitos meses. É difícil para a cabeça e não é para qualquer um. Conheço gente que é casada e faz isso mas eu indico mais para os solteiros.
Em questão de vida de solteiro. Sim é uma maravilha: todo mundo precisa liberar a energia em algum lugar e o navio é um lugar com gente do mundo todo. Não pode se relacionar sexualmente com passageiros mas tem mais de 1000 tripulantes.

Quem se interessar eu indico alguns canais.

Esse é o Rogério Salles. Trabalhou mais de 10 anos no mercado como guitarrista nas orquestas dos navios e tem tudo o que você precisa saber gratuito nos vídeos do YouTube dele. Ele também sempre abre caixas de pergunta no Instagram. Ele também tem um curso pago na Hotmart. Eu fiz esse curso, ele é caro mas eu indico. Se você tem as habilidades que precisa para embarcar você embarca com o auxílio do Rogério. Começamos a turma durante a pandemia e a maior parte embarcou.

https://youtu.be/H0YcNt_ztrE?si=ZgxEAQBirzK2RTpz

Essa é a Robertinha. Ela é musicista solista a mais de 10 anos no mercado. Tem um canal no Instagram com bastante informação. No canal dela tem um link para o curso dela e também para um grupo do telegram onde tem músicos brasileiros que querem embarcar ou estão embarcados ( é um bom lugar para formar uma banda com esse intuito).

https://www.instagram.com/musicos.a.bordo?igsh=MW9icTIyZnVmYTR3Mg==

Outra indicação é o Luiz.
Ele fez o curso do Rogério comigo e está voando. Já está trabalhando nas melhores empresas e já está bem cotado no mercado. Ele está dando aulas particulares sobre como ser baixista de cruzeiro.

https://youtu.be/KncfLqAKOH0?si=QXrfX7aQ65-hXB9H


Sobre outras posicoes no navio eu não sei dizer pois é muito setorizado. Os outros departamentos tem uma inveja de nós pois trabalhamos 2h por dia e o resto do navio trabalha igual escravo de 10 a 12h por dia e sem folga além do nosso salário ser maior.

Parabéns pelo tópico, caiovotta!
Eu não fazia ideia de como um músico de cruzeiro vive..
Abraço.

caiovotta escreveu:
Existe um mercado gigantesco de músicos de Cruzeiro que muitos brasileiros não conhecem e

E digo, Caio, muitos vão morrer sem saber que isso existe.

Há pouco tempo voltei de um trabalho em terra no Qatar (fiquei 1 ano e meio como músico residente no Marriott hotel em Doha). Lembro que a procura pela minha cantora foi um processo penoso de difícil. Eu postava em grupos de bandas no Facebook, e trolavam e derrubavam meus posts, dizendo que era golpe, que era tráfico de gente. Cara, foi um terror, eu quase desisti.

Infelizmente pra MUITOS músicos do Brasil, o que passar de um cachê lixo em um bar lixo é golpe. Muito diferente dos músicos cubanos. Em Doha havia 8 músicos brasileiros (contando comigo). De cubanos eram quase 30 (dos que eu sabia). E tudo molecada nova. Lá os músicos são criados pra exportação. Mas também não é pra menos, que perspectiva na vida um músico vai ter em Cuba?

Estou na luta pra conseguir outro trabalho lá fora. Depois do que vivi não tenho a mínima vontade de voltar a fazer gig no Brasil. Cogito ir pra navio, mas minha prioridade seria trabalho em terra, semelhante ao que eu tinha.

Eu iria pra navio numa boa, a depender da companhia. A MSC é uma que provavelmente eu fugiria. MSC e Costa, pois já escutei cada coisa de quem trabalha lá que dá medo...e os músicos não têm folga lá, trabalham 7 dias por semana.

Conheci um batera que tá na MSC. Salário 2100 euros. É um pouco mais do que eu ganhava no Marriott, porém eu morava no hotel, cada músico tinha seu quarto individual e comia nos restaurantes dos convidados, fora poder usar toda a estrutura do hotel, piscina, etc. (o que chamam de contrato "guest status"). Eu não trocaria pra trabalhar na MSC ganhando mil BRL a mais pra tocar 4 sets por dia, não ter uma mísera folga durante 6 meses, ter que fazer os cansativos trabalhos de tripulante (os tais "drills") e fora o perrengue de compartilhar cabine.

Pra mim seria interessante companhias como a Carnival, Royal, Princess, Holland, Virgin, Norwegian, em que os músicos têm folga e os salários são bem maiores (um conhecido me disse que na Carnival músico normal de banda entra ganhando 3,2k USD). Aí eu iria amanhã de manhã, hehe.

Agora, compartilhar cabine e outros perrengues pra ganhar pouca coisa a mais do que eu ganhava em terra, e ao comparar as condições...aí eu prefiro trabalho em terra (hotéis e resorts pelo mundo). Rotina muito mais tranquila.

Como foi sua experiência na Costa, principalmente em comparação com a Princess, Caio?

Uma cantora tentou me arrastar pra um contrato na Costa, mas acabou não rolando. 5 sets por dia, todos os dia, navio véio com coisarada quebrada, até comida pra galera disse que faltou uns dias. Seloco.

Salve Jaozeiro.
Eu vi seu post.
Tenho bastante interesse em fazer hotel. Mas não no mundo Árabe que álcool é artigo de luxo. Não que álcool seja uma grande coisa na minha vida, mas não gosto de privacoes. Quero conhecer o mundo Árabe mas dentro de um cruzeiro.
Batera que está aqui comigo no navio fazia Ibiza. Aí era mais legal. Tinha carro, quarto particular, sobrava tempo pra fazer outras gigs mais a paga era "só" 2000 euros.

Eu fiz Costa temporada brasileira.
Era coisa de 4 sets por dia sem folga 1800 euros.
Comida ruim e Italiano é um povinho desgracado, pelo menos os que conheci. Se você é italiano o tratamento é totalmente diferente.
Mas não me arrependo de jeito nenhum pois foi minha porta de entrada. Quando você faz o primeiro contrato isso demonstra para o agente que você tem carga mental para aguentar 6 meses a bordo. O que o agente menos quer é gastar dinheiro e tempo com alguém que não dá conta e volta para casa e isso acontece bastante no primeiro contrato, especialmente no primeiro mês. Galera que é primeiro embarque sempre pira a cabeça nas primeiras semanas e pede para sair; os chefes sempre indicam aguentar um mês e depois se quiser mesmo pode sair.
Como ninguem que já está no mercado quer fazer Costa ou MSC principalmente temporada brasileira essas são as oportunidades mais fáceis para começar.
Temporada brasileira você toca até 2h da manhã para um povo totalmente bêbado. Não digo que eles estão errados mas eu prefiro tocar para senhores de idade dançando de parzinhos que vão dormir as 22h.

Eu não fiz Princess.
Eu fiz Celebrity que era bem legal mas é uma empresa de gente rica então você tem que manter sempre uma postura na área de hóspedes. Agora estou na Marella e já estou com outro contrato marcado aqui. Aqui o público é classe média do reino unido. Um povo mais simples que é bem mais fácil de agradar. Vários privilégios. Hoje eu acordei meio dia comi, fui na academia, assisti o por do sol na sauna e agora estou esperando meu primeiro set do dia. A única coisa mais difícil é dividir a cabine mas isso varia de com quem você dividir.

E sim.
Depois que você vê esse mundo onde músico é valorizado da até arrepio de voltar pro Brasil onde o dono do buteco te chama pós gig as 4h da manha para a sala para conversar e quer miguelar o cachê de 200 reais e te oferece uma carreira de pó.
Da até arrepio de lembrar isso.

5 a 10 anos bem trabalhados e com foco você junta  bastante dinheiro pra nunca mais ter que passar por isso.

Eu sou um entusiasta desse mercado.
Com foco e estudo (horas bunda sentado na cadeira) é possível sair da desgracera  de vida de músico de buteco no Brasil para ganhar dinheiro e ser valorizado como profissional.

caiovotta, parabéns pela abertura do tópico. Além de super interessante, é algo novo aqui e com certeza pode ajudar muita gente que vive de música por aí.

lcs. escreveu:caiovotta, parabéns pela abertura do tópico. Além de super interessante, é algo novo aqui e com certeza pode ajudar muita gente que vive de música por aí.

Reforço os parabéns! Esse tópico é sensacional e muito útil! Obrigado!

Uma curiosidade,
vc consegue comprar equipamentos ( Pedais ou baixo) quando o Navio para em algum lugar e vc tem o dia de folga?

Tem alguma restrição ou e´ de boa?

Micoco escreveu:Uma curiosidade,
vc consegue comprar equipamentos ( Pedais ou baixo) quando o Navio para em algum lugar e vc tem o dia de folga?

Tem alguma restrição ou e´ de boa?

Pode comprar tranquilo.
O único problema que pode acontecer é na alfandega chegando no Brasil no final do contrato. Mas eu nunca tive problemas.
Eu tenho uma carta de trabalho mostrando que fiquei 6 meses trabalhando embarcado e para isso preciso de equipamento.
Eu costumo embarcar com um baixo e voltar com 2.

Uma dúvida: como é feito o pagamento? Em uma conta internacional?

Você escolhe a conta e eles fazem o depósito. Normalmente mensal, as vezes quinzenal ou semanal.
O mais indicado é escolher uma conta internacional e você escolhe a melhor hora para transformar em real. Maioria das pessoas utilizam a Wize.

Dúvida: E sobre o enjôo?

Juninho Sampaio escreveu:Tenho um amigo que já está no 8 cruzeiro.
Algumas pessoas leigas acham que tocar e passear é o trabalho. Mas, se engana muito!

Muita regra. Inclusive um guitarrista que está com ele, quis se vestir de qualquer jeito, todo arredio com as regras e ele já disse que o cara não viaja mais com ele. Enfim...Ele é casado com a cantora e as coisas pra ele são menos custosa em termo de saudade, pois a esposa está junto.

Quantos aos instrumentos, sofrem sim! O Fender teve que trocar todos os potenciômetros, mesmo ele lubrificando.

Ele sempre leva 2 e acontece algumas coisas com os baixos. Sim! São baixos novos.
Ele toca na beira da piscina, em um teatro na maioria das vezes.

Esse tópico é bem legal.

Cada empresa tem sem peculiaridades em questão de regras. Mas o cruzeiro tem uma hierarquia militar. Quem manda é o capitão e depois cetoriza no second officer, safety officer e hotel manager. Esse último cuida de toda parte hoteleira inclusive do entreterimento. Depois dele vem o cruise director, depois assistant cruise director, musical director, band leader e depois eu.
É um emprego e você tem que saber cumprir ordens como em qualquer empresa onde você não é o chefe. Mas os chefes não fazem coisa errada porque você pode reportar eles para o head office(fica em terra) e denuncia de assédio moral não fica por baixo dos panos aqui.

Sobre roupa. Sim, você tem que estar vestido de acordo com o seu trabalho. Você não é artista e sim um profissional do ramo de entreterimento. O mecânico sabe concertar o carro e eu sei tocar baixo de modo que o público aproveite suas férias.
Conversar com aposentados carentes no fim do set muitas vezes faz parte do trabalho. Mas te digo que eles são meu público preferido. Ficam sentados observando cada nuance da música, aplaudem e acompanham solo de 3 chorus.
Semana passada o navio foi fretado por 4 dias para uma festa com temática mais jovem e balada. 4 dias tocando pra bêbado e drogado que só queria saber de música punts punts pra se mostrar e flertar. Não acho errado, mas foi bom demais voltar a tocar Carelles Whisper e arrancar lágrima dos casais aposentados.

Sobre o instrumento.
Sim ele sofrem.
Mas eu vejo o baixo como máquina de trabalho. Eu só levo um.
É só fazer a manutenção no final do contrato(os pots do meu estão começando a dar um chiado quando eu giro).
No Brasil comprar um baixo é projeto de médio a longo prazo e temos todo um carinho especial quando conseguimos um. Mas ganhando na moeda que americano ganha e tendo acesso ao mercado deles em um mês de trabalho você compra o tal do fender que você sempre quiz ou um bom Yamaha; algo que de conta do trabalho. Não vai comprar um Fodera; primeiro compra um apartamento, depois um Fodera.

Jãozeiro escreveu:

caiovotta escreveu:
Existe um mercado gigantesco de músicos de Cruzeiro que muitos brasileiros não conhecem e

E digo, Caio, muitos vão morrer sem saber que isso existe.

Há pouco tempo voltei de um trabalho em terra no Qatar (fiquei 1 ano e meio como músico residente no Marriott hotel em Doha). Lembro que a procura pela minha cantora foi um processo penoso de difícil. Eu postava em grupos de bandas no Facebook, e trolavam e derrubavam meus posts, dizendo que era golpe, que era tráfico de gente. Cara, foi um terror, eu quase desisti.

Infelizmente pra MUITOS músicos do Brasil, o que passar de um cachê lixo em um bar lixo é golpe. Muito diferente dos músicos cubanos. Em Doha havia 8 músicos brasileiros (contando comigo). De cubanos eram quase 30 (dos que eu sabia). E tudo molecada nova. Lá os músicos são criados pra exportação. Mas também não é pra menos, que perspectiva na vida um músico vai ter em Cuba?

Olá pessoal, minha primeira vez usando o forum, espero que esteja fazendo da maneira correta. Fiquei surpreso quando vi essa discussão, achei que ia ser algo publicado há mais de 10 anos. Fiquei feliz em saber que ainda existem espaços como esse.

Jão, como você conseguiu esse trabalho em terra? Existem agências confiáveis, assim como as de cruzeiro, que fazem a ponte com os músicos? Poderia nos indicar? Existe alguma "segurança" nesse tipo de contrato? Pergunto isso, pois realmente há muita desconfiança com os países árabes, em especial o Qatar, de chegar lá e acabar virando um "escravo" ou coisas piores que poderiam acontecer com as mulheres. Poderia contar um pouco mais sobre esses detalhes?

Cara, que relato bacana, nunca saberia isso! Obrigado por compartilhar

Juninho Sampaio escreveu:
Quantos aos instrumentos, sofrem sim! O Fender teve que trocar todos os potenciômetros, mesmo ele lubrificando.

Ele sempre leva 2 e acontece algumas coisas com os baixos. Sim! São baixos novos.
Ele toca na beira da piscina, em um teatro na maioria das vezes.

Quem mora em cidade litorânea sofre.
Deve ser pior quando "mora" por umas semanas ou meses num navio, com mar por todos os lados.

souairtonjunior escreveu:

Jãozeiro escreveu:

caiovotta escreveu:
Existe um mercado gigantesco de músicos de Cruzeiro que muitos brasileiros não conhecem e

E digo, Caio, muitos vão morrer sem saber que isso existe.

Há pouco tempo voltei de um trabalho em terra no Qatar (fiquei 1 ano e meio como músico residente no Marriott hotel em Doha). Lembro que a procura pela minha cantora foi um processo penoso de difícil. Eu postava em grupos de bandas no Facebook, e trolavam e derrubavam meus posts, dizendo que era golpe, que era tráfico de gente. Cara, foi um terror, eu quase desisti.

Infelizmente pra MUITOS músicos do Brasil, o que passar de um cachê lixo em um bar lixo é golpe. Muito diferente dos músicos cubanos. Em Doha havia 8 músicos brasileiros (contando comigo). De cubanos eram quase 30 (dos que eu sabia). E tudo molecada nova. Lá os músicos são criados pra exportação. Mas também não é pra menos, que perspectiva na vida um músico vai ter em Cuba?

Olá pessoal, minha primeira vez usando o forum, espero que esteja fazendo da maneira correta. Fiquei surpreso quando vi essa discussão, achei que ia ser algo publicado há mais de 10 anos. Fiquei feliz em saber que ainda existem espaços como esse.

Jão, como você conseguiu esse trabalho em terra? Existem agências confiáveis, assim como as de cruzeiro, que fazem a ponte com os músicos? Poderia nos indicar? Existe alguma "segurança" nesse tipo de contrato? Pergunto isso, pois realmente há muita desconfiança com os países árabes, em especial o Qatar, de chegar lá e acabar virando um "escravo" ou coisas piores que poderiam acontecer com as mulheres. Poderia contar um pouco mais sobre esses detalhes?

Airton, o Qatar é um dos países mais seguros do mundo inteiro. Desconfiança e insegurança eu tenho aqui sendo nativo.
Sobre trabalho escravo...eu trabalhava 2h25 por dia e ganhava mais do que um médico em início de carreira aqui. Se isso for trabalho escravo pode me escravizar de novo com prazer, hehe.

É triste a imagem que o ocidente pinta do "lado de lá" do mundo. Tenho um amigo músico que trabalha na China, o mesmo tipo de trabalho que eu tinha no Qatar, e ele diz a mesma coisa. Não quer sair de lá.

Pode ter certeza que tem mais de milhão de gente do sul e sudeste asiático que trabalha igual condenado no Oriente Médio ganhando pouco. Mas no país deles é pior, por isso eles migram.
Mas músico lá é outro assunto, não tem nada a ver com isso.

Cara, acredite, aqui no Br o negócio de trabalho/ganhar dinheiro é muito, mas muito, mas muito ruim mesmo. Quem tá nessa vida internacional não quer sair tão cedo (o Caio que trabalha em navio pode confirmar).

Sobre a questão da mulher, é um assunto interno deles muçulmanos. Uma mulher ocidental vai viver e se vestir normalmente lá. Aliás, o que se vê de peito e bunda lá não é brincadeira.

Nos Emirados Árabes Unidos (onde fica Dubai) é um pouco mais liberal, e no Bahrein um mais ainda. Na Arábia Saudita que o buraco é mais embaixo (na questão de costumes, envolvendo mulheres, consumo de álcool, etc.)

Jãozeiro escreveu:

souairtonjunior escreveu:

Jãozeiro escreveu:

caiovotta escreveu:
Existe um mercado gigantesco de músicos de Cruzeiro que muitos brasileiros não conhecem e

E digo, Caio, muitos vão morrer sem saber que isso existe.

Há pouco tempo voltei de um trabalho em terra no Qatar (fiquei 1 ano e meio como músico residente no Marriott hotel em Doha). Lembro que a procura pela minha cantora foi um processo penoso de difícil. Eu postava em grupos de bandas no Facebook, e trolavam e derrubavam meus posts, dizendo que era golpe, que era tráfico de gente. Cara, foi um terror, eu quase desisti.

Infelizmente pra MUITOS músicos do Brasil, o que passar de um cachê lixo em um bar lixo é golpe. Muito diferente dos músicos cubanos. Em Doha havia 8 músicos brasileiros (contando comigo). De cubanos eram quase 30 (dos que eu sabia). E tudo molecada nova. Lá os músicos são criados pra exportação. Mas também não é pra menos, que perspectiva na vida um músico vai ter em Cuba?

Olá pessoal, minha primeira vez usando o forum, espero que esteja fazendo da maneira correta. Fiquei surpreso quando vi essa discussão, achei que ia ser algo publicado há mais de 10 anos. Fiquei feliz em saber que ainda existem espaços como esse.

Jão, como você conseguiu esse trabalho em terra? Existem agências confiáveis, assim como as de cruzeiro, que fazem a ponte com os músicos? Poderia nos indicar? Existe alguma "segurança" nesse tipo de contrato? Pergunto isso, pois realmente há muita desconfiança com os países árabes, em especial o Qatar, de chegar lá e acabar virando um "escravo" ou coisas piores que poderiam acontecer com as mulheres. Poderia contar um pouco mais sobre esses detalhes?

Airton, o Qatar é um dos países mais seguros do mundo inteiro. Desconfiança e insegurança eu tenho aqui sendo nativo.
Sobre trabalho escravo...eu trabalhava 2h25 por dia e ganhava mais do que um médico em início de carreira aqui. Se isso for trabalho escravo pode me escravizar de novo com prazer, hehe.

É triste a imagem que o ocidente pinta do "lado de lá" do mundo. Tenho um amigo músico que trabalha na China, o mesmo tipo de trabalho que eu tinha no Qatar, e ele diz a mesma coisa. Não quer sair de lá.

Sobre a questão da mulher, é um assunto interno deles muçulmanos. Uma mulher ocidental vai viver e se vestir normalmente lá. Aliás, o que se vê de peito e bunda lá não é brincadeira.

Nos Emirados Árabes Unidos (onde fica Dubai) é um pouco mais liberal, e no Bahrein um mais ainda. Na Arábia Saudita que o buraco é mais embaixo (na questão de costumes, envolvendo mulheres, consumo de álcool, etc.)

Minha questão de segurança não é sobre violência armada, roubo, etc, mas sim do contrato de trabalho, das empresas que fazem o intermédio. A gente ficou com uma visão distorcida também por conta de relatos de trabalhos abusivos para a copa do mundo, mas isso é outro assunto. Você poderia explicar como conseguiu esse trabalho? Recomenda alguma agência?