Spotify, Apple Music, YouTube Music e a fraude.

Comprar espaço em playlists de curadores independentes (listas não ligadas ao time editorial das plataformas) e manipular os plays, os famosos "streams artificiais", que inflam falsamente o número de vezes que uma faixa foi escutada, já são coisas do passado.

Na Carolina do Norte (EUA), o músico Michael Smith foi preso pelo FBI sob acusação de usar inteligência artificial e robôs para fraudar serviços de streaming. Segundo os investigadores, o esquema rendeu US$ 10 milhões a ele.

O golpe se dava da seguinte forma: o músico e outras duas pessoas, um CEO de uma empresa de música gerada por inteligência artificial e um promotor musical que ainda não tiveram suas identidades reveladas, teriam usado IA para gerar centenas de milhares de músicas. As canções - que mais se assemelhavam a ruídos de 1 à 3 minutos - eram colocadas nas plataformas e tocadas por contas de robôs. O dinheiro dos direitos autorais ia parar no bolso dos golpistas.

Segundo o FBI, esta é a primeira vez que as autoridades encontram um golpe em streamings envolvendo IA.

Smith será processado por fraude eletrônica, conspiração para fraude e conspiração para lavagem de dinheiro. A pena pode chegar a 20 anos de prisão para cada uma das três acusações.

Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, Smith começou a trabalhar no golpe por volta de 2018, com suas próprias canções. Logo ele percebeu que seriam necessárias toneladas de música para pulverizar o fluxo e não chamar a atenção.

Smith começou a gerar centenas de milhares de músicas usando apenas IA. As faixas tinham informações criadas de modo aleatório. Criou artistas falsos como “Calm Force”, “Calypso Xored” e “Camel Edible” e faixas artificiais como “Zygophyceae”, “Zymoplastic” e “Zyzomys”.

Além de gerar as canções, Smith criou as contas de robôs para tocar as canções nos serviços de streaming. Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, foram milhares de cadastros deste tipo, feitos com emails comprados. Alguns eram até mesmo assinantes de planos familiares dos serviços de streaming.

Estas contas ficavam conectadas em diferentes aparelhos e tentavam não tocar muitas vezes uma única música, simulando o comportamento de um usuário real, para evitar os mecanismos das plataformas contra reproduções artificiais.

De acordo com as investigações, em um email, o acusado calculou ser capaz de gerar 661.440 reproduções falsas por dia, o que renderia US$ 1.207.128 por ano em royalties.

A ideia, contudo, não é nova, já que a própria plataforma Spotify está sendo acusada, desde 2016, de criar artistas “falsos” para colocá-los em playlists populares em detrimento de artistas verdadeiros, consequentemente reduzindo e "embolsando" os gastos com pagamento de royalties.

A Justiça dos EUA afirma que os maiores prejudicados nisso são os artistas legítimos pois na hora de “dividir o bolo” dos royalties, eles acabam ficando com uma fatia menor do que já recebem, já que parte do dinheiro vai para o bolso dos golpistas.

Fonte:
https://www.musicbusinessworldwide.com/this-us-musician-allegedly-generated-10m-using-bots-to-rack-up-fake-streams-of-ai-songs-he-could-face-decades-in-prison-for-wire-fraud-and-money-laundering/
https://www.musicbusinessworldwide.com/spotify-is-creating-its-own-recordings-and-putting-them-on-playlists/
https://www.vulture.com/2017/07/streaming-music-cheat-codes.html
https://www.abramus.org.br/noticias/14424/sucesso-fake-musicos-fraudam-numeros-de-streaming-usando-robos-e-jaba-2-0/