Gravações do Inferno
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Gravações do Inferno
Depois de ter uma gravação do inferno ontem, lembrei de um artigo escrito pelo Dave Hungate, o primeiro baixista do Toto, e um "session player" de Nashville.
Gravações do Inferno
"Sessions from Hell"
Por David Hungate
Na maioria das vezes, ser músico de estúdio é um jeito maravilhoso e relativamente indolor de ganhar a vida. Entretanto, ocasionalmente vários fatores convergem para criar uma "Gravação do Inferno." Todo "rato" de estúdio poder contar algumas delas; aqui vai uma que aconteceu recentemente comigo.
O produtor era um jovem cantor que trabalhava debaixo da ilusão de que o talento como vocalista automaticamente qualifica alguém para produzir discos. (Esse é um tipo de lógica comparável a presumir que ter um cérebro qualifica alguém a realizar cirurgias no cérebro.) Estávamos fazendo uma gravação de bluegrass. Eu particularmente amo bluegrass, apesar de algumas pessoas da Cidade da Música (Nashville) acharem reprovável o fato de Bill Monroe não ser assexuado antes de entrar no que chamam de "primo pobre" da música Country. Claro, existe uma grande tradição e romance ligados ao bluegrass - uma volta aos bons tempos antes da eletricidade no campo, leis de direito civil, encanamento nas casas... dias nos quais os rapazes iam em reuniões familiares paquerar as garotas. Mas até os críticos ficam maravilhados com a capacidade de alguns artistas mais radicais do bluegrass em se levarem a sério. (Eu realmente gosto de bluegrass; alguns dos melhores músicos que conheço começaram tocando bluegrass.)
De volta à história: enlaçado pela insuportável afirmação do ego, característica de jovens e inexperientes, nosso produtor não confiava num time de músicos de estúdio veteranos para montar as próprias partituras de músicas de 3 acordes. Então, antes de tocarmos as músicas, nossas partes eram cantadas para nós, e ele nós pedia que cantássemos de volta para certificá-lo de que havíamos entendido! Talvez, se as partituras fossem brilhantes, poderíamos ter sido mais cooperativos, mas elas não eram e nós também não fomos - apesar da idéia de recebermos nossos cheques nos dar algum incentivo. Já tentou cantar uma parte de steel guitar? Eu me ofereci para salvá-lo de muito sofrimento e embaraço - e possivelmente evitar a revolta da tabela completa (ou até duas tabelas) - fazendo as partes de cada um incorporadas às idéias do produtor, mas isso foi interpretado como uma idéia maluca e imediatamente rejeitada.
Um problema de bastidores compunha esse projeto infernal: a gravadora havia insistido que músicos de estúdio fossem usados ao invés da banda do cantor. Portanto, o produtor não nos queria lá, e logo percebemos que tampouco queríamos estar lá, com o panorama do prazer da criatividade musical reduzido a zero. Felizmente, isto durou apenas alguns dias, sem nenhum efeito mais danoso, apenas algo como a queimação no estômago por causa de comer um burrito rançoso.
O finado, grande baterista Jeff Porcaro, era maravilhoso em situações como esta; de fato, alguns de nós procurava por Gravações do Inferno quando Jeff estava nelas. Ele reagia ao abuso dos músicos de maneiras dinâmicas e divertidas (como pôr fogo na bateria ou sair para "fazer um telefonema" e nunca mais voltar).
Portanto, como saber que está numa "Sessione del Diablo"? Aqui estão alguns sinais visíveis (com agradecimentos a Jeff Foxworthy pela inspiração):
Se o técnico de som se referir ao VU como "medidor padrão"...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o artista tocar acordeon, banjo, flauta de pan, ou qualquer instrumento que você não conheça ou sequer consiga pronunciar o nome...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o produtor disser que Deus disse a ele que você deve trabalhar por metade do cachê ...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o artista ou o produtor referir a si mesmo na terceira pessoa...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se existir mais de um produtor...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o produtor der instruções usando cores ("Me dê um som mais azul na parte C") ...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se houver uma coreógrafa na Técnica e o produtor estiver levando suas opiniões a sério...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se for 10hs da manhã e o artista, produtor, técnico, ou baterista, estiver bêbado, fumado, cheirado, ou no período pré-menstrual...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o baterista fizer sua própria partitura...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o artista estiver num dia ruim e quiser que a banda o acompanhe...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se a banda falar português e o produtor não...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o produtor interromper cada take dizendo "Corta!" no talkback...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se a coisa mais alta no fone de ouvido for a estação de rádio no fim da rua...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o artista for namorado ou namorada do produtor...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se, depois do 27o take, o técnico disser que conseguiu um bom som de bateria...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o guitarrista gravar em pé...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o produtor ouvir o playback na metade da velocidade para ter certeza de que o bumbo está junto com o metrônomo...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o produtor disser para a banda, "Se vocês não conseguirem tocar, tudo bem, tenho outros músicos na sala ao lado, morrendo de vontade de tocar" ...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o produtor entrou no negócio da gravação através de seus talentos como cabeleireiro do grupo... pode ser uma Gravação do Inferno.
Se a gravação estiver atrasada porque o produtor ou o artista ainda não voltou da sua consulta com o Dr. Nick ou Dr. Blizzinski...pode ser uma Gravação do Inferno.
Abraços a todos.
Natural do Missouri, David Hungate fez seu nome em L.A como músico de estúdio e como membro do Toto. Em 1980, mudou-se para Nashville, onde rapidamente tornou-se um dos baixistas de estúdio da primeira linha, e também tem tocado em muitas Gravações do Inferno.
Gravações do Inferno
"Sessions from Hell"
Por David Hungate
Na maioria das vezes, ser músico de estúdio é um jeito maravilhoso e relativamente indolor de ganhar a vida. Entretanto, ocasionalmente vários fatores convergem para criar uma "Gravação do Inferno." Todo "rato" de estúdio poder contar algumas delas; aqui vai uma que aconteceu recentemente comigo.
O produtor era um jovem cantor que trabalhava debaixo da ilusão de que o talento como vocalista automaticamente qualifica alguém para produzir discos. (Esse é um tipo de lógica comparável a presumir que ter um cérebro qualifica alguém a realizar cirurgias no cérebro.) Estávamos fazendo uma gravação de bluegrass. Eu particularmente amo bluegrass, apesar de algumas pessoas da Cidade da Música (Nashville) acharem reprovável o fato de Bill Monroe não ser assexuado antes de entrar no que chamam de "primo pobre" da música Country. Claro, existe uma grande tradição e romance ligados ao bluegrass - uma volta aos bons tempos antes da eletricidade no campo, leis de direito civil, encanamento nas casas... dias nos quais os rapazes iam em reuniões familiares paquerar as garotas. Mas até os críticos ficam maravilhados com a capacidade de alguns artistas mais radicais do bluegrass em se levarem a sério. (Eu realmente gosto de bluegrass; alguns dos melhores músicos que conheço começaram tocando bluegrass.)
De volta à história: enlaçado pela insuportável afirmação do ego, característica de jovens e inexperientes, nosso produtor não confiava num time de músicos de estúdio veteranos para montar as próprias partituras de músicas de 3 acordes. Então, antes de tocarmos as músicas, nossas partes eram cantadas para nós, e ele nós pedia que cantássemos de volta para certificá-lo de que havíamos entendido! Talvez, se as partituras fossem brilhantes, poderíamos ter sido mais cooperativos, mas elas não eram e nós também não fomos - apesar da idéia de recebermos nossos cheques nos dar algum incentivo. Já tentou cantar uma parte de steel guitar? Eu me ofereci para salvá-lo de muito sofrimento e embaraço - e possivelmente evitar a revolta da tabela completa (ou até duas tabelas) - fazendo as partes de cada um incorporadas às idéias do produtor, mas isso foi interpretado como uma idéia maluca e imediatamente rejeitada.
Um problema de bastidores compunha esse projeto infernal: a gravadora havia insistido que músicos de estúdio fossem usados ao invés da banda do cantor. Portanto, o produtor não nos queria lá, e logo percebemos que tampouco queríamos estar lá, com o panorama do prazer da criatividade musical reduzido a zero. Felizmente, isto durou apenas alguns dias, sem nenhum efeito mais danoso, apenas algo como a queimação no estômago por causa de comer um burrito rançoso.
O finado, grande baterista Jeff Porcaro, era maravilhoso em situações como esta; de fato, alguns de nós procurava por Gravações do Inferno quando Jeff estava nelas. Ele reagia ao abuso dos músicos de maneiras dinâmicas e divertidas (como pôr fogo na bateria ou sair para "fazer um telefonema" e nunca mais voltar).
Portanto, como saber que está numa "Sessione del Diablo"? Aqui estão alguns sinais visíveis (com agradecimentos a Jeff Foxworthy pela inspiração):
Se o técnico de som se referir ao VU como "medidor padrão"...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o artista tocar acordeon, banjo, flauta de pan, ou qualquer instrumento que você não conheça ou sequer consiga pronunciar o nome...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o produtor disser que Deus disse a ele que você deve trabalhar por metade do cachê ...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o artista ou o produtor referir a si mesmo na terceira pessoa...pode ser uma Gravação do Inferno.
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Se houver uma coreógrafa na Técnica e o produtor estiver levando suas opiniões a sério...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se for 10hs da manhã e o artista, produtor, técnico, ou baterista, estiver bêbado, fumado, cheirado, ou no período pré-menstrual...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o baterista fizer sua própria partitura...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o artista estiver num dia ruim e quiser que a banda o acompanhe...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se a banda falar português e o produtor não...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o produtor interromper cada take dizendo "Corta!" no talkback...pode ser uma Gravação do Inferno.
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Se, depois do 27o take, o técnico disser que conseguiu um bom som de bateria...pode ser uma Gravação do Inferno.
Se o guitarrista gravar em pé...pode ser uma Gravação do Inferno.
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Re: Gravações do Inferno
uHAHeuha... muito bom esse tópico...
Licas- Membro
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Localização : Floripa
Re: Gravações do Inferno
Muito bom!
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Re: Gravações do Inferno
Aê Claudião !!!
Te vi ontem no Ídolos !!! aquele arranjo q vcs fizeram pra Cássia ficou showzásso, parabéns !!!
Posta panóis aquele Glossário de estúdio q ta no blog !! É muito maneiro !
Abç
Te vi ontem no Ídolos !!! aquele arranjo q vcs fizeram pra Cássia ficou showzásso, parabéns !!!
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Abç
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Re: Gravações do Inferno
Show de bola!!!
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Renato- Membro
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Re: Gravações do Inferno
Guilé escreveu:Aê Claudião !!!
Te vi ontem no Ídolos !!! aquele arranjo q vcs fizeram pra Cássia ficou showzásso, parabéns !!!
Posta panóis aquele Glossário de estúdio q ta no blog !! É muito maneiro !
Abç
Fala Guilé!
Vou colocar as "traduções de estúdio" na área!
Cara, você sabe que foi a própria Cássia quem pediu aquele arranjo? Acabou ficando bem mais interessante do que o original, rsrsrsrsrs.
Abraço!
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Rdg Bass- Membro
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Re: Gravações do Inferno
Nossa !!! Eu ainda tenho pouquíssima experiência de gravação em estúdio...
Mas devem ter histórias incríveis e bizarras desse mundo musical.
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Re: Gravações do Inferno
hahahahahaha
muito bom!!!!!
muito bom!!!!!
Rafael_Esp- Membro
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Re: Gravações do Inferno
Histórias bizarras não faltam nos estúdios por aí, com certeza.
Uma delas: o músico que foi gravar piano, recebeu uma partitura cheia de notas. Deu uma olhada, disse que ia no banheiro e nunca mais voltou.
Uma delas: o músico que foi gravar piano, recebeu uma partitura cheia de notas. Deu uma olhada, disse que ia no banheiro e nunca mais voltou.
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Re: Gravações do Inferno
O Jamil Joanes contou altas historias estudio... Teve uma vez q ele foi gravar e ele não lia tão bem, recebeu a part do arranjo com as coisas tudo escritas, e 5 paginas de arranjo... o negocio é que tinha uma orquestra de sopro na gravina com uns 10 caras, e sempre tinha um q errava no meio e tinha que começar de novo, e nesse meio tempo ele foi lendo a part de 4 em 4 compassos mais ou menos sendo que quando o naipe conseguiu ler a parte deles direito ele ja tinha decorado a musica... no final da gravina o produtor ainda falou pro pessoal do sopro, se referindo a ele: "Isso sim é que é leitura a primeira vista!"
uhuehueh
uhuehueh
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http://musicainstrumentalbrasileira.wordpress.com
LuCaSbass- Membro
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Re: Gravações do Inferno
Tem muitas histórias boas sobre leitura.
Uma delas é um percussionista muito conhecido aqui em SP que gravou uma música lendo a partitura de outra, rsrsrsrsrs.
Obviamente, o produtor, muito sacana, colocou a música errada para mostrar que o cara não lia nada, mas o percussionista tinha uma antena parabólica. Pediu para passar uma vez, gravou na outra, refez uns trechos e tchau!
Uma delas é um percussionista muito conhecido aqui em SP que gravou uma música lendo a partitura de outra, rsrsrsrsrs.
Obviamente, o produtor, muito sacana, colocou a música errada para mostrar que o cara não lia nada, mas o percussionista tinha uma antena parabólica. Pediu para passar uma vez, gravou na outra, refez uns trechos e tchau!
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